domingo, 27 de setembro de 2009

Produção Descentralizada de Energia

Imagine se o mercado de energia funcionasse assim:
Você vai às Casas Bahia e compra um kit de energia solar ou eólica. Instala o dito cujo no telhado, seguindo o manual de instruções, pluga na tomada e, com o celular ou o computador, controla a produção de energia em casa. Quando seu gasto de energia for maior do que a produção, você recebe uma conta em casa. Mas, quando a produção superar o consumo, algo incrível acontece: chega um cheque pelo correio.
Não seria sensacional?
Seria, claro. Mas o jeito como os Estados Unidos estão incorporando energias limpas ao seu sistema é bem diferente disso. Por lá, eles estão substituindo carvão queimado por energia eólica e solar, o que é bom, mas de uma maneira que não muda a relação entre os produtores e os consumidores de energia. Você conhece o modelo: usinas gigantescas produzindo energia, postes monumentais transportando essa energia por milhares e milhares de quilômetros. Quem quiser pode instalar seu painel solar no telhado, mas o sonho de mandar essa energia para a rede e faturar uns trocadinhos com isso continua bem longe da realidade.
Uma reportagem bem interessante que a revista Fast Company publicou na sua edição de julho/agosto tenta entender por que é tão difícil mudar o jeito de pensar. A resposta a essa pergunta pode ser resumida numa palavra só: grana. Há muitos interesses milionários para evitar que o poder de produzir energia seja descentralizado. As empresas de energia, obviamente, não estão interessadas em ver seu mercado evaporar. E estão lobiando desesperadamente para evitar a mudança.
A revista chama o novo sistema de “microgrid”, em oposição ao tradicional “macrogrid”. A diferença entre os dois parece com a diferença entre a televisão (uma enorme infraestrutura de mão única levando informação do centro para as bordas) e a internet (uma teia gigantesca que não tem centro – todo mundo produz e consome ao mesmo tempo).

Produção centralizada de energia: essa não é a solução. Melhor seria um desses em cada telhado.
Assim como a internet deu origem a uma avalanche de empreendedorismo pelo mundo, a ponto de algumas das maiores empresas do planeta hoje terem nascido lá dentro, essa mudança poderia iniciar uma nova era de dinamismo no setor de energia. Qualquer um de nós poderia ajudar a resolver a crise de energia – e ganhar dinheiro com isso. Haveria um surto de inovação, com gente mundo afora tentando desenvolver cataventos e placas solares mais eficientes, novas fontes de energia e de transmissão. Hoje não há incentivo para inovações nesse sentido: numa indústria em que, quanto mais energia for desperdiçada, mais cara é sua conta, para que eles vão querer que você economize?
Mas, se há fortíssimos interesses contrários ao microgrid, começa a haver também interesses a favor. Duas empresas poderosas estão apostando na ideia: a GE e a IBM. A primeira quer fabricar kits de produção de energia, a segunda quer virar referência em sistemas digitais para gerenciar a compra e venda de energia. Isso é bom sinal. Nenhuma boa causa tem chance de virar realidade sem um aliado rico apostando nela.

Por Denis Russo Burgierman

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