quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Energias Renováveis: O exemplo vem de fora

Em todo o mundo, diversos países e regiões vêm identificando oportunidades e investindo, em maior ou menor grau, na produção de energia a partir de fontes alternativas. Conheça algumas das principais iniciativas:
América Latina: potencial para biocombustíveis
Um estudo publicado na Revista Brasileira de Política Internacional, de autoria de pesquisadores do Departamento de Administração da Universidade de Brasília (UnB), em fevereiro de 2009, aponta que a maior parte dos governos latino-americanos está buscando criar infra-estrutura regulatória e financeira para desenvolver a indústria dos biocombustíveis na região. Na liderança, o governo brasileiro tem firmado parcerias de transferência de tecnologia e cooperação na produção e comercialização de biocombustíveis com países do bloco.
Entretanto, segundo a avaliação do físico do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo (USP) e especialista em energia, José Goldemberg, o Brasil não está obtendo sucesso em disseminar sua tecnologia mesmo na região sobre a qual tem mais influência. “A Venezuela continua petrolífera, o Peru também e até mesmo o Chile não adotou o etanol em sua matriz energética”, avalia.
Goldemberg acrescenta ainda que o continente tem vastos recursos energéticos, mas eles não estão distribuídos de maneira uniforme. Para seu melhor aproveitamento e segurança, seria importante a aplicação de políticas que impulsionem os projetos de integração regional. “É preciso que a região diversifique sua matriz e desenvolva estratégias que promovam políticas sustentáveis e que garantam a segurança energética”, complementa.
Segundo o estudo da UnB, a Colômbia, por exemplo, já enxerga a necessidade de diversificação do consumo de energia e da produção agrária, junto com a possibilidade de criação de novos empregos no campo, com a substituição das plantações de coca. Isso tem impulsionado o país a investir no setor de biocombustíveis. A Argentina, muito dependente de combustíveis fósseis, também procura diversificar sua matriz energética e tanto o setor privado como o público têm investido em pesquisas para obtenção de tecnologias e em incentivos na produção agrícola e na de combustíveis mistos.
Já a Venezuela, que é grande produtora de petróleo, também possui potencial para ser um significativo produtor de biocombustíveis devido ao seu clima, tamanho, topografia e quantidade de terras cultiváveis. No entanto, como ainda não há uma política oficial do governo para o setor e a indústria de cana-de-açúcar não possui estrutura suficiente para abastecer os mercados alimentício e energético, o país parece permanecer como importador de etanol por mais alguns anos.
Para a coordenadora da organização ambientalista Amigos da Terra Brasil, Lucia Ortiz, é necessário fazer um alerta em relação ao uso dos biocombustíveis na América Latina: “Este movimento global sobre o campo e a agricultura para atender a demanda internacional de energia vem constituindo uma ofensiva sobre as terras agriculturáveis tropicais, cujos impactos nos países da América Latina, e no Brasil em particular, indicam que a associação agronegócio e biocombustíveis intensifica o modelo de agricultura industrial e dos transgênicos sobre a biodiversidade, afetando dramaticamente populações locais e terras indígenas”, critica a ambientalista.

Europa e África


Noruega: do bom uso do petróleo à energia hidráulica
Como exemplo de estratégias avançadas para diminuição da dependência do petróleo, redução das emissões e uso de energias alternativas, o professor da Faculdade de Agronomia da Universidade de Brasília (UnB) e doutor em economia aplicada à energia, Juan Verdésio, destaca a Noruega. O país possui aproximadamente 50% das reservas de petróleo e gás ainda existentes na Europa Ocidental, sendo o quinto produtor mundial desse tipo de energia.
Verdésio destaca que apesar dessa posição, a Noruega está igualmente empenhada em aumentar a sua produção de energia por meio de fontes renováveis. O país é o sexto produtor de energia hídrica no mundo e está em plena expansão da energia eólica costeira. “O governo se comprometeu a reduzir o equivalente a 100% de suas emissões de gases de efeito estufa até 2050, para tornar-se assim um país carbono zero”, destaca.
Os noruegueses já produzem quantidade importante de energia renovável através das suas centrais hídricas de larga escala. Mas, o potencial de vento e ondas ao longo da sua costa é igualmente importante. “A Noruega é o país que tem condição natural especial. É uma montanha com uma geleira gigantesca em cima. É só fazer um furinho em baixo dessa geleira e montar uma usina hidrelétrica em baixo para ter energia sobrando. Além disso, o governo está investindo em biodigestores a partir do esterco do gado”.
Reino Unido: um plano ambicioso
Em julho de 2009, o governo britânico lançou seu Plano de Transição para uma Economia de Baixo Carbono, que detalha a estratégia do país para transformações em sua matriz energética e, conseqüentemente, para alcançar as metas de redução de emissões estabelecidas pela Lei de Mudanças Climáticas aprovada em 2008. O documento representa um avanço importante, mas cabe ressaltar que o Reino Unido já apresenta uma redução de 21% de suas emissões, em relação a 1990 – quase o dobro do que foi acordado em Quioto.
Vale destacar que 3/4 da eletricidade do Reino Unido é proveniente do carvão e do petróleo, sendo o setor de energia e indústria pesada responsável por 35% das emissões. De acordo com as metas do plano, até 2050 praticamente toda a energia do país terá origem em fontes renováveis, nucleares ou de combustíveis fósseis que tenham suas emissões capturadas e armazenadas com segurança. Até 2020, estima-se um aumento de 30% na participação de fontes energéticas renováveis.
Para atingir essa meta, foi lançada a Divisão para o Emprego de Energia Renovável. “O plano para 2020 irá assegurar novas fontes de energia e reduzir as emissões conjuntas da indústria pesada e do setor energético em 22% em relação aos níveis de 2008 – mais da metade da economia necessária para alcançarmos os orçamentos de carbono, de forma que até 2020 aproximadamente 40% da nossa eletricidade virá de fontes de baixo carbono”, disse o ministro de Energia Ed Miliband, na ocasião do lançamento do plano.
O governo britânico prevê lançar um novo plano de transição para economia de baixo carbono para o período de 2020 a 2050.
Dinamarca: aposta na força dos ventos
O país que vai abrigar a Conferência das Nações Unidas sobre o Clima em dezembro de 2009 é um dos exemplos de boas práticas rumo ao uso das energias renováveis. Apesar do petróleo e do gás serem seus principais recursos energéticos, a Dinamarca vem apostando na força dos ventos há décadas e a idéia é ampliar os investimentos, até mesmo por uma questão de sobrevivência: atualmente, a produção de petróleo e gás é suficiente para atender a demanda interna e gerar um superávit tornando o país o terceiro maior exportador europeu de petróleo, após a Noruega e o Reino Unido. Porém, segundo a agencia de energia do país, a Danish Energy Agency, a auto-suficiência em petróleo deverá acabar em 2016.
Cerca de 22% da energia utilizada na Dinamarca é proveniente de energia eólica – a maior proporção mundial. O país conta inclusive com instalação de turbinas em alto mar. O objetivo do governo é alcançar a proporção de 50% de energia eólica em 2025.
Um ponto positivo e que garante competitividade é o baixo custo da energia dos ventos: sua geração custa 5,5 centavos de euro por quilowatt/hora, quase a metade do custo conseguido por países como Espanha e Alemanha, grandes investidores nesse tipo de energia. O faturamento anual do setor é de 4,4 bilhões de dólares.
O país também produz energia pela queima de restos de madeira e palha, além de investir em fontes geotérmicas (aquelas que geram energia a partir do calor proveniente do interior da Terra) e não construiu usinas nucleares devido a proibição legal.


Alemanha: liderança solar
Quase metade de toda energia solar produzida no mundo está na Alemanha, país que possui quatro das oito maiores empresas do setor, como a Siemens e a Enercon, sendo que os alemães detêm 30% do mercado mundial de tecnologia para exploração de fontes renováveis. Os dados constam no Estudo Exame sobre Energia, publicado em setembro de 2008.
Em 1991, foi promulgada uma lei para reduzir a dependência alemã de combustíveis fósseis. A norma deu grande impulso para a indústria de energia eólica, mas o grande destaque para a energia limpa começou em 2000, após a aprovação da Lei das fontes Renováveis de Energia, a Erneuenbare Energien Gesetz (EEG). Pela EEG, todo cidadão tem direito a montar uma pequena central de energia de fontes renováveis e as operadoras da rede elétrica do país são obrigadas a comprar o que for produzido, pagando tarifas preestabelecidas, que valem por 20 anos.
De acordo com o presidente do Instituto para o desenvolvimento de Energias Renováveis da América Latina, Mauro Passos, o exemplo que o governo alemão vem dando ao mundo é fruto da opção política acertada para o fomento de fontes energéticas alternativas. “A vontade política é fundamental para que um país lidere a corrida pelas energias renováveis. Há pelo menos 20 anos a Alemanha vem aprimorando sua legislação para incentivar a produção de energia limpa. Além da energia solar, também a eólica e o biodiesel, produzido a partir da canola, vêm ganhando espaço”, explica Mauro Passos.
Entre 2000 e 2007, o país aumentou sua capacidade de produção de biodiesel de 265 mil para 4,5 milhões de toneladas. Até final de 2008, do total de combustível usado nos carros alemães, 6,9% eram considerados limpos. Apesar desses avanços, é importante registrar o corte nos benefícios dados pelo governo aos produtores e a cobrança de imposto sobre o biodiesel. A medida foi criada para que não se perdesse a arrecadação com combustíveis fósseis.
Estados Unidos se movimentam
Os Estados Unidos consomem 25% da energia mundial e passou em muito da hora de mostrar ao mundo atitudes mais pro-ativas na agenda climática. O governo americano, sob a administração de Barack Obama, deu fôlego para o setor de energia limpa. Em junho de 2009, a primeira lei climática do país foi aprovada pela Câmara de Representantes do Congresso dos Estados Unidos. A legislação estabelece como meta reduzir em 17% as emissões norte-americanas de gases de efeito estufa até 2020, com base em 2005, e de 83% até 2050. Exige das empresas geradoras de energia que 20% da matriz seja renovável até 2020.
Rumo a economia menos carbono intensiva, a lei define investimentos da ordem de US$ 190 bilhões em tecnologias limpas e energias renováveis, captura e seqüestro de carbono, veículos elétricos e pesquisa científica que chegam a US$ 190 bilhões, além de novos padrões de economia de energia para eletrodomésticos e edifícios, que deverão ser 30% mais eficientes até 2012 e 50% até 2016.
Em julho de 2009, os EUA firmaram acordo com a China para construir veículos e edifícios mais eficientes. Inicialmente, os dois países vão investir 15 milhões de dólares no projeto que inclui ainda a investigação de novas tecnologias para reduzir e sequestrar as emissões de dióxido de carbono das centrais a carvão. 2009 também marca a entrada dos EUA na Agencia Internacional de Energia Renovável, mostrando um compromisso maior para a transição para uma economia de baixo carbono.
Já o calcanhar de Aquiles do país está na área de biocombustíveis. O etanol produzido a partir do milho vem sendo a aposta americana. Porém, essa não é considerada uma solução ambientalmente correta para os problemas energéticos do país. Afinal, para sua produção as usinas usam gás e carvão, além das grandes chances de comprometer produção mundial de alimentos. Se não bastasse, o lucro energético do etanol, produzido no Brasil, por exemplo, é oito vezes superior ao etanol americano.


África:
investimento na força eólica
Até agora, somente países do norte africano como Marrocos e Egito utilizam energia eólica para fim comercial em qualquer escala no continente. Contudo, os projetos começam a surgir no sul do Saara. A Etiópia já financia um projeto com capacidade de 120MW na região de Tigray, que fornecerá 15% da capacidade energética do país e a Tanzânia anunciou planos de gerar ao menos 100MW com dois projetos na região central de Singida, o qual fornecerá mais de 10% do suprimento nacional. A África do Sul, que tem sua matriz energética fortemente dependente do carvão, se tornou, em março de 2009, o primeiro país africano a anunciar a venda de excedente de energia de pequenos produtores para a rede elétrica.
De acordo com reportagem do site Carbono Brasil do dia 06/08/2009, o Quênia poderá ter a maior usina eólica da África. Ao todo 353 turbinas eólicas gigantes irão incrementar em e 25% à matriz energética do país. O projeto no Lago de Turkana, conduzido por um consórcio holandês, custará cerca de US$ 900 milhões e será finalizado em 2012. Com uma média de ventos de 11 metros por segundo, o consorcio Lake Turkana Wind Power (LTWP) diz que este é um dos melhores lugares do mundo para produzir energia eólica. A empresa estima que o potencial do local é de 2.700MW.
Além da energia eólica, o governo irá investir em projetos geotérmicos, biocombustíveis, queima de resíduos sólidos e em usinas de carvão para chegar a este número em junho de 2012. Para financiá-los, o governo do Quênia irá buscar parcerias com o setor privado, o que deve reduzir ainda mais o tempo para construí-las.
A Província da Patagônia, na localidade de Pico Truncado, deverá abrigar um projeto de parque eólico que pode colocar a Argentina na liderança latino-americana em produção de energia por fonte renovável. Liderado pela empresa espanhola Guascor e orçado em 1.700 milhões de Euros, o parque será instalado na região do país conhecida pelos fortes ventos. O diretor da Guascor, José Grajales, declarou à imprensa que com 700 motores eólicos espalhados em uma área de 6.500 hectares, o empreendimento terá uma capacidade entre 600 e 900 Mega Watts.

Fonte: mudançasclimáticas.org

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