quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Mudança no conceito de floresta pode ajudar REDD

Estudo apresentado por Nophea Sasakie, da Universidade de Harvard, e Francis E. Putz, da Universidade da Flórida, afirma que se os conceitos de “floresta” e “floresta degradada” internacionalmente aceitos desde a reunião de 2001 do Quadro das Nações Unidas para Mudança do Clima forem mantidos, enormes quantidades de carbono e outros serviços ambientais serão perdidos. Enquanto isso, florestas naturais serão severamente degradadas ou substituídas por plantações, mas ainda serão reconhecidas como “florestas”.
Os padrões de 2001 entendem que um ecossistema pode ser chamado de floresta quando possui cobertura vegetal de ao menos 30% de sua área, e com árvores variando de dois a cinco metros de altura. Na proposta dos pesquisadores norte-americanos, florestas seriam diferenciadas de pastagens, com um mínimo de cobertura de 40%. Eles crêem que essa mudança contribui na diminuição da emissão dos gases de efeito estufa pelo que hoje em dia é conhecido como “degradação florestal”.
Somente essa pequena mudança já conceitual já promoveria a mudança de degradação para gerenciamento florestal responsável, que ajudaria na mitigação no aquecimento global enquanto protege a biodiversidade e contribui para o desenvolvimento sustentável. O mecanismo de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação (REDD) é atrativo para os autores do estudo, pois reconhece o valor das florestas e porque os custos associados para quem for desenvolvê-lo são baixos.
Se a idéia de degradação florestal estiver desregrada durante a implementação do REDD, as florestas podem perder muito de seu carbono. E essas perdas não serão computadas porque as áreas exploradas continuarão a ser consideradas florestas. “O segundo “D” da sigla REDD é injustificado. Incluir a degradação florestal no novo acordo de mudanças climáticas ajudará a assegurar a sustentabilidade dos ecossistemas e proteger o estilo de vida das populações dependentes da floresta, criando uma opção de baixo custo para a redução das emissões de carbono”, diz o estudo.
Para Virgílio Viana, presidente da Fundação Amazonas Sustentável, o principal debate posto é de que maneira se pode financiar o REDD. Ele defende uma posição mista, que considere instrumentos de marcado e financiamentos governamentais. Sobre a necessidade de mudança no conceito de florestas ele diz: “Definição de florestas é complicado. Não entro nesse mérito, mas sim no mérito da forma de inserção do REDD dentro das negociações de contensão. Uma das conclusões é que o REDD tem metodologia suficientemente robusta para se completar o cálculo de carbono”.
Ane Alencar, pesquisadora do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) entende que o conceito de floresta é bastante claro para todos. “Degradação é mais ambíguo. Por exemplo, a extração seletiva de madeira, dependendo de como for feita, pode gerar um processo de degradação, mas também pode ser sustentável. O REDD está há muito tempo fechado numa discussão de floresta que pressupõe uma biomassa mais densa. Não sei como seria estendido para outros sistemas que naturalmente queimam muito, como cerrado, savanas. Fica difícil, a expansão natural disso é que o REDD não fosse só para desmatamento de florestas tropicais, mas sim biomas vegetais”.
Segundo a pesquisadora, ao mesmo tempo em que estamos tentando caminhar na construção de uma agenda política de implementação de mecanismos, também tem outra série de lacunas técnicas critérios importantes. “Devemos apoiar a criação de um mecanismo que incentive a redução de emissões por desmatamento em áreas tropicais, definindo critérios gerais e também internos, para cada país”, completa.



O REDD (Reduce Emissions for Deforestation and Degradation) – Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação é um mecanismo usado para conter duas práticas que emitem grandes quantidades de GEE – gases causadores de efeito estufa no país: o desmatamento e a degradação florestal. Segundo estimativas, apenas as ações de desmatamento representam quase a metade das emissões brasileiras de GEE.
A idéia é criar valores econômicos para a floresta em pé, ou para o desmatamento evitado, como tem sido chamado. Como outros mercados, um poluidor poderá compensar suas emissões comprando créditos de quem ainda tem o que conservar. Por outro lado, se um dono de floresta mantiver sua mata em pé será compensado financeiramente.

REDD pode vir a ser uma alternativa rentável para reduzir o desmatamento. Pode tornar-se uma versão do “ Mercado Justo” em MDL, que negocia qualquer tipo de seqüestro de carbono, seja por monocultura como o de eucalipto, por exemplo. Diferentemente, REDD propõe evitar queimadas e, ao manter as florestas, assegurar os serviços ambientais que estas oferecem. Representa, assim, um “investimento do bem”, ao proteger de maneira integral o patrimônio natural da Terra. REDD é, portanto, um mecanismo criado para evitar a emissão de carbono. Pertence, assim, à Convenção do Clima e não à da Biodiversidade, apesar de ser pertinente a ambas. Na verdade, pode vir a representar um dos mais promissores caminhos para a proteção da biodiversidade. A versão REDD da ONU pode levar de cinco a dez anos para se consolidar. Mas, a estimativa é que os mercados norte-americanos serão mais rápidos, podendo iniciar transações de três a cinco anos. Todavia, é importante chamar a atenção para o fato do mercado mundial voluntário já ter começado. A Noruega, por exemplo, criou um fundo, doando 500 milhões de dólares/ano para ser investido no desmatamento evitado. O Brasil tem se posicionado contra o desmatamento evitado ou a criação de um mercado, temendo riscos à soberania nacional. Prefere acreditar na possibilidade de um fundo que permita ao governo proteger melhor nossas florestas. Mesmo acreditando que muitos seriam capazes de atitudes nobres basicamente pelo princípio ético que essas doações representem, permanecer nesta postura nos coloca com chapéu na mão, pedindo esmola voluntária de quem quiser doar.

União Europeia escolherá 30 cidades para projeto de energia “inteligente”



A Europa vai selecionar 30 cidades para serem precursoras de redes elétricas "inteligentes" e de isolantes testados no espaço na tentativa de liderar a corrida global pela tecnologia verde, revelou um documento preliminar da União Europeia. O setor de energia eólica deve se distanciar da costa e tentar fornecer um quinto da eletricidade da UE até 2020 - antes das metas industriais -, afirmou o rascunho do aguardado Plano Estratégico para as Tecnologias Energéticas, da Comissão Europeia.
O chamado Plano SET delineia a estratégia da UE para incentivar soluções de alta tecnologia para a mudança climática a fim de dar às empresas europeias uma vantagem competitiva enquanto o mundo adota a energia de baixo carbono. Bilhões de euros terão de ser investidos em pesquisa para evitar uma defasagem em relação aos Estados Unidos, que vão destinar 777 milhões de dólares para a pesquisa em energia, diz o documento, obtido pela Reuters antes da divulgação do plano no mês que vem. "A pesquisa básica na UE tem uma carência crônica de recursos," afirma o relatório. "Precisamos estimular e incentivar nossos melhores cérebros a ampliar as fronteiras da ciência." O projeto prevê entre 25 e 30 "cidades inteligentes" - municípios que coletam energia a partir do lixo, do sol e do vento e a utiliza em carros elétricos, bondes e ônibus. "Essas Cidades Inteligentes serão os núcleos a partir dos quais as redes inteligentes, uma nova geração de prédios e meios de transporte alternativos, vão se desenvolver em extensas realidades europeias," acrescenta o documento. Autoridades da UE ainda calculam a necessidade exata de financiamento e como isso será dividido entre os recursos públicos e as indústrias.
REAÇÕES MISTAS
Os ambientalistas deram ao plano uma recepção mista, afirmando que ele deveria ter eliminado por completo as energias a carvão e nuclear. A indústria da energia geotérmica afirmou que o setor fornece o complemento perfeito à instabilidade das energias eólica e solar e manifestou descontentamento por ter sido ignorada. "Uma energia renovável não pode ser alcançada no futuro sem a energia geotérmica," disse o Conselho Europeu de Energia Geotérmica. O incremento da eficiência energética estará no topo da agenda, e é uma área com a qual a Agência Espacial Europeia deverá contribuir. "Isso pode ser alcançado com a transferência de materiais avançados de isolamento e sistemas de energia ultraeficientes para o setor de energia terrestre," disse o relatório. Usinas a carvão serão pressionadas para armazenar e enterrar as suas emissões de dióxido de carbono e a indústria nuclear será exortada a mudar para uma nova geração de reatores - o chamado reator de geração IV. "Esses reatores serão capazes de explorar todo o potencial energético do urânio, ampliando em muito a disponibilidade de recursos," disse o relatório.

Pete Harrison, Reuters / Bruxelas

Pré-sal deve (deveria) financiar energia sustentável

Concordo com o título, mas não com texto na íntegra. Esta leitura serve para refletirmos sobre diversos pontos de vista, ou ideologias, sobre o temas: Pré-sal, recursos e energias renováveis.Recursos da camada pré-sal deveriam financiar pesquisa por fontes alternativas e sustentáveis, dizem movimentos sociais e sindical. A revisão do papel da Petrobrás na América Latina também é tema do sexto programa da série especial.
Buscar novas fontes energéticas para preservar o meio ambiente, respeitar as comunidades rurais impactadas pelas atividades de extração do petróleo, além de repensar o papel imperialista que a Petrobras cumpre nos países vizinhos estão entre os temas levantados pela campanha “O petróleo tem que ser nosso”.
A matriz energética baseada na queima de combustíveis fósseis causa um grave impacto no planeta. É o caso das fontes não renováveis, como o petróleo, gás e carvão. Desde 2007, 2,5 mil cientistas de quase 200 países avaliam que, devido à emissão de gás carbônico na atmosfera, a temperatura do planeta terra aumentou em quase um grau. As consequências são graves: até 2030, seriam necessários dois planetas terra para suportar a poluição decorrente da queima, principalmente dos hidrocarbonetos. No atual ritmo de destruição da Amazônia, a temperatura na região pode subir seis graus até 2070.
Por conta disso, na definição do integrante da central Intersindical, Anderson Mancuso, estamos em uma corrida contra o relógio. Para ele, é importante, entre as bandeiras da campanha, o desenvolvimento de fontes energéticas renováveis.
“Porque ela [a bandeira] aumenta o objetivo da luta. Além de assegurar o controle social da produção do petróleo pela população, ela engloba aspectos que envolvem diretamente a continuidade da vida da humanidade no planeta. Isso passa necessariamente pela busca de novas alternativas energéticas limpas e seguras que vão além do petróleo. Nisso entraria outras matrizes, como a eólica e a solar, que até estão sendo boicotadas.”
De acordo com especialistas, o petróleo ainda permanece como a mais importante base energética do planeta, responsável por metade da energia queimada, quadro que deve se estender por mais 30 anos. De olho nas gerações futuras, desde já as organizações sociais defendem que os recursos do petróleo da camada pré-sal sejam investidos em novas matrizes. São exemplos disso a energia solar, a energia que vem dos ventos, dos mares e a energia a partir dos alimentos. Esta última, porém, deve ser gerada em cultivos sob controle dos pequenos agricultores, atendendo à sua necessidade.
Neste sentido, na leitura do integrante do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Joceli Andrioli, o atual modelo de produção de energia deve ser modificado, pois, atualmente, favorece aos interesses privados e não à necessidade do povo. No caso da energia elétrica, no Brasil, 665 grandes empresas consomem 30% da energia produzida.
“O modelo energético está totalmente voltado às formas que destroem o meio ambiente e que garantem uma lógica da exploração do trabalho e das pessoas. A riqueza não é distribuída, fica concentrada nas mãos das empresas privadas e de alguns centros econômicos. Achamos que deve haver uma mudança do modelo social. Na medida em que tiver um novo princípio de organizar a vida humana, haverá também técnicas mais justas ambientalmente a serviço do ser humano.”
A campanha “O Petróleo tem que ser nosso” lança um olhar crítico sobre o papel que a empresa Petrobras tem desempenhado em outros países do mundo, considerado o de uma empresa transnacional. Na Bolívia, a Petrobras explora o último recurso do país – que já teve recursos como o estanho e o cobre praticamente roubados. A empresa brasileira é responsável por 15% do Produto Interno Bruto (PIB) dos bolivianos. No Equador, no Paraguai e em 27 países, esta triste história se repete.
Na avaliação de Andrioli, a ótica da campanha e do movimento popular é outra.
“Nós sabemos que a Petrobras assume um papel imperialista na America Latina e tem uma postura de empresa privada que busca lucro acima de tudo. Essa forma destrói o meio ambiente, causa exploração dos trabalhadores e prejudica a soberania dos países. Temos que ter uma empresa sob o controle dos trabalhadores, popular e que esteja a serviço da causa popular. Para termos essa empresa, temos que quebrar essa postura de multinacional exploradora de recursos e das populações.”
A única forma de manter os bens naturais é planejar a indústria pensando no bem-estar do povo e na soberania do país, avalia o Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB).

Apóio:


e investimento em P&D e Inovação.

Energias Renováveis: O exemplo vem de fora

Em todo o mundo, diversos países e regiões vêm identificando oportunidades e investindo, em maior ou menor grau, na produção de energia a partir de fontes alternativas. Conheça algumas das principais iniciativas:
América Latina: potencial para biocombustíveis
Um estudo publicado na Revista Brasileira de Política Internacional, de autoria de pesquisadores do Departamento de Administração da Universidade de Brasília (UnB), em fevereiro de 2009, aponta que a maior parte dos governos latino-americanos está buscando criar infra-estrutura regulatória e financeira para desenvolver a indústria dos biocombustíveis na região. Na liderança, o governo brasileiro tem firmado parcerias de transferência de tecnologia e cooperação na produção e comercialização de biocombustíveis com países do bloco.
Entretanto, segundo a avaliação do físico do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo (USP) e especialista em energia, José Goldemberg, o Brasil não está obtendo sucesso em disseminar sua tecnologia mesmo na região sobre a qual tem mais influência. “A Venezuela continua petrolífera, o Peru também e até mesmo o Chile não adotou o etanol em sua matriz energética”, avalia.
Goldemberg acrescenta ainda que o continente tem vastos recursos energéticos, mas eles não estão distribuídos de maneira uniforme. Para seu melhor aproveitamento e segurança, seria importante a aplicação de políticas que impulsionem os projetos de integração regional. “É preciso que a região diversifique sua matriz e desenvolva estratégias que promovam políticas sustentáveis e que garantam a segurança energética”, complementa.
Segundo o estudo da UnB, a Colômbia, por exemplo, já enxerga a necessidade de diversificação do consumo de energia e da produção agrária, junto com a possibilidade de criação de novos empregos no campo, com a substituição das plantações de coca. Isso tem impulsionado o país a investir no setor de biocombustíveis. A Argentina, muito dependente de combustíveis fósseis, também procura diversificar sua matriz energética e tanto o setor privado como o público têm investido em pesquisas para obtenção de tecnologias e em incentivos na produção agrícola e na de combustíveis mistos.
Já a Venezuela, que é grande produtora de petróleo, também possui potencial para ser um significativo produtor de biocombustíveis devido ao seu clima, tamanho, topografia e quantidade de terras cultiváveis. No entanto, como ainda não há uma política oficial do governo para o setor e a indústria de cana-de-açúcar não possui estrutura suficiente para abastecer os mercados alimentício e energético, o país parece permanecer como importador de etanol por mais alguns anos.
Para a coordenadora da organização ambientalista Amigos da Terra Brasil, Lucia Ortiz, é necessário fazer um alerta em relação ao uso dos biocombustíveis na América Latina: “Este movimento global sobre o campo e a agricultura para atender a demanda internacional de energia vem constituindo uma ofensiva sobre as terras agriculturáveis tropicais, cujos impactos nos países da América Latina, e no Brasil em particular, indicam que a associação agronegócio e biocombustíveis intensifica o modelo de agricultura industrial e dos transgênicos sobre a biodiversidade, afetando dramaticamente populações locais e terras indígenas”, critica a ambientalista.

Europa e África


Noruega: do bom uso do petróleo à energia hidráulica
Como exemplo de estratégias avançadas para diminuição da dependência do petróleo, redução das emissões e uso de energias alternativas, o professor da Faculdade de Agronomia da Universidade de Brasília (UnB) e doutor em economia aplicada à energia, Juan Verdésio, destaca a Noruega. O país possui aproximadamente 50% das reservas de petróleo e gás ainda existentes na Europa Ocidental, sendo o quinto produtor mundial desse tipo de energia.
Verdésio destaca que apesar dessa posição, a Noruega está igualmente empenhada em aumentar a sua produção de energia por meio de fontes renováveis. O país é o sexto produtor de energia hídrica no mundo e está em plena expansão da energia eólica costeira. “O governo se comprometeu a reduzir o equivalente a 100% de suas emissões de gases de efeito estufa até 2050, para tornar-se assim um país carbono zero”, destaca.
Os noruegueses já produzem quantidade importante de energia renovável através das suas centrais hídricas de larga escala. Mas, o potencial de vento e ondas ao longo da sua costa é igualmente importante. “A Noruega é o país que tem condição natural especial. É uma montanha com uma geleira gigantesca em cima. É só fazer um furinho em baixo dessa geleira e montar uma usina hidrelétrica em baixo para ter energia sobrando. Além disso, o governo está investindo em biodigestores a partir do esterco do gado”.
Reino Unido: um plano ambicioso
Em julho de 2009, o governo britânico lançou seu Plano de Transição para uma Economia de Baixo Carbono, que detalha a estratégia do país para transformações em sua matriz energética e, conseqüentemente, para alcançar as metas de redução de emissões estabelecidas pela Lei de Mudanças Climáticas aprovada em 2008. O documento representa um avanço importante, mas cabe ressaltar que o Reino Unido já apresenta uma redução de 21% de suas emissões, em relação a 1990 – quase o dobro do que foi acordado em Quioto.
Vale destacar que 3/4 da eletricidade do Reino Unido é proveniente do carvão e do petróleo, sendo o setor de energia e indústria pesada responsável por 35% das emissões. De acordo com as metas do plano, até 2050 praticamente toda a energia do país terá origem em fontes renováveis, nucleares ou de combustíveis fósseis que tenham suas emissões capturadas e armazenadas com segurança. Até 2020, estima-se um aumento de 30% na participação de fontes energéticas renováveis.
Para atingir essa meta, foi lançada a Divisão para o Emprego de Energia Renovável. “O plano para 2020 irá assegurar novas fontes de energia e reduzir as emissões conjuntas da indústria pesada e do setor energético em 22% em relação aos níveis de 2008 – mais da metade da economia necessária para alcançarmos os orçamentos de carbono, de forma que até 2020 aproximadamente 40% da nossa eletricidade virá de fontes de baixo carbono”, disse o ministro de Energia Ed Miliband, na ocasião do lançamento do plano.
O governo britânico prevê lançar um novo plano de transição para economia de baixo carbono para o período de 2020 a 2050.
Dinamarca: aposta na força dos ventos
O país que vai abrigar a Conferência das Nações Unidas sobre o Clima em dezembro de 2009 é um dos exemplos de boas práticas rumo ao uso das energias renováveis. Apesar do petróleo e do gás serem seus principais recursos energéticos, a Dinamarca vem apostando na força dos ventos há décadas e a idéia é ampliar os investimentos, até mesmo por uma questão de sobrevivência: atualmente, a produção de petróleo e gás é suficiente para atender a demanda interna e gerar um superávit tornando o país o terceiro maior exportador europeu de petróleo, após a Noruega e o Reino Unido. Porém, segundo a agencia de energia do país, a Danish Energy Agency, a auto-suficiência em petróleo deverá acabar em 2016.
Cerca de 22% da energia utilizada na Dinamarca é proveniente de energia eólica – a maior proporção mundial. O país conta inclusive com instalação de turbinas em alto mar. O objetivo do governo é alcançar a proporção de 50% de energia eólica em 2025.
Um ponto positivo e que garante competitividade é o baixo custo da energia dos ventos: sua geração custa 5,5 centavos de euro por quilowatt/hora, quase a metade do custo conseguido por países como Espanha e Alemanha, grandes investidores nesse tipo de energia. O faturamento anual do setor é de 4,4 bilhões de dólares.
O país também produz energia pela queima de restos de madeira e palha, além de investir em fontes geotérmicas (aquelas que geram energia a partir do calor proveniente do interior da Terra) e não construiu usinas nucleares devido a proibição legal.


Alemanha: liderança solar
Quase metade de toda energia solar produzida no mundo está na Alemanha, país que possui quatro das oito maiores empresas do setor, como a Siemens e a Enercon, sendo que os alemães detêm 30% do mercado mundial de tecnologia para exploração de fontes renováveis. Os dados constam no Estudo Exame sobre Energia, publicado em setembro de 2008.
Em 1991, foi promulgada uma lei para reduzir a dependência alemã de combustíveis fósseis. A norma deu grande impulso para a indústria de energia eólica, mas o grande destaque para a energia limpa começou em 2000, após a aprovação da Lei das fontes Renováveis de Energia, a Erneuenbare Energien Gesetz (EEG). Pela EEG, todo cidadão tem direito a montar uma pequena central de energia de fontes renováveis e as operadoras da rede elétrica do país são obrigadas a comprar o que for produzido, pagando tarifas preestabelecidas, que valem por 20 anos.
De acordo com o presidente do Instituto para o desenvolvimento de Energias Renováveis da América Latina, Mauro Passos, o exemplo que o governo alemão vem dando ao mundo é fruto da opção política acertada para o fomento de fontes energéticas alternativas. “A vontade política é fundamental para que um país lidere a corrida pelas energias renováveis. Há pelo menos 20 anos a Alemanha vem aprimorando sua legislação para incentivar a produção de energia limpa. Além da energia solar, também a eólica e o biodiesel, produzido a partir da canola, vêm ganhando espaço”, explica Mauro Passos.
Entre 2000 e 2007, o país aumentou sua capacidade de produção de biodiesel de 265 mil para 4,5 milhões de toneladas. Até final de 2008, do total de combustível usado nos carros alemães, 6,9% eram considerados limpos. Apesar desses avanços, é importante registrar o corte nos benefícios dados pelo governo aos produtores e a cobrança de imposto sobre o biodiesel. A medida foi criada para que não se perdesse a arrecadação com combustíveis fósseis.
Estados Unidos se movimentam
Os Estados Unidos consomem 25% da energia mundial e passou em muito da hora de mostrar ao mundo atitudes mais pro-ativas na agenda climática. O governo americano, sob a administração de Barack Obama, deu fôlego para o setor de energia limpa. Em junho de 2009, a primeira lei climática do país foi aprovada pela Câmara de Representantes do Congresso dos Estados Unidos. A legislação estabelece como meta reduzir em 17% as emissões norte-americanas de gases de efeito estufa até 2020, com base em 2005, e de 83% até 2050. Exige das empresas geradoras de energia que 20% da matriz seja renovável até 2020.
Rumo a economia menos carbono intensiva, a lei define investimentos da ordem de US$ 190 bilhões em tecnologias limpas e energias renováveis, captura e seqüestro de carbono, veículos elétricos e pesquisa científica que chegam a US$ 190 bilhões, além de novos padrões de economia de energia para eletrodomésticos e edifícios, que deverão ser 30% mais eficientes até 2012 e 50% até 2016.
Em julho de 2009, os EUA firmaram acordo com a China para construir veículos e edifícios mais eficientes. Inicialmente, os dois países vão investir 15 milhões de dólares no projeto que inclui ainda a investigação de novas tecnologias para reduzir e sequestrar as emissões de dióxido de carbono das centrais a carvão. 2009 também marca a entrada dos EUA na Agencia Internacional de Energia Renovável, mostrando um compromisso maior para a transição para uma economia de baixo carbono.
Já o calcanhar de Aquiles do país está na área de biocombustíveis. O etanol produzido a partir do milho vem sendo a aposta americana. Porém, essa não é considerada uma solução ambientalmente correta para os problemas energéticos do país. Afinal, para sua produção as usinas usam gás e carvão, além das grandes chances de comprometer produção mundial de alimentos. Se não bastasse, o lucro energético do etanol, produzido no Brasil, por exemplo, é oito vezes superior ao etanol americano.


África:
investimento na força eólica
Até agora, somente países do norte africano como Marrocos e Egito utilizam energia eólica para fim comercial em qualquer escala no continente. Contudo, os projetos começam a surgir no sul do Saara. A Etiópia já financia um projeto com capacidade de 120MW na região de Tigray, que fornecerá 15% da capacidade energética do país e a Tanzânia anunciou planos de gerar ao menos 100MW com dois projetos na região central de Singida, o qual fornecerá mais de 10% do suprimento nacional. A África do Sul, que tem sua matriz energética fortemente dependente do carvão, se tornou, em março de 2009, o primeiro país africano a anunciar a venda de excedente de energia de pequenos produtores para a rede elétrica.
De acordo com reportagem do site Carbono Brasil do dia 06/08/2009, o Quênia poderá ter a maior usina eólica da África. Ao todo 353 turbinas eólicas gigantes irão incrementar em e 25% à matriz energética do país. O projeto no Lago de Turkana, conduzido por um consórcio holandês, custará cerca de US$ 900 milhões e será finalizado em 2012. Com uma média de ventos de 11 metros por segundo, o consorcio Lake Turkana Wind Power (LTWP) diz que este é um dos melhores lugares do mundo para produzir energia eólica. A empresa estima que o potencial do local é de 2.700MW.
Além da energia eólica, o governo irá investir em projetos geotérmicos, biocombustíveis, queima de resíduos sólidos e em usinas de carvão para chegar a este número em junho de 2012. Para financiá-los, o governo do Quênia irá buscar parcerias com o setor privado, o que deve reduzir ainda mais o tempo para construí-las.
A Província da Patagônia, na localidade de Pico Truncado, deverá abrigar um projeto de parque eólico que pode colocar a Argentina na liderança latino-americana em produção de energia por fonte renovável. Liderado pela empresa espanhola Guascor e orçado em 1.700 milhões de Euros, o parque será instalado na região do país conhecida pelos fortes ventos. O diretor da Guascor, José Grajales, declarou à imprensa que com 700 motores eólicos espalhados em uma área de 6.500 hectares, o empreendimento terá uma capacidade entre 600 e 900 Mega Watts.

Fonte: mudançasclimáticas.org

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Os custos da energia eólica brasileira

Os benefícios da inserção da energia eólica para a segurança da matriz elétrica brasileira, devido à sua complementariedade com o regime hídrico, e para a manutenção do caráter limpo e renovável da matriz brasileira são indiscutíveis.
Contudo, não se pode ignorar nesta análise o eventual impacto que a contratação de grandes montantes de energia eólica pode ocasionar no nível tarifário brasileiro, o que é conflitante com a necessidade de modicidade tarifária.
A questão que se coloca é porque a energia eólica ainda é tão cara no Brasil, tendo em vista que esta fonte de energia já é competitiva em outros países. No Brasil, os empreendedores alegam que a tarifa viabilizadora da energia eólica seria de R$ 0,21 por KWh, equivalendo a uma tarifa de US$ 0,10, com base na taxa de câmbio média de R$ 2,03 verificada nos últimos 48 meses. Esta tarifa é superior a tarifa de R$ 0,15 exigida pelas usinas de biomassa, por exemplo. Porém, o relevante a ser analisado é que em muitos países a energia eólica já é viável com uma tarifa de US$ 0,04. Neste sentido, um dos grandes benefícios do leilão de energia eólica será indicar qual é o
real custo da geração eólica no Brasil porque será o primeiro instrumento de contratação competitivo de grande porte a ser realizado no Brasil. Entretanto, embora seja discutível o custo da energia eólica no Brasil, é bastante plausível a hipótese que a mesma possui um custo superior aquele verificado em outros países.
Especificamente, o maior custo da energia eólica no Brasil pode ser atribuído aos maiores custos logísticos de implementação dos projetos, como por exemplo à precariedade das estradas nordestinas, região onde se encontra o maior portencial eólico no país, e ao número restrito de ofertantes nacionais de aerogeradores associado às restrições de importação destes equipamentos. Os custos relacionados à logística do país fogem do escopo analítico deste texto por estarem relacionados a questões estruturais do país e devem ser encarados como uma condição de base. Porém, se faz necessária uma análise mais detalhada dos custos dos bens de capital. A indústria de aerogeradores mundial está organizada sob a forma de oligopólio com
os 4 maiores fabricantes (Vestas, GE Wind, Gamesa e Enercon) possuindo um market share de aproximadamente 70%. Embora concentração de mercado não signifique necessariamente poder de mercado porque existem mercados que são contestáveis, no caso da indústria de aerogeradores estas firmas, de fato, possuem poder de mercado porque não existe contestabilidade devido a existências de barreiras à entrada referentes a escala de produção e ao caráter de constante inovações
tecnológicas da indústria que resultam em vantagens absolutas de custo e diferenciação de produto das firmas estabelecidas. Neste sentido, é vital que haja
incentivos à concorrência para que as firmas estabelecidas não cobrem preços acima dos preços competitivos.
No Brasil, a oferta de turbinas eólicas se restringe a duas firmas que possuem vantagens competitivas adicionais: imposto de 14% sobre a importação de aerogeradores, apenas aerogeradores com potência superior a 1,5 MW podem ser importados e o fato do BNDES só conceder financiamento a fabricantes nacionais.
Portanto, estas duas firmas possuem condições de cobrarem preços bastante acima daqueles que seriam competitivos porque o mercado apresenta significativas barreiras à entrada.
Entretanto, não se pode ignorar o aspecto estratégico do bem energia elétrica e a necessidade de se desenvolver a indústria de bens de capital que fornece os equipamentos necessários para uma fonte de geração de energia tão promissora como a geração eólica. Logo, embora reserva de mercado seja uma prática condenável, a garantia da competitividade dos fabricantes que estabeleceram fábricas no território nacional é uma decisão correta. A questão que se coloca é a forma pela qual deve se garantir a competitividade dos fabricantes nacionais, em um país em vias de desenvolvimento, que necessita do suprimento de energia elétrica a preços competitivos, uma política de desoneração tributária sobre a cadeia produtiva de aerogeradores nacionais garantiria uma concorrência onde o preço de equilíbrio seria mais condizente com a modicidade tarifária que o estabelecimento de impostos sobre a importação com o intuito de garantir a competitividade do competidor nacional.
A desoneração tributária da cadeia produtiva também seria um mecanismo de atração de outros fabricantes de turbinas eólicas. Além disso, com o intuito de fomentar a concorrência e criar condições de contestabilidade na indústria de aerogeradores , devem ser formatadas políticas públicas de concessão de crédito a projetos inovadores porque o crédito é capaz de transformar a inovação tecnológica de barreira à entrada em mola propulsora de mudanças na estrutura de uma indústria ou até
mesmo sua extinção, em uma visão schumpeteriana.
De fato, o incentivo governamental é a forma mais adequada e eficiente para aumento da inserção da energia eólica, e de outras novas renováveis, na matriz elétrica brasileira. Em verdade, ao contrário da agenda neoliberal da década de 1990, a
agenda atual é direcionada pelo aumento da participação das fontes de energias renováveis na matriz energética. E este aumento é condicionado por maior participação do Estado na definição dos rumos do setor energético como um todo. Neste sentido, uma complexa rede de subsídios, programas e políticas encontra-se em
curso.
A União Europeia (UE), por exemplo, a partir da constatação de uma crescente dependência de insumos energéticos importados de fora da UE, tem metas explícitas de aumento da participação de fontes renováveis de energia na sua matriz energética.
Castro e Leite (2009) mostram que uma alternativa pragmática para minimizar o problema da dependência de insumos importados e cumprir as metas do protocolo de Kyoto é aumentar o parque eólico. A potência instalada das usinas eólicas no mundo, que era de reduzidos 6,1 GW em 1996, atingiu o expressivo montante de 120,798 GW ao fim do ano de 2008. Países como Alemanha, Espanha e Dinamarca já dispõem de expressivo parque eólico. Em comum, o fato do incremento de energia eólica nestes países ser fruto de políticas de promoção de fontes alternativas de energia. Como mostra o estudo CEPs (2008), há forte tendência de crescimento das fontes renováveis no setor elétrico europeu. O estudo mostra que o setor elétrico europeu é
responsável por 1/3 das emissões de européias de gás carbônico. Logo, o aumento das fontes renováveis desempenhará um papel importante nas metas ambientais do continente.
Fica claro, porém, que este novo direcionamento, visando menor dependência
energética e mais fontes limpas, não se dará via mercado meramente. É fundamental o estabelecimento de políticas e regulamentos que incentivem tais investimentos. Ou seja, pode-se avaliar que há suficiente percepção de que o mercado, per se, não é suficiente para indicar os rumos da expansão, principalmente se esta se dá em direção ao aumento da participação das fontes de energia renováveis, usualmente mais caras. Assim como na UE, nos Estados Unidos também observa-se forte tendência ao uso de fontes renováveis de eletricidade. Desta forma, nos EUA também se observa forte tendência de aumento da coordenação política. No caso americano, onde desenha-se, de acordo com o plano de energia do Presidente Barack Obama, um crescimento da participação das fontes renováveis para 10% do total até 2012 e 25% até 2025, a participação governamental, via financiamentos e/ou subsídios, configurará elemento primordial dos investimentos no setor.
Por fim, é por meio de política energética que se dá o planejamento do setor elétrico.
E, neste contexto, a política energética tem a possibilidade de, por meio de políticas públicas, reduzir os custos de energia eólica, especialmente os custos de capital.
Portanto, é importante que haja esforço governamental que crie, incentive e dê suporte ao mercado de energia eólica. Ou como coloca Komor (2004), a energia eólica já está
tecnologicamente bastante avançada, o que se necessita são ações que a coloquem no mercado de forma competitiva.


Guilherme de A. Dantas é doutorando do Programa de Planejamento Energético da COPPE/UFRJ e pesquisador-sênior do Grupo de Estudos do Setor Elétrico do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. André Luis da Silva Leite é pós-doutor pelo IE/UFRJ, Professor da Unisul - Universidade do Sul de Santa Catarina - e pesquisador-sênior do GESEL/IE/UFRJ.

Um herói do ambiente - Time (2007)...Esse sim é "o cara"

Reitor da USP entre 1986 e 1989, José Goldemberg já foi também ministro da Ciência e Tecnologia e da Educação, além de secretário do Meio Ambiente nos governos federal (estava no cargo quando da realização da Eco-92, no Rio de Janeiro) e estadual. A esse currículo soma-se agora a escolha pela revista Time como um dos heróis do ambiente em 2007. A relação inclui 45 nomes de todo o mundo de políticos a inventores, de líderes empresariais a artistas, de cientistas a ativistas ambientais. Na lista estão, por exemplo, o ex-líder soviético Mikhail Gorbachev, o ex-vice-presidente americano e Prêmio Nobel da Paz Al Gore, a primeira-ministra alemã, Angela Merkel, o príncipe Charles e o ator e diretor Robert Redford. Goldemberg é o único latino-americano e um dos poucos representantes do Terceiro Mundo no grupo. Foi uma completa surpresa para mim, mas fico contente por ter sido reconhecido, diz o ex-reitor.
A lista se divide em quatro categorias: líderes e visionários (na qual Goldemberg foi incluído); ativistas; cientistas e inovadores (onde está, por exemplo, o químico Abul Hussam, de Bangladesh, que inventou um método simples de purificação de água contaminada); e empresários (como o chinês Zi Zhengrong, que se tornou um dos homens mais ricos do país ao explorar a tecnologia de energia solar).
A revista chama a atenção para o pioneirismo do Brasil na utilização do álcool de cana-de-açúcar como combustível já no final dos anos 70, e lembra que, num paper que publicou na revista Science em 1978, Goldemberg afirmava que o etanol era energia solar transformada em líquido. Eu disse ao jornalista que outras pessoas também contribuíram para o Pró-Álcool, e ele respondeu que era verdade, mas que o que caracterizava a minha ação era a persistência, conta. A Time também salienta os esforços do professor para que o Brasil não entrasse na corrida mundial pela produção de armas nucleares.
Para a revista, como a Terra não tem voz, alguém precisa falar por ela, e é isso o que os personagens escolhidos por ela têm feito. Cabe a nós ouvi-los e nos juntar a eles.

Vale a pena homenagear!

A energia que o mundo precisa é renovável


As vantagens da energia renovável foram bem definidas pelo Brasil em proposta apresentada na Conferência das Nações Unidas sobre Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, ocorrida em Johannesburgo (África do Sul), em agosto de 2002. No documento, foi explicado que as novas fontes renováveis de energia - como biomassa, pequenas hidroelétricas, eólica e energia solar, incluindo a fotovoltaica - oferecem inúmeros benefícios:
Aumentam a diversidade e a complementaridade da oferta de energia;
Reduzem as emissões atmosféricas de poluentes;
Asseguram a sustentabilidade da geração de energia a longo prazo;
Criam novas oportunidades de empregos nas regiões rurais e urbanas, oferecendo oportunidades para fabricação local de tecnologia de energia;
Fortalecem a garantia e segurança de fornecimento porque não requerem importação, diferentemente do setor dependente de combustíveis fósseis
Além de solucionar grandes problemas ambientais, como o efeito estufa, as fontes renováveis ajudam a combater a pobreza. Como a própria delegação brasileira em Johannesburgo afirmou, as fontes renováveis de energia:
Podem aumentar o acesso à água potável proveniente de poços. Água limpa e alimentação cozida reduzem a fome (95% dos alimentos precisam ser cozidos antes de serem ingeridos) e evitam doenças;
Reduzem o tempo que mulheres e crianças gastam nas atividades básicas de sobrevivência (buscar lenha, coletar água, cozinhar). Energia em casa facilita o acesso à educação, aumenta a segurança e permite o uso de mídia e comunicação na escola;
Diminuem o desmatamento.
Entretanto, para o publico interno o discurso apregoado pelo Brasil no cenário internacional não é realizado.
Potencial x realidade
Se há um país no mundo que goza das melhores oportunidades ecológicas e geopolíticas para ajudar a formular um outro mundo necessário para toda a humanidade, este país seria o nosso. Ele é a potência das águas, possui a maior biodiversidade do planeta, as maiores florestas tropicais, a possibilidade de uma matriz energética menos agressiva ao meio ambiente - à base da água, do vento, do sol, das marés, das ondas do mar e da biomassa. Entretanto, ainda não acordou para isso. Nos fóruns mundiais vive em permanente estado de letargia política, inconsciente, “deitado eternamente em berço esplêndido”. Não despertou para as suas possibilidades e para a sua responsabilidade face à preservação da Terra e da vida.
Recente episódio mostra que o fator ecológico não é estratégico no atual governo. Somos ignorantes, atrasados, sem senso de responsabilidade face ao nosso futuro comum. No início de 2009, por iniciativa dos governso da Alemanha, Dinamarca e Espanha, foi criada a Agência Internacional de Energias Renováveis (International Renewable Energy Agency - Irena), resultado de anos de debates e tendo como um dos seus principais objetivos fazer um contraponto aos lobbies dos combustíveis fósseis junto aos governos mundiais. O ato de criação da agência foi assinado no dia 26 de janeiro em Bonn, na Alemanha, por representantes de 75 países, entre eles França, Itália, Nigéria, Chile e Argentina. O Brasil não assinou o documento alegando que a Irena terá um foco maior nas energias eólica e solar, e porque os bicombustíveis e a energia hidroelétrica não seriam prestigiados pela Agência.
Um plano de retrocesso
Considerando apenas os gases emitidos em decorrência da matriz energética, o Brasil cai no ranking mundial dos maiores emissores totais de gases de efeito estufa para a 18º posição - e vai para a 86º, se contabilizarmos apenas os emitidos pela produção de energia elétrica. Entretanto, estamos construindo usinas à base do carvão mineral, a diesel e nucleares, o que pode a longo prazo, reverter essa situação privilegiada.
O Plano Decenal de Expansão de Energia (PDEE) 2008-2017, publicado pelo Ministério de Minas e Energia, aponta para o aumento no consumo de eletricidade no país, prevendo um crescimento de cerca de 4% ao ano, enquanto os ganhos de eficiência energética estão projetados para reduzir o consumo neste período, a partir de aperfeiçoamentos dos equipamentos elétricos e industriais, que passam a economizar energia. E para atender a este crescimento da demanda, baseia-se em uma visão ‘ofertista’, que não questiona para onde vai a energia e que acaba caindo na querela de que, se não forem construídas hidrelétricas, serão feitas termelétricas, e mesmo nucleares.
O caráter do PDEE é o de atender preferencialmente aos grandes consumidores, isto é, a industria eletro-intensiva, limitando o debate energético à falsa dicotomia entre hidrelétricas ou termelétricas e relegando as fontes alternativas a um papel nulo, apesar de representarem fontes de complementaridade e que poderiam ter uma participação muito mais ampla.
Lamentavelmente, verifica-se que em qualquer ambiente do setor público ou privado, os tópicos referentes à energia solar ou eólica como opção para aumentar a oferta de energia elétrica são vistos com preconceito, como uma excentricidade ambientalista. Os argumentos são sempre os mesmos: não oferecem escala e são muito caras. Como se as hidrelétricas fossem baratas, seus reservatórios não emitissem gases de efeito estufa, e elas não impactassem as populações ribeirinhas. A realidade é que elas existem em um sistema que mistura subsídios cruzados, sem nenhuma transparência e com custos não contabilizados - entre eles o ambiental.
Investimento mundial
Diferentemente do que pensam os planejadores da política energética brasileira, o que se constata é que o mundo inteiro está investindo em energia eólica e fotovoltaica (eletricidade solar). O mercado de energia eólica cresceu 30% em 2007. Na China, ele triplicou. No EUA, dobrou, o país hoje possui o maior parque eólico mundial, na Espanha, cresceu 30%, com adição de 3.500 MW à rede. Na Alemanha, cresceu 8%, representando a adição de 1.700 MW ao parque eólico, totalizando quase 22.500 MW. Já o Brasil não chega a 400 MW de potência instalada.
O setor de eletricidade solar cresce 45% ao ano, em média, no mundo, desde 2002. Em 2007, teve um incremento de 50%, em relação a 2006. Isso significa que ele dobra de tamanho a cada dois anos, gerando uma diminuição de 20% nos custos de produção. No Brasil são apenas 33 unidades de sistemas fotovoltaicos conectados à rede elétrica.
Também os investimentos em novas tecnologias para a energia solar fotovoltaica crescem em ritmo acelerado. O custo da potência instalada da eletricidade solar caiu 9%, em termos reais, entre 2000 e 2006. Sua participação no total da capacidade elétrica instalada ainda é pequena, em comparação às fontes tradicionais, mas tem uma curva exponencial de crescimento que justifica cenários futuros com projeção para ocupar uma fatia expressiva no sistema elétrico mundial.
Na contramão da história
A mudança da matriz energética com a incorporação de fontes renováveis de energia (particularmente solar e eólica) é um ponto fundamental para que se consiga atingir um padrão de desenvolvimento sustentável. Essas fontes energéticas geram muitos empregos, tanto na área de instalação de placas solares, aquecedores solares e geradores eólicos, como na área de desenvolvimento e pesquisa. Além disso, diminuem os níveis de poluição atmosférica e a emissão de gases que contribuem para o aquecimento global.
O Brasil tem um potencial gigantesco de geração de energia eólica e solar, só que precisamos começar a olhar para frente, ver que podemos nos beneficiar de investimentos feitos agora nessa área, em pesquisa, desenvolvimento e implantação. Precisamos ganhar com isso no futuro, nos tornando um exportador de tecnologia. Precisamos ser o país que terá a matriz mais limpa do mundo no futuro.
Estamos na contramão da história. As estratégias energéticas globais hoje estão definidas tendo como objetivo central buscar uma matriz energética com baixas emissões de gases que causam o efeito estufa, que leve em conta a diversificação com fontes renováveis de energia e livre da mentalidade das grandes obras, que centralizam a geração elétrica. É este debate que deve ser realizado pela sociedade brasileira.
Conheça as energias renováveis

O vento
O vento existente no planeta é suficiente para suprir o consumo mundial de energia em mais de quatro vezes o nível atual de consumo. A tecnologia de uso da energia eólica é uma história de sucesso e gera eletricidade para milhões de pessoas, empregos para dezenas de milhares e bilhões de dólares de lucro.
Na China, a capacidade de geração de energia eólica do vento vem crescendo substancialmente nos últimos anos.
Na Mongólia, geradores portáteis de energia eólica são bastante usados por povos nômades para alimentar lâmpadas, rádios e outros aparelhos elétricos.
Desde o início dos anos 1970, o governo dinamarquês apóia o desenvolvimento e a implementação de uma forte indústria de energia eólica, especialmente através de abatimentos em impostos e investimentos públicos. Existem hoje no país mais pessoas trabalhando na indústria de energia eólica do que na pesca.
Na Europa, Espanha e Alemanha também são exemplos a serem seguidos.
O sol
A luz solar que ilumina a Terra a cada hora é suficiente para suprir as necessidades humanas de energia por um ano inteiro. Há muitas maneiras de utilizar esta fonte de energia:
Coletores solares térmicos, que podem aquecer a água e o ar para casas e instalações industriais; ou energia solar fotovoltaica (PV), que gera eletricidade diretamente a partir da luz do sol. Simples, confiável, segura e silenciosa, é uma eletricidade livre de qualquer poluição.
Países em desenvolvimento já instalaram mais de 1 milhão de sistemas domésticos de aquecimento solar.
Existem aproximadamente 150 mil sistemas domésticos de energia solar no Quênia, mais de 100 mil na China, 60 mil na Indonésia e mais de 300 mil lanternas solares na Índia.
Hoje mais de 1,5 milhão de residências pelo mundo contam com eletricidade solar conectada na rede de distribuição.
As pequenas hidrelétricas (PCH’s)
Os projetos de usinas hidroelétricas de pequena escala (no Brasil ≤ 30 Mega Watts) usam o fluxo natural das águas dos rios para gerar eletricidade. Unidades hidroelétricas familiares contam com pequenas turbinas que usam o fluxo da água para gerar eletricidade para casas. As PCHs são menos nocivas do ponto de vista ambiental.
Mais de 100 mil famílias no Vietnã usam pequenas turbinas de água para gerar eletricidade.
Mais de 45 mil pequenos projetos de pequenas hidroelétricas estão sendo usados na China, gerando energia para mais de 50 milhões de pessoas.
O Brasil, particularmente Minas Gerais, tem grande potencial para esta tecnologia, assim como em outros Estados. De acordo com a APMPE (Associação Brasileira dos Pequenos e Médios Produtores de Energia Elétrica), a potência hidrelétrica já identificada nos inventários disponíveis hoje soma 10 mil MW, cerca de 10% de toda a capacidade instalada no país. A associação estima outros 15 mil MW em potencial ainda não identificado.
Uma visão crítica sobre a biomassa
Plantações podem ser cultivadas especificamente para a produção de combustíveis e a compostagem de material vegetal também pode ser usada para produzir gás metano, que, por sua vez, pode ser utilizado como combustível. No entanto, cultivos geneticamente modificados não devem ser usados com essa finalidade, bem como se deve evitar haver emissões tóxicas (provenientes, por exemplo, do uso de agrotóxicos) resultantes da queima desse tipo de combustível. Resíduos florestais e agrícolas também podem ser usados para produzir eletricidade e aquecer, sem causar o aumento dos níveis de CO2.
A expansão das monoculturas (cana de açúcar e plantas oleaginosas), além de degradar o meio ambiente e ampliarem a exploração do trabalho assalariado, destrói os territórios camponeses provocando o êxodo rural, expandindo ainda mais as desigualdades sociais no campo e na cidade.
O potencial de crescimento da eletricidade de cana, a chamada bioeletricidade, é surpreendente, devendo passar dos atuais 3% da matriz energética elétrica nacional para cerca de 15% em 2020, isso considerando apenas a utilização do bagaço e da palha da cana em níveis idênticos ao do volume plantado atualmente no Brasil.
A biomassa da cana é considerada ainda, uma matéria-prima cada vez mais importante para a indústria da alcoolquímica, com destaque para os plásticos verdes e uma série de outros produtos, além do etanol.
A expansão do cultivo da cana-de-açúcar tende a consolidar o modelo econômico dominante na agricultura brasileira que é a afirmação das grandes áreas de monoculturas (como na soja, algodão, milho e outros cereais) e a artificialização da agricultura, esta a através dos cultivos transgênicos, fertilizantes de origem industrial, uso intensivo de agrotóxicos e de herbicidas, da automação, da mecanização pesada e da aviação agrícola.
Esse modelo é ambientalmente insustentável e favorece a degradação ambiental. Um dos gases responsáveis pelo efeito estufa, o óxido nitroso (N2O), tem como principal fonte de emissão a agricultura, que é 310 vezes mais poluente que o dióxido de carbono (CO2), o mais comum na atmosfera. Contaminação das águas e do solo pelos agrotóxicos e os herbicidas, assim como saturação dos solos pelos fertilizantes nitrogenados. Compactação dos solos pela motomecanização pesada.



*Heitor Scalambrini da Costa é coordenador dos Projetos Naper Solar e do Núcleo de Apoio a Projetos de Energias Renováveis - NAPER da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)

Revolução automobilística em andamento (vale a pena investir tanto no pré-sal?)

O veículo elétrico, híbrido ou puro, provocará uma revolução industrial e energética no mundo nas próximas décadas, golpeando em especial os combustíveis líquidos. Mas o etanol vegetal sobreviverá e crescerá, afirmam especialistas brasileiros ouvidos pelo Terramérica. A atual indústria automobilística “estará sepultada dentro de 15 anos” se a produção chinesa de carros elétricos atingir suas metas, estima o economista Gustavo dos Santos, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Dessa forma, a expansão do etanol (mais limpo do que a gasolina) será menor do que a esperada pelo governo brasileiro e será interrompida em 2020, prevê Santos..



A montadora chinesa BYD (Build Your Dreams - Construa seus Sonhos), que começou como uma fábrica de baterias, espera vender 700 mil carros elétricos em 2010, e tem como meta elevar sua produção anual para oito milhões de unidades até 2025, metade para exportação, disse Santos ao Terramérica. O governo da China decidiu converter o país em uma potência automobilística e subsidia a venda de veículos elétricos ou híbridos, que combinam bateria e motor de combustão. O avanço destes novos carros, de maior eficiência energética do que os que utilizam apenas combustão, foi bloqueado desde seu nascimento pelo grande poder político das companhias de petróleo, recordou Santos. Inclusive o setor automotivo resiste às mudanças porque elas representam a perda de toda uma estrutura implantada durante mais de um século.
Entretanto, agora a ameaça da mudança climática tende a tornar “inevitável” a revolução da energia e de toda cadeia metal-mecânica, com consequências em outras duas indústrias centrais, a eletroeletrônica e a química, e no ordenamento urbano, disse o economista. Os gases emitidos pelo transporte automotivo baseado em derivados de petróleo, como gasolina e diesel, aquecem a atmosfera. No mundo, teve início uma corrida tecnológica que se reflete nos numerosos modelos elétricos exibidos no 63º Salão do Automóvel de Frankfurt - que começou no dia 17 e vai até o dia 27 deste mês - reiterando a tendência de mostras semelhantes. Praticamente, todas as grandes fábricas estão produzindo esse tipo de veículo.
Os governos de países ricos subsidiam em grande parte o desenvolvimento e a venda desses carros. A General Motors, salva da bancarrota pela intervenção do governo norte-americano, espera se recuperar com a venda de seu modelo Volt, um híbrido recarregável que poderá desequilibrar o jogo porque “não tem compromissos com a indústria petrolífera nem com a velha indústria automobilística”, afirma Santos em um artigo publicado na edição junho-julho da revista Custo Brasil. O objetivo da China de popularizar o automóvel, necessário para manter o crescimento econômico atual, se torna impossível com o petróleo devido à insuficiência da oferta mundial, acrescentou o economista.
As baterias, ainda muito grandes e caras, exigem muitas horas de recarga para percorrer trechos limitados, e continuam sendo o calcanhar-de-aquiles do carro elétrico. Porém, sua adequação é apenas questão de tempo, porque ao seu desenvolvimento são destinados grandes investimentos pelas indústrias automobilísticas, de informática e de telefonia celular. Santos acredita que o futuro depende “mais das disputas políticas do que de fatores técnicos”. Além das pressões de toda a cadeia metal-mecânica e das companhias de petróleo, Estados Unidos, Europa e Japão tentarão impedir que a China se converta em uma potência automobilística, diz o economista, acrescentando que não se deve descartar uma reação protecionista que poderia jogar o mundo em outra recessão.
O carro elétrico pode promover uma revolução tecnológica que impulsionaria os investimentos, sustentando um crescimento ambientalmente são, ao “destruir boa parte da capacidade produtiva mundial”, diz Santos. A partir de uma fonte de redução do consumo, o preço do petróleo começaria a cair dentro de aproximadamente dez anos. Em consequência, o Brasil tem pouco tempo para aproveitar as gigantescas reservas descobertas, em 2007, sob uma camada de sal em águas profundas do Oceano Atlântico, ressaltou.
Paulo César Lima, assessor da Câmara dos Deputados especializado em questões energéticas, concorda com Santos. Com base em previsões do setor, segundo as quais 30% dos veículos a serem fabricados em 2030 serão elétricos, Lima alerta que a extração das jazidas do pré-sal poderia ser inviável dentro de quatro décadas devido ao baixo preço que o petróleo teria. Descoberto a cerca de sete mil metros de profundidade, o óleo brasileiro terá custos muito altos de produção, cerca de US$ 40 por barril de 159 litros, segundo autoridades da área energética. O “fator determinante”, para Lima, será a questão ambiental, que forçará a vigência do veículo elétrico. Este, por sua vez, “pode afetar o mercado do etanol” e sua passagem à categoria de commodity (mercadoria de livre comercialização), prevê o especialista.
Porém, a revolução tecnológica não impedirá a sobrevivência e expansão do etanol, pois este reduz a emissão de gases causadores do efeito estufa, acrescenta Lima. O etanol brasileiro feito a partir da cana-de-açúcar é reconhecido por seus benefícios ambientais, ao contrário do obtido do milho e de outras matérias-primas agrícolas nos Estados Unidos e na Europa. Contudo, enfrenta críticas pelas penosas condições de trabalho nos canaviais e por ocupar espaços de cultivos de alimentos.
A substituição do combustível líquido “será um processo lento”, e por muito tempo vai predominar o carro híbrido, que emprega motor a combustão para gerar a eletricidade propulsora, prevê Pietro Erber, presidente da Associação Brasileira do Veículo Elétrico. Para o híbrido, o etanol oferece vantagens sobre os derivados de petróleo, especialmente o diesel que é importado pelo Brasil para abastecer caminhões e ônibus, acrescenta. Essa vantagem pode ser ampliada se o petróleo for taxado para desestimular seu consumo e em benefício do clima, afirma Erber.
Jayme Buarque de Hollanda, diretor do não governamental Instituto Nacional de Eficiência Energética, afirma que o petróleo perderá mercado, mas não o etanol, pois é um combustível “mais homogêneo” e por isso se mistura com a gasolina para melhorar o desempenho e reduzir a poluição. Além disso, não se trata apenas do etanol, mas da biomassa como fonte de energia renovável e menos poluente. A partir da cana também se gera eletricidade, com o bagaço, além da produção de açúcar e vinhaça fertilizante, destaca Jayme. O uso diversificado da biomassa é uma vocação do Brasil, que possui água, sol e terra em abundância. Existe pela frente um futuro amplo de pesquisa e desenvolvimento para substituir boa parte dos “três mil produtos obtidos a partir do petróleo”, acrescenta Fernando Siqueira, presidente da Associação de Engenheiros da Petrobrás.
Para esse futuro, o Brasil deveria investir em células de combustível, destinadas a substituir as baterias, segundo Santos. Este dispositivo eletroquímico converte a energia do combustível em eletricidade com maior eficiência do que a bateria e daria ao etanol viabilidade no longo prazo, diante da morte anunciada do motor à explosão. Para o economista, a atual mudança de modelo, ao reduzir obstáculos permite uma singular oportunidade para que o país crie, como a China, uma indústria automobilística nacional de carros elétricos com marca própria. Para isso dispõe de enormes recursos energéticos e de capacidade tecnológica, concluiu Santos.

* Este artigo é parte de uma série produzida pela IPS (Inter Press Service) e pela IFEJ (sigla em inglês de Federação Internacional de Jornalistas Ambientais) para a Aliança de Comunicadores para o Desenvolvimento Sustentável (http://www.complusalliance.org).
Artigo produzido para o Terramérica, projeto de comunicação dos Programas das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e para o Desenvolvimento (Pnud), realizado pela Inter Press Service (IPS) e distribuído pela Agência Envolverde.

Desafios para um pré-sal sustentável

A discussão sobre essa dádiva para os brasileiros chamada Pré-Sal continua dominando as manchetes dos jornais e tudo indica que continuará a fazê-lo nos próximos meses e anos até que o programa se materialize. No entanto, apesar do longo horizonte de tempo envolvido na exploração dessa riqueza o debate sobre o tema continua dominado por preocupações de curto prazo, sem considerar que os bônus e ônus desse projeto na realidade recairão principalmente sobre nossos filhos, netos e seus descendentes.
Todos nós desejamos que o Pré-Sal seja uma verdadeira “dádiva” para o Brasil, e não se transforme numa “maldição”, como reza a história de muitos países com grandes reservas minerais e de petróleo no passado. Para isso, precisamos intensificar a discussão de questões chave para o desenvolvimento dessa riqueza, aproveitando lições do presente e transportando-nos para o futuro, quando essas riquezas serão desenvolvidas. Levanto aqui três desafios que se colocam diante de nós como perguntas em aberto que demandam direcionamento mais claro.
O primeiro desafio se refere ao desenvolvimento do Pré-Sal no contexto das mudanças climáticas. Recentemente os jornais publicaram matérias sobre estudos que vem sendo feitos por consultores sobre o desenvolvimento do Pré-Sal. Nesses artigos levantaram a preocupação de que a produção do óleo dessas reservas estaria chegando aos seus níveis mais elevados numa época em que, provavelmente, as restrições ao uso de combustíveis fósseis serão maiores, além da substituição por biocombustíveis na matriz energética, em função dos impactos nas emissões de gases de efeito estufa e nas mudanças climáticas.
Nesse debate, surpreendentemente, sugeria-se que o desenvolvimento do Pré-Sal deveria ser acelerado para que sua produção evitasse tais restrições. Ou seja, para tirarmos proveito da produção antecipada do Pré-Sal, estaríamos agindo para indiretamente acelerar também o volume de emissões de CO2 decorrentes do uso do produto gerado, acentuando os impactos no aquecimento global. Nesse contexto é necessário indagar sobre qual é o volume estimado de CO2 que o produto do Pré-Sal lançará na atmosfera? Além de ser contrário ao compromisso de minimizar esse risco global, pouco se falou que, no âmbito do Pré-Sal, deverão ser previstos investimentos em tecnologias para redução das emissões de CO2 para o óleo a ser produzido, de forma a utilizarmos o petróleo sem impactar o clima do planeta e reduzirmos futuras restrições ao uso do produto. Dentro de 20 anos estaremos num mundo diferente de hoje, em que poderá ser impensável utilizar processos produtivos que não anulem ou minimizem emissões de CO2. Essa agenda precisa estar inserida e explicitada no Pré-Sal.
O segundo desafio se refere aos impactos do Pré-Sal no desenvolvimento das regiões produtoras do petróleo, tema que tem sido alvo de debates entre Governos estaduais e o Governo Federal, na questão da partilha dos royalties e na manutenção das participações especiais. Aqui também fala-se pouco do outro lado dessa questão: a regulação da forma como os recursos a serem gerados pelo Pré-Sal deverão ser aplicados por municípios e estados produtores e não apenas arrecadados. O Brasil já acumulou grande experiência na repartição de royalties e participações especiais entre municípios produtores e é inegável que há espaço significativo para melhoria na forma com que os recursos gerados sejam investidos para que promovam o efetivo desenvolvimento local, ao invés de apenas engordar os cofres públicos e ser aplicado no custeio da administração pública. A criação de fundos locais de desenvolvimento econômico e social, aliados ao aprimoramento da gestão pública local e instrumentos de governança público-privada, através dos quais a sociedade e as empresas produtoras possam participar com sua experiência e capacidade de gestão, podem criar um novo ambiente de “promoção de futuro” para esses municípios. Dessa forma, as futuras gerações dessas regiões terão maiores chances de serem beneficiadas pelos recursos do Pré-Sal, ao invés de afetar apenas aquelas que se encontravam na região à época da exploração das reservas.
Por fim, está em pauta a discussão do Fundo nacional a ser criado com recursos gerados pelo Pré-Sal, a serem destinados para investimentos no desenvolvimento social, econômico e ambiental do país, distribuindo os benefícios dessas riquezas de forma abrangente, incluindo estados e municípios não produtores de petróleo. Discutem-se modelos utilizados em outros países, como a Noruega, o Chile, o Cazaquistão, entre outros, que criaram fundos similares, colhendo frutos variados desse processo. Dada a elevada cifra dos recursos a serem gerados para esse fundo no Brasil, uma questão que se coloca é: como esse grande volume de recursos será gerenciado, de forma que cumpram seu papel e de fato beneficiem as atuais e as futuras gerações? Um fundo dessa dimensão não pode ficar sujeito apenas às prioridades políticas de um único mandato de Governo. É necessário estabelecer regras de governança e gestão associadas aos objetivos maiores do fundo, priorizando a alocação dos recursos de forma a assegurar sua correta utilização, promovendo a necessária transparência e a eficiência da gestão. Qual o % de recursos deveriam ser aplicados na construção de ativos para gerações futuras em relação à solução de passivos socioambientais atuais? A gestão do fundo deveria ficar a cargo de uma entidade pública com efetiva independência do Governo Federal, nos moldes de um Banco Central? Como assegurar a efetiva participação da sociedade nos órgãos superiores de governança do fundo, como o seu Conselho de Administração?
Esses e outros desafios precisam ser discutidos e considerados no marco regulatório que suportará o desenvolvimento do Pré-Sal, para que a sociedade brasileira venha a usufruir efetivamente dessa riqueza que, se bem utilizada, pode mudar os destinos do país.



Fonte:
(*) Orlando Lima é Colunista de Plurale, colaborando com artigos sobre Sustentabilidade e Diretor da Janus Consultoria em Sustentabilidade.



Unicamp desenvolve bioquerosene para aviões

Pesquisadores da Faculdade de Engenharia Química da Universidade de Campinas - Unicamp - desenvolveram um combustível apto para a aviação a partir de óleos vegetais. Segundo comunicado da universidade, o produto final da pesquisa foi patenteado e há interesse em apresentá-lo para empresas privadas para sua fabricação massiva.
A equipe, integrada pelos professores Rubens Maciel Filho, Maria Regina Wolf Maciel e pelos pesquisadores César Benedito Batistella e Nívea de Lima da Silva, obteve biocombustível de aviação passando por duas etapas. Na primeira, depois de refinado e extraído, o azeite vegetal é colocado num reator, junto com um catalisador e uma quantidade predeterminada de etanol. Segundo a equipe, a presença do etanol é de vital Importância para o resultado positivo da experiência. A escolha do etanol se deu por um ser reativo agressivo e não renovável. Conforme Maciel Filho, "o papel do catalisador é para acelerar uma reação química e fazer que aconteça uma temperatura mais baixa". Além disso, o proceso gera subprodutos como glicerina e água e parte do etanol não consumido nas reações. Depois da separação desses compostos, o azeite permanece fino e com menor viscosidade.
A segunda etapa na elaboração desse bioquerosene contempla a separação de todos os elementos produzidos logo a seguir da reação. Segundo o Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo - IPT - as análises realizadas com o óleo final atestam sua qualidade para utilização na indústria aeronáutica.



Notícia complementar (Janeiro de 2009)
Air New Zealand faz vôo com combustível de pinhão manso.
A busca por um combustível de avião que não agrida o meio ambiente teve um grande avanço esta semana, com o primeiro voo de um avião movido a um biocombustível de segunda geração, derivado de plantas que não competem com as lavouras para alimentação.
Um jumbo da Air New Zealand decolou de Auckland, na Nova Zelândia, na terça-feira, com uma mistura de 50% combustível de aviação, 50% óleo de pinhão manso (também chamado de jatrofa) em um de seus quatro motores. O teste, que durou duas horas, mostrou que o óleo de pinhão manso pode ser usado nas aeronaves sem nenhuma modificação nos motores. O teste fez parte do plano da companhia aérea neozelandesa de utilizar 10% de fontes sustentáveis até 2013.
"Foi um dia emocionante", disse o piloto da Air New Zealand, David Morgan. "Este foi um importante passo para a indústria da aviação."
As viagens aéreas são responsáveis por 3% das emissões mundiais de dióxido de carbono, porém a busca por um substituto para o querosene tem sido problemática. Biocombustíveis de primeira geração, como o etanol de cana, não podem ser utilizados porque congelam em grandes altitudes.
O combustível utilizado pela Air New Zealand foi feito com sementes de pinhão manso, formadas por 40% de óleo e naturais da Índia, Moçambique, Malawi e Tanzânia. Testes prévios mostraram que ele poderia ser utilizado em aviões por congelar a -47°C e queimar a 38°C.
Já o teste da Continental usará uma mistura de biocombustível de pinhão manso e de algas, fornecido pela empresa americana Sapphire Energy. No teste, um dos motores de um Boeing 737-800 será preenchido com uma mistura meio a meio de combustível tradicional e o biocombustível. "Escolhemos pinhão manso e algas porque nenhum deles é utilizado como alimento e podem ser cultivados até em regiões áridas", disse Leah Rayne, diretora de assuntos globais da Continental.
Os aviões da Air New Zealand e da Continental Airlines não são os primeiros a utilizar biocombustíveis. Em fevereiro, a Virgin Atlantic utilizou, com sucesso, uma mistura com 80% de combustível de aviação e 20% de óleo de coco e palma de babaçu no motor de um Boeing 747 em um voo entre Londres e Amsterdã.


Fonte: O Estado de S. Paulo
Data: 06/01/2009

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

The Best Energy Links

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Empregos verdes: Bom ou ruim para a economia?

Atualmente muito se fala sobre a criação dos chamados “empregos verdes”, ela está sendo incentivada por muitos governos e organizações principalmente por que é vista por grande parte da comunidade internacional como a salvação do aquecimento global, ao mesmo tempo que irá gerar crescimento econômico e combater a crise econômica.
O presidente americano, Barack Obama, por exemplo, está investindo na criação destes emprego, fortalecendo a economia com o desenvolvimento de fontes renováveis de energia. Dessa forma, criando novas ocupações em setores como o da indústria de energia eólica.
Um estudo recente, porém, mostrou que criar este tipo de emprego irá reduzir ou até mesmo eliminar posições de trabalho em outros setores, sendo que na maioria das vezes os “empregos verdes” não são permanentes.
O estudo sobre energias renováveis que foi desenvolvido na Espanha, por um professor de economia da Universidade de Madrid Juan Carlos, apontou que cada posto de “emprego verde” criado pelo governo espanhol destruiu uma média de 2,2 de outros postos, e apenas um de cada dez postos verdes eram permanentes.
O professor Gabriel Calzada, escreveu na introdução do estudo que “a experiência espanhola, citada pelo presidente Barack Obama como modelo, revela com alto grau de confiança, através de dois métodos diferentes, que os Estados Unidos devem esperar a perda de pelo menos uma média de 2,2 empregos, ou aproximadamente 9 para cada 4 postos de trabalho criados”.
Os resultados deste estudo demonstram como as políticas como a da promoção de “empregos verdes” claramente dificultam a Espanha de combater a crise econômica, mesmo enquanto políticos de outros países insistem que esta é a solução.
Alguns conservadores, baseados no estudo, afirmaram que o incentivo de Obama a “energia verde” vai custar aos Estados Unidos aproximadamente 6 milhões de empregos, entretanto há alguns céticos que não acreditam nisso.
O The Wall Street Journal, por exemplo, apontou que o estudo não demonstrou com claridade que empregos foram destruídos na Espanha e sugeriu que Calzada, como o fundador de um grupo libertário, não foi muito objetivo.
Com certeza a promoção de empregos verdes trará uma grande contribuição ao combate contra o aquecimento global, mas será que o mesmo também acontecerá com o crescimento econômico? A criação de postos de trabalho “verdes” irá ajudar o mundo a vencer de vez a crise econômica como dizem governos e instituições internacionais, ou devemos esperar o pior, como foi visto na Espanha?