quarta-feira, 17 de novembro de 2010

86% da matriz mundial dependerá do petróleo em 2030

Por Lilian Milena

Duas décadas de estudos e pesquisas não serão suficientes para eliminar a dependência humana das fontes de origem fóssil. O petróleo continuará sendo a principal matriz energética em 2030, segundo a Agência Internacional de Energia (AIE).

Em 2007, 87% da matriz mundial era composta por petróleo, gás natural e carvão mineral, restando às fontes renováveis a participação de 13% sobre a oferta. Em 2030, o consumo será o dobro do atual, sendo 86% da matriz formada por fontes fósseis e apenas 14% pelos demais insumos.

A questão foi um dos temas centrais do 3º Fórum de Debates Brasilianas.org, que tratou da Sustentabilidade. Luis Cesar Stano, gerente de Desenvolvimento em SMS e Eficiência Energética da Petrobras, destacou que no Brasil não será diferente. Em 2030, o consumo energético do país será duas vezes maior, e a participação das fontes renováveis (hidroeletricidade, biocombustíveis e outros) se manterá em 46% da matriz.

Surge desse cenário duas preocupações: a primeira, relacionada a redução dos gases de efeito-estufa, já que existe consenso de que a ciência não será capaz de criar um insumo sustentável com qualidade equivalente ao petróleo a ponto de tornar a humanidade menos dependente de fontes fósseis, pelo menos nos próximos vinte anos. A segunda, é o forte declínio da produção de petróleo previsto pela AIE.

Em duas décadas, a demanda global por petróleo deverá atingir 107 milhões de barris por dia (MM bpd), ante cerca de 84 MM bpd produzidos em 2010. Em 2030 as reservas mundiais disponíveis serão equivalentes a 32% das necessidades. (Agora, pensem na questão do PRE-SAL... aquele mundo de petroleo de alta qualidade em costas brasileiras... querem ver algo interessante? Sugiro que se informem sobre o "Plano Nacional de Defesa"...)

O aumento da eficiência energética é apontado por Stano como uma das saídas mais estudadas no mundo que, conjugada ao uso de novas fontes, ajudará a atender as demandas. A Europa conseguiu reduzir seu consumo em 50% nos últimos 30 anos a partir da eficiência energética, que pode ser conseguida tanto nos processos de produção e transmissão quanto no uso final da matriz – opção de lâmpadas incandescentes, eletrodomésticos com tecnologia de consumo menor de energia elétrica.

Comparação Internacional

Nos Estados Unidos a eficiência energética é de aproximadamente 39%, na China, de 31%, e na Índia 29% - ou seja, mais de 50% da energia queimada nesses países não chega a ser utilizada efetivamente, tendo em vista que a principal matriz de energia elétrica deles é o carvão mineral.

Marco Aurélio Carvalho, diretor do Instituto Nacional de Eficiência Energética (INEE), explica que os números no Brasil não são muito diferentes. O total de perdas na matriz energética atinge 63%, logo o aproveitamento brasileiro é de 37%. "Isso, dentro do conceito que chamamos 'do poço a roda'. Ou seja, que vem desde o processo de produção, transmissão, até durante o uso pelo consumidor", completa.

O porta-voz do INEE explica que já existem processos capazes de reduzir substancialmente os desperdícios com o uso de cogeração, modalidade que permite a geração de energia com rejeitos de outros processos produtivos, como biogás e térmicas de bagaço de cana-de-açúcar.

Veículos

Usando como exemplo o caso dos veículos, Carvalho explica que o rendimento energético dos motores movidos a gasolina, e até mesmo os flex, é de apenas 30%. Boa parte dos 70% restantes é perdida na forma de calor. Mas, se o combustível usado para mover o motor fosse à energia elétrica, o aproveitamento dobraria.

O diretor do INEE diz que, em se tratando de eficiência energética, os modelos híbridos (carros que são carregados eletricamente a combustão interna do motor, movido por gasolina) compensam menos que os 100% elétricos. Em contrapartida, quando se trata de custo/benefício, os híbridos são melhores, pois os totalmente elétricos ainda precisam ser melhorados tecnologicamente para saírem das fábricas como produto competitivo – as baterias são pesadas, resultando na queda de velocidade, e o tempo para recarregá-las é muito elevado (8 horas em média).

Segundo Cardozo, já existem modelos de híbridos com desempenho de 40 a 100 quilômetros por litro de gasolina maior comparado aos modelos convencionais, testados na Europa e Estados Unidos.

Eficiência

O porta-voz da INEE destaca que há espaço para expandir significativamente a eficiência energética em vários setores, a exemplo das usinas de etanol. "Existem contingentes de caldeiras de baixa pressão, do nível de 22 BAR (unidade de pressão energética) em funcionamento nas usinas, sendo que já são fabricadas caldeiras operando a 90 BAR, portanto muito mais eficientes".

A produção de etanol no Brasil já é considerada eficiente pelo fato de aproveitar o bagaço da cana de açúcar – dispensável para produção do etanol de primeira geração – como combustível das caldeiras que produzem o biocombustível. O excedente energético dessa operação é vendido às redes de linha de transmissão de energia elétrica ou utilizado pela própria usina.

A Empresa de Pesquisa Energética (EPE), no Plano Decenal de Energia (PDE) 2010-2019, estima que o país poderá aumentar a eficiência em 12,5% no consumo atual de petróleo – 50% dessa economia se dará no setor industrial e 41% no setor de transporte.

Propostas

O Conselho Mundial de Energia, no relatório "Energy Efficiency: A Recipe for Success" (2010), verificou que 30% dos 90 países pesquisados realizam atualmente a redução de impostos sobre equipamentos de eficiência energética ou investimentos para minimizar os desperdícios.

O uso de lâmpada florescente compacta é a ação mais incentivada fora da OCDE. Alguns países europeus optaram pela redução do IVA (imposto sobre valor acrescido ou agregado), dos produtos de melhor eficiência energética. Outra prática bastante difundida é o incentivo fiscal as empresas que assumem compromissos de reduzir o consumo de energia, logo, suas emissões de CO2.

Dentre as medidas brasileiras está a identificação do nível de eficiência de eletrodomésticos pelo selo Procel (Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica). Houve também, durante o período de isenção do IPI a eletrodomésticos, redução maior de impostos para produtos com melhor eficiência energética.

Por outro lado, Cardozo critica a falta de incentivos fiscais à produção de veículos elétricos. "Atualmente os impostos que incidem sobre a produção de um carro movido a energia elétrica prejudicam significativamente a competitividade desses modelos no mercado", avalia.

O estudo "Lighting the way: Toward a Sustainable Energy Future", publicado em 2007, e coordenado por José Goldemberg, cientista físico e ex-secretário do Ministério do Meio Ambiente, junto com o prêmio Nobel Steven Chu, aponta que o crescimento mundial/ano da quantidade de energia produzida por fontes renováveis é de aproximadamente 6%, ao passo que o aumento do consumo de energia de combustíveis fósseis é de apenas 2% ao ano.

Mesmo assim, o trabalho, elaborado por 15 cientistas da InterAcademy Cauncil, reitera que as energias renováveis só vão passar a contribuir efetivamente para a matriz mundial em trinta anos.

O etanol brasileiro é colocado como uma opção sustentável para a frota de veículos. Em três décadas o país conseguiu aumentar de três mil para 6 mil litros por hectare a produção do biocombustível.

A obtenção do biocombustível da cana-de-açúcar que consiste na fermentação do caldo extraído da planta, recebeu o nome de etanol da primeira geração, e está próxima do aproveitamento máximo de produtividade.

Pesquisas do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) calculam para um rendimento médio de 91% nas usinas que deve chegar a praticamente 100%, nos próximos anos, com a melhora do processo fermentativo – estágio onde mais ocorrem perdas.

A segunda geração de etanol está em processo de aprimoramento. Trata-se de produzir combustível a partir de resíduos vegetais, ricos em celulose, como o bagaço da cana-de-açúcar. Estima-se que uma destilaria que produz cerca de 1 milhão de litros de etanol por dia, com o caldo da cana, pode gerar mais 150 mil litros de etanol a partir do bagaço.

O cientista norte-americano Lee Lynd coordena estudos de uma técnica que possibilita a produção de etanol desses resíduos em uma única fase, e não em quatro, como usualmente. O processo, chamado de bioprocessamento consolidado (CBP, na sigla em inglês) é feito por microorganismos geneticamente modificados que produzem anaerobicamente substâncias enzimáticas com potencial mais avançado que as enzimas aplicadas em outros processos.

O pesquisador estima que a partir da segunda geração o mundo terá condições de atender até 25% da frota de veículos. "A cana, francamente, tem mais mérito em relação a outras culturas. E a biomassa celulósica é uma matéria prima bastante promissora", diz.

A cultura do Brasil se destaca por ser mais sustentável em relação às espécies plantadas com a mesma finalidade pelo mundo – têm baixas emissões de gases estufa, elevada produção de combustível por hectares e menores impactos sobre a poluição da água.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

O economista chileno Manfred Max-Neef contrapõe crescimento econômico e qualidade de vida

O economista e ecologista chileno Manfred Max-Neef é considerado uma personalidade polêmica por andar na contramão da economia ortodoxa, por acreditar que o modelo atual de globalização é desastroso para o meio ambiente e, principalmente, por considerar que o crescimento econômico, depois de um determinado ponto, pode gerar queda na qualidade de vida das pessoas. Defensor do desenvolvimento local, ele sugere a criação de um sistema fiscal que tribute os gastos de energia e que fortaleça os pequenos negócios.
Max-Neef também ficou conhecido por suas idéias sobre as necessidades humanas, com base no ser, no ter, no estar e no fazer, e em necessidades como: subsistência, afeto, proteção, entendimento, participação, ócio, criação, identificação e liberdade. Para ele, as necessidades das pessoas são sempre as mesmas, independentemente de época e costumes. A diferença está no fator "satisfação". "As necessidades de um monge e de uma pessoa consumista são as mesmas. A diferença é a forma como eles satisfazem suas necessidades", afirma. Esse seu pensamento inspirou a exposição de artes sobre o tema "All We Need", que vai acontecer este ano em Luxemburgo, apontada como capital cultural da União Européia, em 2007.
Max-Neef deu aulas na Universidade da Califórnia, em Berkeley, e atuou como professor convidado em diversos locais dos Estados Unidos e da América Latina. Dedicou sua carreira aos problemas dos países em desenvolvimento da América Latina e registrou as principais experiências no livro From the Outside Looking In: Experiences in Barefoot Economics, ainda não publicado no Brasil. Por seus trabalhos, recebeu diversos prêmios, entre os quais o Right Livelihood Award, conhecido como "Prêmio Nobel alternativo", em 1983, o Premio Nacional por la Promoción y Defensa de los Derechos Humanos, do Chile, em 1987, e o University Award of Highest Honour, pela Soka University, do Japão, em 1997.


Durante o 15º. Seminário Internacional em Busca da Excelência, da Fundação Nacional da Qualidade (FNQ), que ocorreu entre os dias 11 e 13 de abril de 2007, Max-Neef esteve no Brasil. Em entrevista coletiva, falou aos jornalistas sobre suas principais teorias. A seguir, leia os trechos mais importantes.
Instituto Ethos: O senhor acredita que o crescimento econômico, após atingir um determinado ponto, tem efeito negativo para a sociedade?

Manfred Max-Neef: Segundo a Teoria do Umbral, que criei com meus colegas há 15 anos, o crescimento econômico está alinhado à qualidade de vida de uma sociedade somente até certo ponto. Depois disso, a tendência é que ele se torne maligno ao bem-estar das pessoas. Essa teoria foi comprovada em todos os países onde realizamos o estudo, como Estados Unidos, Inglaterra, Holanda, Suécia, Áustria, Dinamarca, Chile e Tailândia. Todos eles tiveram um grande período de crescimento econômico e desenvolvimento até o ano de 1970. Após essa data, o nível de qualidade de vida da população começou a cair. Para obter esse resultado, comparamos a curva de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) com a de outro índice, o Genuine Progress Indicator (GPI), que mede a qualidade de vida. Por meio de gráficos, percebemos que o crescimento econômico continuou aumentando, enquanto o GPI apresentou queda. Para mim, o PIB é um indicador muito curioso, no qual tudo pode ser somado sem levar em conta o que é bom ou o que é ruim. Por exemplo, os acidentes de carro, o aumento do consumo de serviços médicos e as epidemias são fantásticos para o PIB. No GPI o método é outro. Soma-se tudo aquilo que tem impacto positivo para a sociedade e deixam-se de lado os aspectos negativos, como os custos de poluição e de degradação do solo. O GPI também soma exterioridades que não são consideradas pelo PIB, como o trabalho doméstico e o trabalho voluntário. O PIB é um índice machista, pois para ele a parcela de mulheres no mundo que trabalha em casa (80%) não é considerada. O trabalho de uma pessoa que caminha quilômetros a fim de buscar água para sua família também não é acatado. Ou seja, o PIB não reflete o desenvolvimento da sociedade. Se o PIB de São Paulo for examinado durante 20 anos, vamos perceber que grande parte do investimento é destinado a corrigir problemas gerais decorrentes do crescimento excessivo da cidade. Essa verba poderia ter sido aplicada em outro projeto de maior utilidade para a sociedade. O crescimento após determinado momento se torna antropofágico.
Instituto Ethos: O senhor costuma dizer que as empresas estão amarradas num modelo do século passado. Como seria a empresa ideal para o momento em que estamos?

MM-N: Eu fiquei muito impressionado com uma indústria brasileira que visitei num desses dias, que é a Natura. Tive a percepção de que lá tudo está concentrado nas pessoas. A água consumida é reciclada. O que a empresa produz não afeta a natureza. Ela consegue explorar os recursos do próprio país. Todos os aspectos são coerentes com os princípios sustentáveis e com uma economia humanizada. Para muitas outras empresas, o mais importante é o lucro. A custo de quê? De explorar o trabalhador e destruir a natureza. Para mim, a empresa deste momento é aquela que coloca a economia a serviço das pessoas, e não o contrário.
Agência Sebrae: O senhor comentou sobre uma grande empresa. Mas como os pequenos negócios podem se adequar a esses padrões sustentáveis?

MM-N: Sozinhos não podem fazer grandes mudanças. É preciso uma política de Estado que estimule as boas práticas. A grande empresa pode fazer muitas coisas sem a permissão de ninguém, mas o pequeno precisa ser visto dentro de um contexto global. Uma das condições fundamentais para se ter uma boa economia e uma sociedade sustentável é modificar drasticamente o sistema tributário. Defendo que os impostos devam ser tributados de acordo com a energia que a empresa consome e não com o que ela ganha. Por que querem castigar alguém por trabalhar? Esse castigo deveria ser para quem consome muita energia ou para quem tem muitos automóveis. Se isso fosse feito, todas as empresas iriam descobrir formas de consumir menos energia. Já com o sistema tributário corrente não há nenhum estímulo nesse sentido. As empresas procuram o contador apenas para descobrir o que podem fazer para pagar menos impostos. Se as empresas fossem tributadas a partir do que elas gastam com energia, haveria uma grande mudança no sistema de comércio atual, que eu considero absurdo em termos ambientais. Qual o sentido de o Brasil exportar e importar sabão ao mesmo tempo para um mesmo país? A região em que vivo, no Chile, é uma grande produtora de leite, e mesmo assim você encontra no mercado local manteiga fabricada na Nova Zelândia. É um absurdo a quantidade de CO2 gerado sem necessidade para trazer esse produto de tão longe. Acredito que os processos econômicos devam ser analisados a partir da perspectiva dos gastos energéticos. A globalização acontece porque gera crescimento para o PIB, mas é um agressão à biosfera.
Instituto Ethos: É por isso que o senhor é contra o Acordo de Livre Comércio das Américas (Alca)?

MM-N: Não é só por isso. Os tratados de livre comércio não são livres. Os grandes sócios acabam tendo direitos com os quais os pequenos não são contemplados. Os Estados Unidos, por exemplo, não enfrentam problemas por subsidiar seus produtos agrícolas, enquanto os governos mexicano e chileno sofreriam retaliações se o fizessem. As conseqüências dessa forma de comércio são devastadoras. O milho no México, por exemplo, não é apenas um produto econômico. Esse grão faz parte da cultura mexicana, de seus mitos e de seus deuses. Mas, hoje, 40% do milho consumido no México é importado dos Estados Unidos, onde foi subsidiado. Muito desse milho é transgênico e já está contaminando as plantações nativas mexicanas, por meio da polinização. Isso é um tratado que se pode chamar de livre comércio?
Instituto Ethos: Para que a sustentabilidade seja vista como um bom negócio, é preciso alterar o modo de pensar da sociedade. Como conseguir essa mudança de paradigma?

MM-N: Isso se faz por meio de um grande contrato social entre empresários, governo e trabalhadores, os quais decidem aquilo que querem para o país. Isso aconteceu na Suécia. O país se preparou durante dez anos para uma mudança no sistema tributário. Embora pague o imposto mais alto do mundo, cada cidadão está garantido por toda a vida. E o salário do presidente de uma empresa é apenas cinco vezes maior do que o do faxineiro. No Chile, essa diferença é de pelo menos 200 vezes. O maior crime que o homem pode cometer na Suécia é ser machista e não pagar impostos. Esse é o grau de consciência deles.
FNQ: O controle populacional é um aspecto importante da sustentabilidade?

MM-N: Há um erro muito grande nesse pensamento, porque para a demografia toda pessoa é igual. E isso não é verdade. Não estou falando em relação a raça ou gênero. Eu me refiro ao peso de cada pessoa para a biosfera. Um bebê que nasce nos EUA equivale a 20 bebês nascidos em Serra Leoa. Os EUA têm um grande peso mesmo em relação a países mais populosos. Os 300 milhões de cidadãos americanos consomem três vezes mais do que a China, com seu 1,3 bilhão de habitantes, e nove vezes mais do que a Índia, que tem 1 bilhão.
Instituto Ethos: Qual é o papel das universidades nesse contexto, que exige mudanças de comportamento da sociedade?
MM-N: A universidade não está cumprindo o papel que deveria. Ela deixou de ser uma instituição orientadora, que fazia críticas à sociedade, para se converter numa máquina a serviço do mercado. A universidade é cúmplice de um mundo que ela não aprova. Considero um escândalo o modo como a economia vem sendo ensinada dentro das escolas e como ela é aplicada na prática. Estou profundamente decepcionado com o que aconteceu com essa disciplina. Como é possível educar um economista hoje com livros clássicos que não contêm palavras como ecossistema e natureza? Como é possível aceitar que a economia se considere um sistema fechado, sem nenhuma relação com outros sistemas? Um economista não pode ignorar o funcionamento do ecossistema. Se isso ocorre, a responsabilidade é da universidade. Para ensinar aos alunos temas relacionados ao meio ambiente, o professor precisa fazê-lo por fora, como subversivo.
FNQ: O senhor se considera um otimista ou um pessimista?

MM-N: O pessimista acredita que já não há mais nada a fazer, enquanto o otimista não faz nada porque acha que o mundo está ótimo. Eu me considero um pessimista ativo. Creio que as coisas não estão bem e que precisamos nos adaptar a isso da melhor forma possível. É preciso surgir neste século a filosofia da solidariedade. Estamos todos na mesma situação. Se não formos solidários, não estaremos preparados para as condições desse novo planeta. Não ser solidário é estúpido e um mau negócio.
Instituto Ethos: Na opinião do senhor, de que forma as mudanças climáticas afetarão os povos da América Latina?

MM-N: Calcula-se que pelo menos 2 milhões de pessoas terão grave carência de água, porque o aquecimento global vai afetar as neves eternas dos Andes e a grande maioria das cidades localizadas nessa região é abastecida por águas de degelo. Isso vai provocar uma migração sem precedentes. E para onde irão essas pessoas? Quem vai abrir as portas para tanta gente? Enfrentaremos um problema de solidariedade muito forte. Mas a tendência é que se levantem muros. É muito brutal que essa filosofia de cobiça e acumulação continue existindo.
Instituto Ethos: Por que o senhor costuma dizer que acredita mais nos empresários do que nos políticos?

MM-N: Há 30 anos eu fiz parte de um setor que acreditava que os empresários eram os maus da história e nós é que éramos os bons. Somente quando comecei a me abrir para o diálogo com as empresas é que percebi que estava completamente equivocado. Descobri que a grande maioria dos empresários quer dialogar e está sempre aberto a mudanças. Usando argumentos concretos, é possível convencê-los do melhor caminho a seguir. Já com os políticos é diferente. Eles estão sempre pensando no próximo ano e nos números que lhes interessam.
FNQ: E por que, mesmo sabendo disso, o senhor foi candidato à presidência do Chile, em 1993?
MM-N: A primeira coisa que eu disse quando me candidatei à presidência de meu país foi que eu não tinha nenhum interesse em assumir o cargo. Minha candidatura foi uma desculpa para colocar em pauta assuntos que não faziam parte das discussões políticas. Apenas quis ser o candidato dos temas ausentes.
Instituto Ethos: O senhor acredita que os governos na América Latina estejam incluindo a sustentabilidade em suas pautas?
MM-N: Acredito que poucos têm consciência do que está acontecendo. A Costa Rica, por exemplo, é um lugar que já despertou para o problema. O país tem muitas iniciativas que visam a sustentabilidade e melhor uso dos recursos ambientais. Mas ainda é muito pouco. Deveria haver muito mais. O Brasil é um caso extraordinário. Vocês têm uma responsabilidade histórica descomunal, porque são donos da maior biodiversidade do planeta. E o que estão fazendo? A Amazônia continua sendo destruída, porque a obsessão pelo crescimento econômico é muito maior.

Fonte: www.ethos.org.br - Notícias da Semana

domingo, 10 de outubro de 2010

http://vimeo.com/7186310

Rio sediará Fórum Global pela Sustentabilidade

O Rio de Janeiro vai sediar, em 2011, o Fórum Global pela Sustentabilidade, evento que se repetirá anualmente na cidade e que, em 2012, acontecerá meses antes da Rio+20, a Conferência Internacional das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, que marcará os 20 anos da Rio92. Sexta-feira e na última quinta-feira, representantes de organizações internacionais, de empresas e da sociedade civil se reuniram para discutir detalhes da preparação do fórum e começar a definir os comitês responsáveis pela organização.
Objetivo é pressionar Rio+20 a firmar compromissos
Um dos objetivos do fórum é reunir anualmente líderes empresariais, sociais, ambientais, culturais, acadêmicos e governamentais de diversos países para dialogar, articular acordos e firmar compromissos voltados para o desenvolvimento sustentável. Segundo Oded Grajew, presidente do Instituto Ethos, uma das 13 instituições responsáveis pela organização do evento, uma das ideias é que o fórum funcione também como instrumento de pressão para a Rio+20:
- Há temor de que os governos não apresentem propostas práticas no encontro. O fórum vai ser realizado antes e voltado para a ação, para a apresentação de compromissos que devem ser cumpridos. Vamos dizer em 2011 tudo o que a gente espera que seja feito. Queremos que a sociedade contribua nas exigências - diz Grajew.
O encontro internacional que traçará as diretrizes para o fórum começou na quinta-feira no Palácio da Cidade, e foi aberto por Felipe Góes, secretário municipal de Desenvolvimento do Rio de Janeiro e presidente do Instituto Pereira Passos. O evento contou com a presença do prefeito Eduardo Paes e da secretária estadual do Ambiente, Marilene Ramos, e terminou ontem. Entre as entidades organizadoras estão a Associação Comercial do Rio de Janeiro, a Fundação Roberto Marinho e o Rio Como Vamos.

Cientista propõe capturar energia do vento solar

A energia do vento e a energia solar são alternativas limpas e renováveis.
Mas junte as duas expressões e adicione uma pitada de tecnologia espacial e você terá a energia do vento solar - um super fonte energética, com potencial para gerar energia 100 bilhões de vezes mais do que a demanda mundial de energia atual.
O grande problema ainda é trazer essa energia para a Terra, que depende de concentrar um feixe de laser com a precisão suficiente.
Satélite Dyson-Harrop
O vento solar é uma espécie de plasma que sai constantemente do Sol em todas as direções. É esse vento solar que alimenta as auroras boreais, que governa todo o clima espacial em nosso Sistema Solar e que muitos projetistas querem aproveitar para impulsionar espaçonaves sem motores.
A ideia do pesquisador Brooks Harrop, um físico da Universidade Estadual de Washington, nos Estados Unidos, é aproveitar o vento solar para gerar energia, por meio do já batizado satélite Dyson-Harrop.
O satélite-conceito possui um longo loop metálico apontado para o Sol. Esse fio é carregado para gerar um campo magnético cilíndrico suficiente para capturar os elétrons, que compõem metade da constituição do vento solar.
Esses elétrons são afunilados rumo a um receptor metálico esférico para produzir uma corrente. Essa corrente, por sua vez, gera o campo magnético do fio, tornando o sistema autossustentável.
O excesso de corrente, além do necessário para manter o campo magnético, alimenta um laser infravermelho apontado para antenas parabólicas instaladas no solo, projetadas para recolher a energia. Como o ar é transparente ao infravermelho, a atmosfera da Terra não consome nenhuma energia do feixe, que chega ao chão com potência total.
Energia do vento solar
Um satélite Dyson-Harrop relativamente pequeno, usando um fio de cobre de 1 centímetro de diâmetro e com 300 metros de comprimento, com um receptor de 2 metros de largura e uma vela solar de 10 metros de diâmetro, estável a meio caminho entre a Terra e o Sol, poderia gerar 1,7 megawatt de potência.
Amplie esse satélite, dotando-o com um fio de 1 quilômetro (km) de comprimento e uma vela solar de 8.400 km de largura, e teremos uma potência de 1 bilhão de bilhão de gigawatts (1027 watts) de potência.
"Isso é na verdade 200 bilhões de vezes a energia que a humanidade gasta atualmente," diz Harrop, que fez os cálculos juntamente com seu colega Dirk Schulze-Makuch.
Segundo Harrop, não existe nenhum empecilho para que um satélite assim seja construído, uma vez que toda a tecnologia embarcada nele já está disponível. Ele também calcula que seu satélite produzirá uma energia mais barata do que os painéis solares fotovoltaicos porque o cobre necessário para fazer o satélite é muito mais barato do que as células solares.
Energia do luar
Até aí tudo bem, mas há uma grande desvantagem. Para gerar uma quantidade significativa de energia, os satélites Dyson-Harrop precisam contar com o vento solar constante encontrado acima da eclíptica - o plano definido pela órbita da Terra em torno do Sol.
Isso significa dizer que o satélite estaria a dezenas de milhões de quilômetros da Terra. Ao percorrer essa distância, mesmo um feixe de raio laser extremamente preciso iria se espalhar tanto que cobriria uma área com milhares de quilômetros de largura quando atingisse a Terra.
Um feixe de laser carregando dois megawatts, espalhado por uma área tão grande não teria qualquer utilidade - sua energia em um ponto qualquer seria menor do que a luz do luar.
A solução para isso? Uma lente virtualmente perfeita medindo alguma coisa entre 10 e 100 quilômetros de diâmetro.
E para isso ainda não existe tecnologia e nem há qualquer estudo que demonstre que tal solução seja prática. Além disso, somente alguma nova ideia ainda não concebida para trazer a energia de volta para a Terra.

Energia para naves

John Mankins, especializado em energia solar espacial, afirma que podem haver outros problemas com o conceito de Harrop, e afirma que são necessários estudos para verificar se o anel de cobre aguentaria tanta energia sem fundir.

Mas ele afirma que a ideia é muito boa para alimentar naves espaciais, que poderiam usar versões muito menores do satélite Dyson-Harrop.

"Eu posso vislumbrar usos para essa ideia fora do plano da eclíptica, como na geração de energia para algo como a nave espacial Ulysses, em órbita em torno dos pólos do Sol," diz Mankins.


Fonte: The Solar Wind Power Satellite as an alternative to a traditional Dyson Sphere and its implications for remote detection



segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Etanol em crise?

BBC - 03/09/2010
Etanol em crise

A edição desta semana da revista britânica The Economist traz uma reportagem sobre os desafios da produção de etanol no Brasil, em meio às eleições, ao foco na exploração de petróleo no pré-sal e ao que o setor da cana-de-açúcar considera serem falhas regulatórias do governo.
Intitulada "A crise de meia-idade do etanol", a reportagem diz que a cana abriu caminho para formar "o núcleo de um novo complexo agroindustrial e de energia renovável", além de tornar o país o maior exportador da commodity - a rigor, especialistas consideram que o etanol ainda não é uma commodity.
Mas a Economist avalia que a indústria ainda está lutando para "transformar todos esses benefícios econômicos e ambientais em lucros confiáveis" e cita trocas de acusações entre o setor e o governo quanto a marcos regulatórios.
Desde que o Brasil aliviou os controles sobre o preço e a produção da cana, há duas décadas, sua colheita aumentou duas vezes e meia, segundo os cálculos da Economist, e o uso do etanol mais que dobrou desde 2002.
Vantagens ecológicas do etanol
Por conta das vantagens ecológicas - sua produção libera muito menos emissões que a de petróleo ou de etanol de milho -, o "etanol da cana-de-açúcar tem o potencial para se tornar uma indústria global", opina a Economist.
No entanto, enquanto o Brasil exporta 70% de sua produção de açúcar, 75% do etanol produzido no país destina-se ao mercado interno, principalmente em decorrência das práticas protecionistas de EUA e União Europeia.

Aumentar as exportações também requer grandes investimentos em infraestrutura, aponta a revista. "Até que o mercado global do etanol decole, os produtores brasileiros permanecerão incomodamente dependentes das vendas internas e da Petrobras (...), que é tanto sua maior compradora [ao misturar etanol na gasolina] quanto sua principal concorrente" no fornecimento de combustível ao público.

Preços do etanol e da gasolina
O setor da cana-de-açúcar se queixou à Economist que, enquanto o preço do etanol sobe e desce dependendo da demanda mundial pelo açúcar, o preço da gasolina no Brasil não se ajusta rapidamente a mudanças no preço do petróleo.

Já membros do governo defendem que, para garantir um fornecimento estável, o etanol deveria ser regulado pela Agência Nacional do Petróleo.

O debate é ofuscado, segundo a revista, pelas novas descobertas de petróleo no Brasil e pela possível eleição de Dilma Rousseff à Presidência, "que acredita mais fortemente que [Luiz Inácio Lula da Silva] no planejamento estatal da indústria energética", diz a Economist. "Até nisso a Dilma é ruim para o Brasil."

domingo, 29 de agosto de 2010

Energia eólica já é uma das mais competitivas do Brasil

Com preço médio de R$ 130,86 o MWh, fonte de energia bate até mesmo as térmicas movidas a gás natural


Renée Pereira - O Estado de S.Paulo

A forte disputa verificada nos leilões promovidos pelo governo federal esta semana pôs a energia eólica na lista das mais competitivas do Brasil, abaixo até do custo das térmicas movidas a gás natural, de cerca de R$ 140 o megawatt/hora (MWh). Na média, o preço da energia produzida com o vento foi negociada por R$ 130,86. No leilão do ano passado, cada MWh custou em média R$ 148,39.

"O resultado realmente surpreendeu a todos", afirmou o presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), Ricardo de Maya Simões. Ele acredita que há várias fatores para explicar a forte disputa verificada no leilão, que contratou 2.892 MW de capacidade, sendo 70% desse montante de energia eólica.

Um dos fatores é a desaceleração da economia europeia, onde a construção de parques eólicos é tradicional. Com o Produto Interno Bruto (PIB) crescendo menos, o consumo de energia cai e os projetos de geração são adiados. Isso reduz a demanda por novos geradores eólicos e derruba os preços dos equipamentos.

Nesse cenário, destaca Simões, o Brasil se tornou uma nova fronteira eólica no mundo, já que por aqui a demanda de energia elétrica continua em alta. A matriz, que até o ano passado era de 600 MW, deve pular para 4.454 MW de capacidade nos próximos três anos. "Além das multinacionais que já instalaram fábricas no País (Impsa, Alston e GE), outras empresas estão interessadas em construir novas unidades por aqui", afirma o presidente da Abeeólica. Entre elas, estão a espanhola Gamesa, a dinamarquesa Vestas, a indiana Suzlon e investidores coreanos e chineses.

A argentina Impsa não só inaugurou uma unidade em Pernambuco, como tem apostado em novas usinas. Em parceria com o Fundo de Investimento com recursos do FGTS (FI-FGTS), vendeu 211 MW no leilão de dezembro do ano passado e 270 MW, no desta semana. O diretor-geral da empresa, Luis Pescarmona, explica que, além da crise europeia, as condições de financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) melhoraram a competitividade dos projetos. O prazo dos empréstimos subiu de 14 anos para 16 anos.

Outro grupo que teve presença importante no leilão desta semana foi a joint venture entre Neoenergia e a espanhola Iberdrola. No total, eles venderam 258 MW, o que deve contribuir para a Neoenergia atingir 3 mil MW de potência instalada no País (já considerando a parcela de Belo Monte), afirma o presidente da empresa, Marcelo Corrêa. Em dois anos, diz ele, essa capacidade deverá subir para 5 mil MW.

Ricardo Simões, da Abeeólica, acredita que o Brasil tem grandes oportunidades para aumentar a participação dessa fonte renovável na matriz elétrica. "O potencial do País em energia eólica é de 300 mil MW", diz ele, que também vendeu 90 MW de energia no leilão da empresa Brennand Energia. O executivo comenta que no Brasil o fator de capacidade de geração está na casa de 40%, ante 22% da Europa. Ou seja, aqui as unidades geram mais energia por MW instalado.

domingo, 22 de agosto de 2010

Energia eólica lidera entre fontes renováveis

Estudo aponta que parques eólicos receberam 56% dos investimentos globais em energia limpa em 2009

Por Luciano Costa

A geração de energia a partir do vento foi a que mais cresceu entre as fontes de energia renovável ao longo de 2009. Segundo o relatório "Tendências Globais das Energias Limpas 2009", elaborado pela Organização das Nações Unidas (ONU), a indústria eólica foi a responsável por 56% de todos os investimentos aplicados em energia limpa no ano passado, com US$67 milhões recebidos. O setor apresentou força mesmo após a crise econômica, com o total de recursos aplicados na fonte crescendo 9% entre 2008 e 2009.

Entre os países que mais acrescentaram potência instalada a seu parque eólico, a China aparece na liderança, com 13,8GW, contra 10GW dos Estados Unidos e 2,5GW da Espanha. Em todo o mundo, 38GW em usinas iniciaram a operação. O documento também destaca que hoje a energia eólica já está presente em mais de 80 países.

O ano de 2009 também foi o segundo consecutivo em que o mundo instalou mais megawatts em empreendimentos de energia limpa do que em fontes convencionais. E, segundo a previsão da ONU, o feito deve voltar a acontecer em 2010. Entre os países, o maior crescimento na geração renovável se deu na China, que ultrapassou os Estados Unidos em investimentos, com 37GW em usinas de geração limpa. Outra região que teve grande expansão no setor foi o Mar do Norte, devido aos investimentos em usinas eólicas offshore - instaladas em alto mar.

Apesar das boas notícias, as fontes limpas receberam 7% menos investimentos no ano passado do que em 2008. Foram US$162 bilhões ao longo do ano. Isso porque, apesar da forte expansão eólica, outros segmentos, como a energia fotovoltaica e os biocombustíveis, apresentaram retração significativa em parte de sua cadeia produtiva.

As usinas solares fotovoltaicas receberam US$40 bilhões no ano, um número recorde, com o parque da fonte alcançando os 21GW ao final de 2009. Ainda assim, os investimentos em fabricação de equipamentos caíram 27% no ano, chegando a US$24 bilhões. De acordo com o relatório, o setor sofreu abalos por diversos fatores, como a queda nos preços, falta de financiamentos e apreensão do mercado - além da desaceleração da fonte na Espanha.

Apesar desse revés, a fonte instalou 7GW em 2009, com a Alemanha representando mais do que a metade (3,8GW) dos novos empreendimentos na área. O relatório coloca Itália, Japão, Estados Unidos, República Checa e Bulgária como países que também apostaram fortemente na geração solar.

Já a China tem se destacado na produção de equipamentos. Foi a responsável por 40% dos painéis fotovoltaicos fabricados no mundo em 2009, além de ter abocanhado 25% do mercado de turbinas eólicas - um aumento significativo em relação a 2007, quando o país detinha uma participação de apenas 10% na área.

Por último, aparece a produção de energia elétrica a partir de biomassa, que recebeu US$11 bilhões, contra US$9 bilhões registrados em 2008.

São Bernardo quer transformar lixo em energia

Município, no ABC Paulista, tem projeto orçado em R$220 milhões


A cidade de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, pretende construir uma usina de recuperação de energia (URE), que geraria eletricidade através do biogás obtido do lixo. O projeto foi apresentado na última semana pelo prefeito Luiz Marinho e está orçado em R$220 milhões. O objetivo da prefeitura é viabilizar o empreendimento por meio de uma Parceria Público Privada (PPP).

A usina seria implementada junto ao Lixão do Alvarenga e, junto com uma central de reaproveitamento e processamento de resíduos, ocuparia uma área de 30 mil m². Atualmente, São Bernardo gasta R$14 milhões por ano para descartar seu lixo no aterro Lara, em Mauá. A estimativa é de que, com o sistema em funcionamento, os custos caiam pela metade.

A prefeitura pretende disponibilizar em breve uma consulta pública para receber contribuições ao projeto. Após esse processo, deve ser lançado o edital de convocação para empresas interessadas em participar do empreendimento.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Sustentabilidade

O descompasso entre o discurso e a prática não é uma peculiaridade dos tempos atuais. Desde a Grécia antiga e até mesmo antes dela, já se discutiam os tramas e dramas do discurso político. Nem sempre o discurso deixa que se revelem as segundas intenções por detrás da fala. Outras tantas vezes, uma análise atenta do discurso permite descortinar intenções ocultas, que infelizmente, revelam-se politicamente incorretas.






Meio Ambiente, sustentabilidade e proteção da natureza viraram idéias-força bastante difundidas atualmente e incorporadas por um número significativo de atores sociais, com interesses e posturas ambientais variadas e, até mesmo, opostas. Do radicalismo da organização não-governamental Deep Ecology (Ecologia Profunda) à diretoria de grandes empresas, todos, em uníssono, são a favor do meio ambiente. Uns dizendo que toda e qualquer atividade empresarial destrói o meio ambiente e outros afirmando que é possível se avançar em direção ao chamado “capitalismo ecológico”.





Para os otimistas isso é sinal de convergência em torno de um tema fundamental para a sobrevivência de todo o planeta, inclusive dos seres humanos: a proteção ambiental. Mas o otimismo do discurso pode encobrir um pessimismo profundo na prática. Discurso e prática, quando se fala de Responsabilidade Sócio-Ambiental de Empresas, podem caminhar bem descompassados. Infelizmente, fica sempre a desconfiança de que a prática caminha a passos bem mais lentos que o discurso. Trocando em miúdos, muita propaganda empresarial e pouca ação efetiva. Ou ainda, muito mais recursos gastos em publicidade do que na proteção ambiental em si. Prova disso são os balanços sociais de empresas, que muitas vezes encobrem essa relação entre gastos com divulgação da empresa e investimentos em meio ambiente.



Um dos grandes desafios da incorporação da agenda ambiental por parte das empresas reside no caráter instrumental que marca as relações no espaço interno das organizações. As empresas privadas, como toda e qualquer organização, são regidas por um certo grau de instrumentalidade. O que significa isso? Significa orientar ações, posturas e formas de explicar o mundo por uma racionalidade (um raciocínio) centrado na lógica de meios para atingir fins, de recursos para atingir objetivos. Sendo mais claro: no ambiente empresarial sempre se pensa nas pessoas e nos recursos disponíveis (inclusive a natureza) como meios para se atingir os objetivos propostos; como peças de um jogo de estratégia no qual o objetivo é se alcançar o máximo resultado. A maioria das relações que se estabelecem no espaço interno das empresas são marcadas por essa instrumentalidade. Por exemplo, investe-se em qualidade de vida no trabalho e em melhores salários porque se aprimora as condições de vida do empregado, mas sobretudo porque empregados felizes e satisfeitos com a empresa são mais produtivos, gerando maior lucratividade.





Como bem já lembrava Kant, nos empreendimentos empresariais os valores, a moral e a própria ética podem se tornar um mero artifício para o alcance de metas. O filósofo alemão cita o exemplo do comerciante que agradava seus clientes não porque acreditava no valor maior de se ter bons amigos, mas sim porque se preocupava em não perder fregueses para a concorrência.





Alguém pode pensar: mas tudo na vida envolve um certo grau de interesse, mesmo na esfera pessoal de cada indivíduo! Correto, mas o problema é que o discurso da máxima eficiência e competitividade, que domina hoje o ambiente de trabalho nas empresas, faz ampliar o grau de instrumentalidade das relações, em detrimento da adesão aos valores por si mesmos. Os interesses passam a vir antes e a sufocar o compromisso com os valores.





A adesão das empresas a valores sócio-ambientais e a uma moral de defesa do meio ambiente pode se dar apenas como um mero recurso para reduzir a pressão de governos, comunidades, consumidores e até de acionistas (donos) sobre as próprias empresas. Afinal, a degradação do meio ambiente está se tornando, a cada dia mais, um mal negócio para as empresas. Multas, embargos legais, boicote de consumidores, manifestações de comunidades e várias outras formas de pressionar as empresas têm se tornado uma dor de cabeça para os executivos, até mesmo das grandes corporações multinacionais. Shell, McDonalds, Monsanto e Wall Mart são apenas alguns dos inúmeros exemplos de empresas transnacionais poderosas que tiveram que se curvar ao também poderoso poder de fogo de organizações não-governamentais e comunidades.





No final das contas, quando a adesão aos valores ambientais é feita meramente de forma instrumental, o forte apelo para que o homem seja entendido não como um ser exótico ao meio ambiente, mas como parte integrante dele é jogado por terra. Não se protege a natureza porque isso é algo correto ou necessário por si só, mas porque ajuda a alcançar um outro objetivo. Não se protege a vida de todos os seres vivos não-humanos porque, como viventes, eles têm direito à vida como qualquer um de nós. Protege-se a natureza para atingir uma meta maior: perpetuar a empresa e assegurar que continue dando lucros.

No caso brasileiro o cenário é mais dramático ainda, pois os objetivos empresariais ainda continuam muito focados no lucro de curtíssimo-prazo. Mas agora, um lucro menos selvagem. Como diz John Elkington, as empresas continuam a ser canibais, mas agora “Canibais com Garfo e Faca”. Aliás, esse é o título de seu interessante livro, publicado pela editora Campus.





Apesar de tudo, continuo fazendo muita força para me colocar no grupo dos otimistas. Acho que depois de todo esse “oba-oba” das empresas em torno da Responsabilidade Sócio-Ambiental, as comunidades, os consumidores e os cidadãos vão começar a despertar para o fato de que, para se proteger de maneira consistente (ou se quiserem, de maneira sustentável) o meio ambiente será preciso ir além da racionalidade instrumental. Nesse dia, o meio ambiente voltará a ser mais ambiente e menos meio. Atualmente, desconfio que ele é visto pelas empresas muito mais como um meio para se reduzir a pressão das comunidades sobre suas atividades produtivas e assegurar seus lucros, do que como o ambiente que nos cerca, dá sentido à nossa vida e é essencial para nossa sobrevivência.

sábado, 19 de junho de 2010

Leilão de fontes alternativas

 A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) informou hoje que 517 empreendimentos foram cadastrados para o leilão de fontes alternativas que será realizado no dia 19 de agosto. Juntos, os projetos somam 15.774 megawatts (MW) de capacidade instalada (mais que os 4,5 médios previstos na geração de Belo Monte). O leilão será voltado especificamente para contratação de energia proveniente de centrais eólicas, termelétricas movidas à biomassa (bagaço de cana-de-açúcar, resíduos de madeira e capim elefante) e pequenas centrais hidrelétricas (PCHs).
De acordo com a EPE, terá preferência de contratação a energia ofertada pelo menor preço às distribuidoras. O fornecimento começará em janeiro de 2013 e os contratos de energia de PCHs deverão valer por 30 anos, enquanto os de biomassa e energia eólica, por 20 anos. Do total de projetos cadastrados, 478 (ou 14.529 MW) já haviam sido inscritos para o leilão de energia de reserva, que será promovido nos dias 18 e 19 de agosto. Estes projetos foram automaticamente cadastrados para o leilão de fontes alternativas e podem optar pela participação em um ou outro.
No cadastramento aberto exclusivamente para o leilão de fontes alternativas, foram inscritos mais 39 projetos, com capacidade instalada de 1.209 MW. Destes, 26 são de centrais eólicas (645 MW), sete são de termelétricas à biomassa (429 MW) e seis são de PCHs (135 MW).

domingo, 30 de maio de 2010

Um sopro de energia renovável

Os gestores da política econômica têm a convicção de que crescimento econômico é uma panacéia para todos os males do país. Pobreza? Basta fazer a economia crescer, ou seja, incrementar a produção (consumo de energia) de bens e serviços e estimular os gastos dos consumidores, e a riqueza se espalhará de cima para baixo na sociedade. Contra o desemprego é só intensificar a demanda por bens e serviços, ofertando crédito e estimulando investimentos. Excesso de população? Basta fomentar o crescimento econômico e esperar que a transição demográfica resultante reduza as taxas de natalidade. Ora, as coisas não funcionam bem assim.
No pensamento hegemônico que vivemos nos últimos anos, o das idéias neoliberais e privatistas, cabe aos governos criar e preservar certas condições que permitam ao mercado operar. É o capitalismo financeiro que determina os fluxos de dinheiro, os lucros obtidos, as escolhas energéticas, mas também os problemas econômicos, as crises nos países. A chamada globalização financeira leva a situação em que o mercado decide, o mercado determina.
As consequências decorrentes dessa política neoliberal adotada levaram o mundo a produzir menores taxas de crescimento, maior desigualdade social e crises recorrentes, e que culminaram com os graves problemas enfrentados na atualidade como: a recessão-depressão econômica, a insegurança energética e alimentar e o aquecimento global. E agora, uma conjuntura de desemprego e ampliação da miséria. A OIT (Organização Internacional do Trabalho) indica novos 50 milhões de desempregados em 2009, principalmente mulheres e crianças, o que eleva o número de desempregados para até 340 milhões de pessoas no mundo.

Devemos nos lembrar sempre que a economia é parte da biosfera finita, que suporta o planeta Terra. E que a expansão da economia, afetando excessivamente o ecossistema circundante, começa a sacrificar o capital natural (como peixes, animais, vegetais, minerais e petróleo), que valem mais do que o capital criado pelo homem (estradas, fábricas, computadores e eletrodomésticos). Teremos, então, o que se pode denominar de um crescimento que produza “males” mais rapidamente do que bens - tornando-nos mais pobres, e não mais ricos. Podendo, em caso extremo, até colocar em risco a própria sobrevivência da humanidade.
No que chamamos de desenvolvimento sustentável a energia como “mola propulsora” da economia, tem um papel fundamental no combate ao aquecimento global e as mudanças climáticas recorrentes. E ai recai a importância das escolhas energéticas, que devem priorizar a redução das emissões de gases de efeito estufa (GEEs) e, assim, mitigar os impactos do aquecimento global. Tarefa urgente para ser cumprida, pois as evidências confirmadas cientificamente pelos relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC, sigla em inglês) da ONU, mostram o papel do homem na degradação ambiental principalmente devido ao uso e a produção de energia.

O tema ganhou manchetes de jornais em todo o mundo e reforçou a pressão para que governos alterem políticas econômicas, de desenvolvimento e industriais, de modo a causar menos danos ao meio ambiente. Organizações não-governamentais de todo o mundo lançaram-se numa nova onda de pesquisas que, no limite, sugerem a necessidade de se mudar o padrão de consumo adotado no mundo rico e desenvolvido. A pesquisa mais recente divulgada é da ONG internacional WWF, segundo a qual o investimento em eficiência energética deveria ser a ação mais imediata dos governos, enquanto as energias alternativas renováveis vão sendo desenvolvidas e consolidadas.

Constata-se que nosso país tem avançado em um modelo de desenvolvimento econômico e social que privilegia o uso intensivo de recursos naturais e o apoio a grandes empresas que são historicamente contrárias a ter limites no uso dos recursos. É este atual modelo econômico predatório que está sendo questionado, e que contribui pela desestabilização do planeta como um todo.

O Brasil alcançou em 2009 uma capacidade instalada de 106.301 MW com 2.180 usinas em operação, segundo dados do relatório de fiscalização da ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica). A participação atual na matriz energética nacional das hidrelétricas é de 71% da capacidade de geração do país, seguidas pelas termoelétricas que, segundo a ANEEL, são responsáveis por 23,6% do parque gerador.

O relatório da ANEEL mostra que os empreendimentos que entraram em operação comercial ao longo de 2008 geraram uma potência de 3.565,11 MW. Deste montante, 610,86 MW foram hidrelétricas, 463,32 MW pequenas centrais hidrelétricas, 266,93 MW eólicas e 2.224 MW de térmicas. O consumo de energia elétrica no Brasil somou 376.900 GWh em 2007, uma expansão de 5,4% em relação a 2006. Este é o maior índice de crescimento desde o fim do racionamento, segundo dados da EPE (Empresa de Pesquisa Energética).

Em 2008 o consumo atingiu 392.688 GWh, o equivalente a uma expansão de 4% sobre 2007, sendo que o aumento da demanda foi impulsionado pelo comércio. O consumo deste setor teve alta de 6,6% entre 2006 e 2007, superando a marca de 6% das residências e de 5% das indústrias.

No acumulado de 2009, o consumo totalizou 388.204 GWh, abaixo dos 392.688 GWh de 2008. O resultado no ano foi devido principalmente pela queda de 6% no uso de energia pelas indústrias no país, enquanto os segmentos residenciais e comerciais apresentaram altas de cerca de 6% cada, segundo a EPE. Verificou-se que ao longo de 2009, o mercado brasileiro de energia elétrica sofreu impacto da crise financeira internacional, porém seus efeitos se concentraram na classe industrial, como conseqüência da retração da atividade deste segmento.

O Ministério de Minas e Energia afirma que o consumo per capita no País aumentará 45% até 2017. E para atendê-lo em boa parte, será com “energia suja”, como mostraram vários depoimentos na recente audiência pública promovida pelo Ministério Público Federal para debater do Plano Decenal.

Para o ano de 2010, o consumo total de eletricidade no Brasil é estimado pela EPE em 455,2 mil GWh, o que equivale a um crescimento de 9,4% em relação a 2009. Segundo os cenários oficiais estima-se que entre 2010 e 2018 o consumo total de eletricidade no Brasil cresça a uma taxa média de 5,2% a.a., chegando a 681,7 mil GWh em 2018.

O que se pode afirmar é que grande parte da expansão, principalmente com as hidrelétricas amazônicas, será para atender ao consumo das empresas exportadoras eletrointensivas de alumínio, ferro gusa e celulose. Este setor já responde por cerca de 30% de todo o consumo de energia no País, com altos subsídios, pagos pela sociedade. Portanto, o interesse de outros países (EUA, China, Rússia, …) nessas indústrias é decorrente da possibilidade de beneficiarem-se do custo irrisório da energia publicamente subsidiada na Amazônia às custas de impactos ambientais, culturais e sociais, fruto de uma política sem debate público.

Para atender aos cenários traçados, o plano do governo para geração de energia elétrica nos próximos dez anos prevê, além do aumento de usinas termelétricas - as mais poluentes -, impactos socioambientais envolvendo a construção de usinas hidrelétricas na região Amazônica, e a reativação do polêmico plano de construção de novas usinas nucleares no país, inclusive duas delas no Nordeste brasileiro. Por tudo isso e muito mais, não faz sentido que os Planos Decenais e de Expansão da Oferta de Energia sejam levados adiante pelo governo federal nos ternos em que estão. A sociedade e o saber técnico precisam ser respeitados.

A expansão de energia

Essas contas de energia são sempre bastante controversas. Existe um planejamento que avalia sempre uma demanda futura e, portanto, tenta suprir essa necessidade com a construção imediata de hidrelétricas e usinas com outras fontes de energia. Nós vimos que, no ano passado, em função da desaceleração econômica, o Brasil não consumiu tanta energia quanto se esperava.

São questionáveis as informações técnicas relacionadas à construção dos cenários utilizados para alimentar a modelagem sobre as projeções de consumo energético. Historicamente, o Setor Elétrico tem feito projeções com base na premissa do crescimento da economia baseado em taxas acima das atuais e que geram “previsões” irreais do consumo energético. Por exemplo, em 1987, a projeção para 2005 foi 54% acima do consumo verificado. As projeções com horizontes mais curtos também sempre foram superestimadas. Por exemplo, em 1999, o consumo projetado para 2005 foi 14% maior que o ocorrido.

A correlação do aumento de consumo de eletricidade com o PIB não se comprova e, portanto não pode ser usada como norteadora do planejamento. Jamais o consumo de eletricidade vai crescer 5%, 10% ao ano e até mais, como foi durante os anos 1940 a 1990, quando o país estava ainda se eletrificando. Hoje, o país está praticamente eletrificado, de um modo ou de outro, embora a eletrificação por meio da rede rural ainda prossiga, e embora o Luz para Todos seja um investimento necessário e considerável na ampliação dos mercados para geração e distribuição.

O fato de o consumo de energia no Brasil ter sido sempre superestimado criou e cria expectativas de projetos de obras de grande porte que nunca precisariam ser construídos, e distorções que impossibilitaram, ao longo do tempo, o planejamento racional sustentável do futuro energético do país.

As projeções feitas pela EPE da demanda de energia elétrica para os próximos anos indicam um forte crescimento do consumo a partir de 2010, justificadas na análise otimista das boas perspectivas para a economia brasileira no mesmo período. Em função dessa visão da economia brasileira, as projeções de demanda de energia elétrica para o período 2009-2018 partiram de uma trajetória esperada de crescimento do PIB de 0,5% em 2009, 6% em 2010 e, daí em diante, 5% ao ano, em média, entre 2011 e 2018.

Estas análises estão contidas no Plano Decenal de Expansão de Energia (PDEE), produzido pela EPE para orientar as ações e decisões relacionadas à expansão da produção de energia nos próximos dez anos.

Embora o Brasil, seja um dos países com maior possibilidade de ter uma matriz energética relativamente limpa e renovável, “recorre à energia suja” em seu Plano Decenal de Expansão de Energia. Dos 55 mil MW de nova potência previstos nesse documento, nada menos que 20,8 mil MW (quase 40%) virão de fontes térmicas, aí incluídas as usinas a gás, carvão, diesel, óleo combustível ou biomassa, além das nucleares; até 2017 serão 68 novas unidades movidas a combustíveis fósseis, com 15,44 mil MW; e as emissões na área passarão de 14,43 milhões de toneladas anuais para 39,3 milhões de toneladas - na hora em que o mundo, assustado com as mudanças climáticas, procura reduzir as emissões.

Essas evidências desnudam que a política energética do Brasil não está baseada nos interesses reais e maiores de um desenvolvimento sustentável, a curto, médio e longo prazo. O foco é de interesses político partidários a serviço de interesses econômicos de grandes grupos multinacionais.

O PDEE prevê uma grande expansão nas usinas termelétricas, consideradas hoje uma das fontes mais poluentes de geração de energia e um grande vilão no combate às mudanças climáticas. O plano prevê a criação de 82 usinas termelétricas nos próximos dez anos, 74 delas de fontes fósseis. Hoje, existem no Brasil 77 térmicas instaladas, e se todas as usinas previstas no PDE forem concretizadas, as emissões de gases de efeito estufa provenientes de termelétricas no país subirão 172%. Uma completa contradição, com o Plano de Mudanças Climáticas lançado recentemente pelo Governo Federal, se comprometendo em reduzir a emissão de gases de efeito estufa.

Quadro preocupante é o que mostra o Plano Decenal: enquanto as usinas eólicas passarão de 0,3 para 0,9% da potência instalada no país, as biomassas (bioeletricidade) passarão a responder por 2,7% (hoje, 1%), as usinas térmicas aumentarão sua participação de 0,95 para 5,7% (mais de 500%). A expansão pífia prevista para a energia eólica contrasta com a as informações do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), que afirma que os ventos poderiam atender a pelo menos 60% de todo o consumo nacional de energia, já que em mais de 71 mil km2 do território nacional a velocidade dos ventos é adequada. Não por acaso, que Europa, Ásia e Estados Unidos estão investindo pesadamente nessa área e na energia solar.

Logo o que se constata é que os atuais Planos de Energia Elétrica não refletem uma visão de sustentabilidade. O Governo Federal tem priorizado obras de grande porte e alto impacto negativo para a sociedade e o ambiente, além de privilegiar tecnologias caras e ultrapassadas. Desta forma, reproduz um modelo energético arcaico, não traz avanços para o setor e agrava os problemas já existentes. O Brasil pode e deve promover um modelo energético sustentável nacional e regional e assumir uma posição de destaque internacional ao desenvolver seu enorme potencial em eficiência energética e energias renováveis.

O que a sociedade brasileira vem condenando e não aceita mais é a falta de transparência sobre as escolha das opções energéticas, impedindo que ela tenha informações, e se manifeste, sobre como e onde seu dinheiro está sendo investido. Os custos econômicos, ambientais e sociais de usinas nucleares no Nordeste do Brasil, assim como de hidroelétricas na Amazônia, são altíssimos, e nada pode explicar tamanha insistência com projetos tão desnecessários para o país e tão ineficazes em termos de geração de energia elétrica.

Tarifas mais caras do mundo

Tradicionalmente, as tarifas de energia elétrica no Brasil ficavam muito abaixo das vigentes nos países ricos, que são fortemente dependentes de petróleo importado. No Brasil, as hidrelétricas respondem por 2/3 da energia elétrica produzida no País com custo praticamente zero para o combustível, que é a água.

O sistema brasileiro prevê um “custo para a água” basicamente para cobrir despesas de compensação ambiental aos governos estaduais e municipais. Nos Estados Unidos e na Europa, a energia elétrica é gerada a partir de combustíveis fósseis, especialmente o carvão e derivados de petróleo. A grande exceção é a França, onde 75% da energia provêm de centrais nucleares.

A inversão ocorreu nos últimos dez anos, com os fortes reajustes para as tarifas do setor elétrico. Entre dezembro de 1995 e o final de 2005 a ANEEL reajustou as tarifas residenciais em 386,2%, quase o dobro do reajuste da inflação aferida pelo IPCA no mesmo período, que acumulou variação de 210,15%.

Os reajustes para as residências, porém, ficaram abaixo dos registrados para o setor industrial nesse mesmo período. No período de dez anos, a agência reguladora reajustou as tarifas pagas pela indústria em 476,44%.

Os reajustes mais acelerados para a indústria foram maiores no governo Lula, que inverteu a tendência registrada no governo anterior. Na gestão de Fernando Henrique Cardoso, os aumentos foram maiores para os consumidores residenciais e mais baixos para as indústrias, embora também muito acima do aumento da inflação no mesmo período.

As tarifas residenciais de energia elétrica no Brasil estão entre as mais elevadas do mundo e custam cerca de 65% acima dos preços pagos pelos consumidores residenciais norte-americanos. Os preços pagos no Brasil estão acima até dos vigentes em alguns países europeus, como Espanha e França, embora fiquem abaixo dos registrados na Irlanda, Portugal e Inglaterra. Conforme dados da ANEEL a tarifa média das 65 distribuidoras de energia no País está em torno de R$ 327,21 por MWh, o que corresponde a cerca de US$ 172 (câmbio de R$ 1,90 por dólar).

Nos Estados Unidos, pelos dados da EIA (Energy Information Administration), agência do governo americano, a tarifa média residencial está em torno de US$ 104 por MWh. Na França o MWh estava em torno de US$ 144, enquanto na Espanha a tarifa média oscilava em torno de US$ 165.

Já em Portugal, Inglaterra e Irlanda os preços estavam acima dos praticados no Brasil, com tarifas de US$ 184 por MWh, US$ 186 e US$ 258 por MWh, respectivamente. No México, a tarifa média estava em US$ 101 por MWh. Os dados referentes aos países europeus e ao México foram extraídos da IEA (International Energy Agency), formada pelos principais países consumidores de energia do mundo.

Sem dúvida para essa exorbitante tarifa contribui a descoberta feita pelo TCU, o Tribunal de Contas da União, de algo que há muito se suspeitava que os próprios contratos de concessão contem gravíssimas falhas no mecanismo de reajuste tarifário, fazendo com que a população, desde o fim da década de 90, venha sistematicamente pagando aumentos de tarifa superiores aos preconizados, porque a fórmula usada no contrato está contra a lei. O que significa uma transferência de mais de 1 bilhão de reais por ano pagos indevidamente pela população.

Fontes renováveis

O mundo está diante do desafio de alterar as fontes atuais de energia que movem a economia do planeta. Petróleo e gás natural ainda respondem por mais de 50% da matriz energética mundial, enquanto apenas 13% das fontes de energia do mundo provêm de fontes renováveis como hidroeletricidade, biomassa, energia eólica e solar.

Hoje no Brasil, as energias renováveis respondem por 46% da matriz de energia elétrica do país, o que faz do Brasil modelo para o mundo, cuja média mundial é de 12% a 13%. Nos países desenvolvidos, as energias renováveis equivalem a apenas 7% da matriz elétrica.

Em eficiência energética e em economia de energia o PROCEL (Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica) - investiu R$ 971 milhões e obteve uma economia de energia de 24.598 GWh/ano, o equivalente à geração de uma usina com capacidade para 6.612 MW. Daí pode-se verificar o enorme potencial dos programas de conservação de energia.

O aproveitamento das energias renováveis é relegado nos Planos Decenais, enquanto deveriam ser encaradas como a grande solução para a questão energética. Apesar de a Europa planejar que 20% de sua matriz energética seja composta por novas fontes renováveis até 2020, o Brasil segue desconsiderando essa tendência internacional apesar de possuir potencial para suprir totalmente a demanda nacional atual e também para fornecer eletricidade a locais remotos que não a possuem ou que utilizam outras fontes como a geração a diesel ou a gás. Essas fontes poderiam também resolver problemas atuais do setor como o pico de consumo nas regiões Sul e Sudeste causado por chuveiros elétricos e que pode ser reduzido por energia solar térmica, beneficiando a todos, inclusive às concessionárias. Assim a demanda poderia ser mais balanceada e o fator de carga elevado.

As energias renováveis somente foram abordadas no PDEE através do PROINFA (Programa de Incentivo as Fontes Alternativas de Energia), que é um programa que limita a quantidade de energia que deverá ser gerada, ao invés de adotar estas fontes de forma contínua e definitiva. A limitação temporal acaba inclusive por dificultar investimentos privados no setor, pela ausência de perspectiva quantitativa maior e de longo prazo. Nem a energia solar térmica nem a solar fotovoltaica são consideradas, apesar do imenso potencial que o país possui e das iniciativas de suporte já existentes por parte da sociedade civil (por ex. do Instituto Vitae Civilis) e em focos governamentais locais (por ex. projeto de lei de energia solar térmica para a cidade de São Paulo). O Plano não analisa nem propõe soluções aos problemas que já ocorrem no planejamento e na implementação do PROINFA.

O custo total previsto pela Eletrobrás para o PROINFA será de R$ 1,816 bilhão em 2010, segundo Plano Anual (PAP), orçamento aprovado pela diretoria da ANEEL. Do total, as distribuidoras pagarão R$ 1,640 bilhão, as transmissoras, R$ 174,046 milhões, e as permissionárias cooperativas, R$ 1,960 milhão. O número de empreendimentos previstos para operar em 2010 dentro do PROINFA, segundo a Eletrobrás, representam um total de 3.137 MW de potência instalada e uma geração prevista de 10.601.823,59 MWh.

A gravidade da situação climática no mundo exige que governantes (e os candidatos) se posicionem quanto à nossa matriz energética. Não faz sentido continuar destinando às usinas termoelétricas, altamente poluidoras, boa parte dos leilões de energia. É preciso dar muito mais força à energia eólica e solar, além de biocombustíveis produzidos adequadamente. Não é faz sentido ignorar os estudos científicos que indicam ser possível ganhar até 30% no consumo de energia com políticas eficazes de eficiência e conservação, mais 10% com redução de perdas em linhas de transmissão, outro tanto com repotenciação de geradores defasados. Esses caminhos custariam algumas vezes menos que o da implantação de novas mega-usinas e ainda evitariam conflitos sociais e ambientais.

Projetos faraônicos propostos pelo governo federal encobrem questões estruturais cuja solução é sempre adiada. A História mostra que a cultura predominantemente aventureira, nômade e exploratória resultou, com raríssimas exceções, apenas em atraso, desigualdades socioeconômicas e falta de melhores perspectivas para o futuro. Por outro lado, as culturas em que predominam os valores do trabalho, da construção e da permanência levaram ao florescimento das mais prósperas sociedades que conhecemos.

Infelizmente, nosso País tem sido objeto da primeira modalidade ao longo dos últimos cinco séculos. Das entradas e bandeiras às atuais derrubadas e queimadas de árvores da Amazônia, o que se constata é o enriquecimento de uns poucos em detrimento de uma multidão de pessoas atoladas no lamaçal da pobreza e da miséria.

O desafio de gerar energia com baixa emissão de carbono tem um longo caminho pela frente e cada vez mais é urgente a implementação de políticas públicas de incentivo a energias renováveis e limpas, e a eficiência energética.

Nesse sentido, boas notícias parecem mostrar avanços: dados que constam no documento Tendências Mundiais dos Investimentos em Energia Sustentável 2009, divulgado pelo PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) em agosto de 2009, apontam que o ano de 2008 foi o primeiro em que houve mais investimentos em fontes energéticas renováveis do que na energia nuclear e na que exige alto uso de carvão. Foram alocados US$ 155 bilhões em empresas e projetos de energias limpas, principalmente na eólica e solar.

Diversos países vêm fazendo o dever de casa e planejando seus investimentos em fontes alternativas de energia. No entanto, o Brasil parece seguir uma estratégia de desenvolvimento que vai na contramão dessa realidade. O país que possui 46% da energia produzida proveniente de fontes renováveis é o mesmo que apresenta uma série de contradições em relação à questão energética, como por exemplo, o incentivo à ampliação de termelétricas e elevados investimentos para exploração de petróleo, com a descoberta da camada de pré-sal. O Plano Decenal de Energia tem sido duramente criticado por ambientalistas e alguns especialistas do setor energético, pelas opções adotadas.

Sustentabilidade energética

A atual política energética e ambiental adotada, lamentavelmente tem levado o Brasil a caminhar na contramão do que vem sendo implementado em várias partes do mundo, a opção pelo uso de fontes renováveis de energia. Não só na geração de energia elétrica, mas também no aquecimento de água solar que evita o consumo de eletricidade nos chuveiros.

Na atual política de expansão da oferta de energia para o país, fica evidente o tratamento especial dado para a construção de mega-hidrelétricas na região Amazônica, de termoelétricas a carvão mineral e óleo combustível e a instalação de usinas nucleares.

Esse gigantismo para mega-obras, típico de mentes tecnocráticas e autoritárias, beira a insensatez, pois, dada a crise ambiental global, todos recomendam obras menores, que valorizam matrizes energéticas com fontes de energia renováveis, que menos agridem o meio ambiente.

Se há um país no mundo que goza das melhores oportunidades ecológicas e geopolíticas para ajudar a formular um outro mundo necessário para toda a humanidade, este país é o nosso. Ele é a potência das águas, possui a maior biodiversidade do planeta, as maiores florestas tropicais, a possibilidade de uma matriz energética menos agressiva ao meio ambiente - à base da água, do vento, do sol, das marés, das ondas do mar e da biomassa. Entretanto, ainda não acordamos para isso. E tudo isso nós temos em abundância. Nos fóruns mundiais vive em permanente estado de letargia política, inconsciente, “deitado eternamente em berço esplêndido”. Não despertou para as suas possibilidades e para a sua responsabilidade face à preservação da Terra e da vida.

O que se constata em nosso país são as várias alternativas existentes para aumentar a oferta de energia sem a construção de novas centrais, através da eficiência energética e do uso de fontes renováveis de energia para a diversificação e complementação de nossa matriz energética. Simplesmente essas vantagens comparativas não são levadas em conta. Ainda a tempo de freiar a construção destas monstruosidades que são as mega-hidrelétricas na Amazônia, as térmicas a combustíveis fósseis, e as usinas nucleares, porque há alternativas melhores.

A seguir reproduzimos as opções apresentadas pelos estudiosos da UNICAMP, USP, CHESF, que levam em conta as possibilidades de redução da energia na demanda tanto do lado da oferta, como do lado do consumo.

Os maiores potenciais de redução da demanda no lado da oferta são:

Repotenciação de usinas hidroelétricas

No PDEE, não há menção à repotenciação das centrais geradoras existentes, mesmo que estudos reconhecidos já tenham sido desenvolvidos pelo IEE (Instituto de Eletrotécnica e Energia) da USP, UNICAMP e pelo WWF indicando possibilidades de repotenciação e de novos conceitos para realização de despachos de usinas que poderiam aproveitar melhor o sistema de reservatórios de bacias hidrográficas em coordenação com a operação de termoelétricas existentes.

Um estudo da UNICAMP calculou que a repotenciação (recuperar equipamentos desgastados de usinas com mais de 20 anos: turbinas, gerador, rotor) acrescentaria mais de 11 mil MW de potência, quase tudo o que o PAC planeja acrescentar até o final de 2010, e praticamente o dobro das duas usinas do Madeira, que terão uma potência de 6.500 MWh, em torno de 4.000 MW médios de energia firme. O custo por MW da repotenciação é de 1/3 a 1/5 do custo do MW de uma usina nova. Segundo cálculos realizados o custo total de repotenciação das 67 usinas seria R$ 5,4 bilhões para 8 mil MW. O custo inicial das usinas do Rio Madeira seria R$ 25,72 bilhões, além do custo adicional estimado entre R$ 10 e R$ 15 bilhões para as linhas de transmissão. A repotenciação não implica em nova obra civil, pois não há nenhuma modificação no ponto de vista ambiental e social.

Essas melhorias poderiam acrescentar até 10% do total de energia gerada com a mesma capacidade instalada de geração hidrelétrica.

Os maiores obstáculos para um avanço do mercado da repotenciação são de ordem normativa e cultural. No primeiro caso, as geradoras são penalizadas caso não assegurem a energia firme proposta nos contratos, uma vez que a modernização dos equipamentos implica em indisponibilidade na faixa entre três e quatro meses. O outro ponto é o político, pois a reforma de uma usina não tem a mesma visibilidade que pode ser obtida por meio de uma obra nova. A modernização das usinas não elimina a necessidade de novas plantas, porém abre espaço para uma redução em escala da busca de novos projetos, de forma incisiva.

Redução de perdas no sistema de transmissão e distribuição

As perdas na transmissão e distribuição de eletricidade são consideráveis no país devido às longas linhas de transmissão e dificuldades de correto dimensionamento e manutenção da rede básica e dos transformadores, em grande parte, das empresas de eletricidade. O Tribunal de Contas da União afirma que o Brasil perde pelo menos entre 16% a 17% da energia que gera, principalmente na cadeia de transmissão e distribuição, quando um índice de perdas de 8% em 2020 poderá ser conseguido, por exemplo, através dos investimentos em P&D das concessionárias e do próprio CTEnerg.

Sistemas de co-geração e geração distribuída

A crescente preocupação com qualidade de energia e segurança e confiabilidade de suprimento tem estimulado o desenvolvimento e comercialização de tecnologias que possibilitam a geração e distribuição descentralizada de eletricidade e assim a redução de custos com a transmissão e, consequentemente, os impactos ambientais associados a esses empreendimentos. A produção combinada de calor e eletricidade, com enorme potencial, é sub-explorada no país. A contribuição da co-geração e geração descentralizada poderia atingir 10 a 15% da capacidade instalada em 2010. Estima-se também que em 2020, 26% da geração de energia ocorrerão através de sistemas de cogeração e geração distribuída, sendo 22% a partir de fontes renováveis e o restante com sistemas a gás natural.

Melhoria de eficiência de termelétricas

A maior parte das termelétricas construídas no país são usinas de ciclo aberto, o que significa uma eficiência de cerca de 35%, em lugar de usinas de ciclo combinado que podem chegar a 60-65% de eficiência.

Florestas energéticas

Só no Nordeste do Brasil, poderiam vir a ser produzidos mais de 22.500 MW médios, segundo estudos realizados por técnicos e engenheiros da CHESF, com a plantação de florestas energéticas.

Potenciais de redução da demanda no lado do consumo:

Como já foi dito, não se pode considerar metas de redução de consumo de energia elétrica sem uma revisão da política industrial que beneficia a ampliação de setores eletrointensivos produtores de bens de baixo valor agregado para exportação. As indústrias que compõem o setor eletrointensivo consomem cerca de 30% da energia do país, geram pouco emprego e causam grandes danos sociais e ambientais. Enquanto isso existe no Brasil cinco milhões de domicílios sem energia elétrica, cuja demanda, para ser atendida, necessitaria da produção de 800 MW de energia, o equivalente a soma do consumo de apenas três indústrias de alumínio no Brasil.

Outros potenciais de redução do consumo estão nas seguintes áreas:

Motores industriais

Estimativas apontam que a evolução da eficiência energética, de 2000 a 2020, será em média de 20% para os motores industriais. Além da troca de motores, a opção de utilizar controladores de velocidade resulta em importantes economias de eletricidade. Podem ser utilizados em bombas, ventiladores e compressores, com uma economia que pode alcançar de 15 a 40%, e para compressores, aproximadamente, 5%.

Iluminação

Cerca de 17% do consumo total de energia elétrica está associado a produção de luz, incluindo a iluminação pública. As tecnologias de iluminação têm avançado significativamente nas últimas décadas. Há ainda um grande potencial de troca de lâmpadas incandescentes por lâmpadas de descarga. Existe um enorme espaço para redução de consumo, através de avanços na tecnologia LED e na sua utilização em projetos arquitetônicos e luminotécnicos, além da maior utilização de sensores de presença, que devem ser previstos nos códigos de obras.

Equipamentos eletrodomésticos e de refrigeração

Equipamentos usados para refrigeração e condicionamento ambiental (ar-condicionado) têm um potencial significativo de redução de consumo que tem sido buscado através do PROCEL. A introdução de equipamentos com níveis de consumo como aqueles disponíveis no mercado internacional possibilitariam a imediata redução em até 40%, comparados com os níveis atuais de consumo desses equipamentos no Brasil. A Lei de Eficiência Energética é peça fundamental para garantir um contínuo aperfeiçoamento tecnológico dos equipamentos.

No Brasil é crescente a utilização de equipamentos que possuem o modo stand-by e é possível assumir que cerca de 10% do consumo dos setores residencial e comercial são consumidos por esses equipamentos. Para reduzir esse desperdício, é preciso implementar um padrão mandatório limitando a 1 W a potência em stand-by dos equipamentos.

Aquecimento de água residencial

Os chuveiros e os aquecedores elétricos de acumulação consomem cerca de 8% de toda a eletricidade produzida no país e respondem por entre 18% a 25% do pico de demanda do sistema elétrico, tornando sua substituição por sistemas mais eficientes uma prioridade a ser considerada no planejamento energético.

Como os custos incorridos com a implementação das medidas de eficiência e uso racional de energia custam menos que os valores necessários para produzir e distribuir a nova geração de eletricidade considera-se que essas economias poderiam ser utilizadas para financiar maior uso de fontes renováveis, maior uso de cogeração e geração distribuída.

Três motivos centrais são apontados que fazem com que o Brasil esteja perdendo a oportunidade de se tornar uma liderança em energias renováveis, com grandes probabilidades de sujar sua matriz energética:

Ampliação de termelétricas que utilizam combustíveis fósseis, fundamentada na segurança energética. O Ministério de Minas e Energia escolheu expandir essa fonte para garantir por um menor custo da energia e afastar o risco de apagão.

Forte aposta na exploração da camada pré-sal, mostrando que o Brasil ruma contrário ao movimento internacional de migração para uma economia menos carbono intensiva;

Ausência de investimento governamental diretamente em energias renováveis. Recursos são aplicados em ações pontuais que integram diversos programas, como por exemplo, a pesquisa e o incentivo de leilões de energia, como o que está previsto para a energia eólica. Porém, como não há um orçamento específico para as renováveis, também não é possível mensurar quanto o país destina para esse fim de uma maneira credível.

O que a sociedade brasileira condena e não aceita mais é a falta de transparência sobre as escolha das opções energéticas. O debate energético atual se baseia em um modelo “ofertista” com recursos fósseis, com mega-hidroelétricas e com usinas nucleares. Ele precisa e deve ser substituído por um projeto diferente, contemporâneo dos desafios e possibilidades do século XXI, para que tenhamos segurança energética em longo prazo, com a diversificação e a complementaridade da matriz energética nacional, e com fontes renováveis de energia, levando assim em conta, um modelo de desenvolvimento sustentável.

Logo, o desafio consiste em uma mudança de paradigma, em construir um novo modelo econômico e social a serviço de um novo modelo democrático que traga toda a humanidade a um padrão de vida digno, com acesso à alimentação adequada, a saúde, a educação e oportunidades de trabalho. Visto que, para continuar o crescimento da produção e do consumo atuais, como é proposto pelo modelo vigente, precisaríamos de mais de um planeta Terra, pois hoje já são consumidos recursos naturais a uma taxa 30% maior do que a Terra tem condições de repor. Aqui reside o limite do atual modelo de desenvolvimento econômico adotado: o limite da Terra.

Bibliografia

Agenda Elétrica Sustentável 2020 “Estudo de Cenários para um setor elétrico seguro, eficiente e competitivo”. Pesquisador Responsável: Gilberto Jannuzzi, UNICAMP e IEI, Coordenação: WWF-Brasil, Apoio: Embaixada Britânica no Brasil - 2007.

Relatório da WWF-Brasil “A repotenciação de usinas hidrelétricas como alternativa para o aumento da oferta de energia para o aumento da oferta de energia no Brasil com proteção ambiental (2004).

[R]evolução Energética - Perspectivas para uma Energia Sustentável. Greenpeace - 2007.

Plano Decenal de Expansão de Energia Elétrica 2006 - 2015, Empresa de Planejamento
Energético (EPE), 2006.
Plano Decenal de Expansão de Energia Elétrica 2007 - 2016, Empresa de Planejamento Energético (EPE), 2007.
Plano Decenal de Expansão de Energia Elétrica 2008 - 2017, Empresa de Planejamento Energético (EPE), 2008.
ANEEL - Superintendência de Fiscalização dos Serviços de Geração - Relatórios de Fiscali­zação, 2008.
*Heitor Scalambrini Costa
Professor Associado da Universidade Federal de Pernambuco
Graduado em Física pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP/SP), Mestrado em Ciências e Tecnologias Nucleares na Universidade Federal de Pernambuco e Doutorado em Energética na Universidade de Marselha/Comissariado de Energia Atômica-França.

domingo, 16 de maio de 2010

Conferência Internacional ETHOS

Esta semana (13 e 14/05) participei da Conferência Internacional ETHOS - O Mundo sob Nova Direção, em São Paulo.

Foi muito interessante, tendo em vista que esta foi a primeira vez que participei. Dentre as apresentações, todas muito boas, gostei da palavras de Leonardo Boff e da palestra do André Trigueiro. O primeiro, sempre muito espiritualizado e humano, passou um mensagem muito interessante sobre a inter-relação existente entre os seres humanos. Já André Trigueiro foi enfático, cômico e crítico. Não exitou em citar bons e maus exemplos de cidadania, inclusive sobre as "vantagens" da grande produção de carros, os impostos e o financiamento de campanhas que ela proporciona.

Tive o privilégio de conversar com estas duas personalidades, e quando estava para tirar esta foto com Leonardo Boff, o André Trigueiro passou e deixou um beijo na rosto do teólogo e escritor.
Umas das críticas que ouvi sobre o evento foi a falta de novidades.
Por outro lado, não achei interessante a proposta do ETHOS em criar um novo índice empresarial. Acredito ser mais válido a melhoria dos existentes a criação de um novo. Seria um desperdício de tempo e conhecimento, tendo em vista que o que realmente falta é um índice melhor estruturado e confiável.

Sobre este último assunto, estou preparando um texto que enviarei à Ana Luiza Herzog, repórter da revista Exame e uma das participantes da discussão sobre o tema Indicadores de Sustentabilidade Empresarial.

Domenico Machado

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Câmara aprova meta de energia alternativa

Agência Câmara

Quarta-feira, 05 de maio de 2010

SÃO PAULO - Segundo o texto aprovado por comissão da Câmara dos Deputados, até 2018, as fontes alternativas de energia devem abastecer no mínimo 10% do consumo nacional.


A Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio aprovou hoje o estabelecimento do prazo até o ano de 2018 para que pelo menos 10% do consumo anual de energia elétrica no País sejam provenientes de fontes alternativas, como solar, eólica e aquela produzida a partir da biomassa.

Atualmente, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), essas fontes representam 6,18% da matriz de energia elétrica do Brasil, dominada pela produção hidrelétrica (68,09%). O dado da Aneel não inclui a energia solar, cuja produção é considerada insignificante, sendo usada quase exclusivamente no aquecimento de água.

Consumidor livre

A medida está prevista no Projeto de Lei 3986/08, do senador Renato Casagrande (PSB-ES), que recebeu parecer favorável do relator, deputado Dr. Ubiali (PSB-SP). Conforme o texto aprovado, cada distribuidora e cada consumidor livre deverá comprovar anualmente ao Ministério de Minas e Energia o
cumprimento da meta, conforme escalonamento que será previsto por lei.

Consumidor livre é aquele que, atendido em qualquer tensão elétrica, tenha exercido a opção de compra de energia elétrica, conforme as condições previstas (Lei 9074/95). Fábricas, shoppings e indústrias que estão enquadrados nesta categoria, por exemplo, podem hoje escolher de quem comprar energia.
Dr. Ubiali admite que a fixação de metas para a utilização de energias de fontes alternativas pode representar uma elevação “marginal” do custo da energia consumida. Apesar disso, ele destaca que “os benefícios ambientais associados ao seu emprego e o caráter estratégico da diversificação das fontes produtoras poderão representar, especialmente no médio e longo prazos, uma adequada compensação para esse aumento marginal de custo, que inclusive poderá ser transitório”.

Prazo de 20 anos.
O deputado de São Paulo lembra ainda que o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa) já apresenta metas para que as fontes eólica, de pequenas centrais hidrelétricas e de biomassa atendam a 10% do consumo no prazo de vinte anos, incorporados os prazos da primeira etapa.
Essa determinação, estipulada pela Lei 10.438/02, indicaria, na avaliação do parlamentar, que o estabelecimento de metas representa um direcionamento adequado para o País. “Nesse contexto, o projeto antecipa esse cronograma e o amplia, uma vez que não se limita às três fontes discriminadas pelo Proinfa”, acrescentou.

Iniciativa positiva
O diretor de Relações Institucionais da SOS Mata Atlântica, Mário Mantovani, considerou positiva a iniciativa, mas fez ressalvas quanto ao estabelecimento de um patamar mínimo para a produção de energia elétrica. “Garantir um piso de 10% da produção elétrica para as fontes alternativas é bom, mas seria mais eficiente se houvesse uma política pública de incentivo a essas fontes, tanto para a produção quanto para o consumo”, disse.
Sem essas políticas, disse o ambientalista, o País permanecerá “sob o terrorismo” dos defensores das fontes tradicionais, que supostamente ameaçam com o risco de apagão caso o Brasil não invista na construção de hidrelétricas, termelétricas e usinas nucleares, por exemplo.

Tramitação

O projeto tramita em caráter conclusivo e ainda será analisado pelas comissões de Minas e Energia; e de Constituição e Justiça e de Cidadania. Isso significa que ele não precisa ser votado pelo Plenário, apenas pelas comissões designadas para analisá-lo. O projeto perderá esse caráter em duas situações: - se houver parecer divergente entre as comissões (rejeição por uma, aprovação por outra); - se, depois de aprovado pelas comissões, houver recurso contra esse rito assinado por 51 deputados (10% do total). Nos dois casos, o projeto precisará ser votado pelo Plenário.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Setor de energia deverá receber R$ 951 bi em investimentos até 2019

Publicada em 04/05/2010
O setor energético no Brasil deverá receber investimentos de R$ 951 bilhões entre 2010 e 2019, de forma a fazer frente à expansão prevista de 5,4% ao ano para o consumo final. As estimativas são da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), que apresentou hoje o Plano Decenal de Expansão de Energia 2019 (PED 2019), que apresenta uma projeção de que o consumo total de energia no país atinja 366 milhões de toneladas equivalentes de petróleo (TEP), conta 228 milhões de TEP em 2010.

O setor industrial deverá liderar a expansão o consumo, passando de uma fatia de 37,4% este ano para 40,1% em 2019. Em contrapartida, o setor de transportes, estimulados por medidas de eficiência energética, reduzirão a participação de 30,6% para 29,7% em igual período. Outro setor que encolherá na participação será o residencial, caindo de 10,8% para 8,6%.

Do total de investimentos previstos, R$ 214 bilhões serão feitos para a oferta de energia elétrica, sendo R$ 175 bilhões em geração e R$ 39 bilhões em transmissão.

O setor de petróleo e gás natural ficará com outros R$ 672 bilhões, sendo a maior parte, R$ 506 bilhões, para exploração e produção. Já os derivados ficarão com R$ 151 bilhões e o gás natural com outros R$ 15 bilhões.

Os biocombustíveis consumirão R$ 66 bilhões em investimentos entre 2010 e 2019. A produção de etanol responderá por R$ 58 bilhões, a infraestrutura de dutos ficará com R$ 7 bilhões e a produção de biodiesel consumirá R$ 500 milhões.

(Rafael Rosas -Valor)

sábado, 1 de maio de 2010

EDP Bandeirante é destaque em relatório do BID

Práticas sustentáveis da distribuidora obtêm reconhecimento no relatório de sustentabilidade da instituição bancária.


São Paulo - A EDP Bandeirante, distribuidora de energia elétrica do Grupo EDP no Brasil, marca presença no Relatório de Sustentabilidade 2009 do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), na seção “Project Snapshot” de 2009.

A parceria com a instituição ocorre desde 2003, quando a EDP Bandeirante recebeu a aprovação de um empréstimo de 100 milhões de dólares para melhoria na rede de distribuição de energia elétrica em São Paulo.

A partir daí, a distribuidora passou a seguir à risca todos os procedimentos exigidos para os empréstimos do BID, inclusive os requisitos para as ações ambientais e sociais, informa a empresa em comunicado.

Foi em 2007 que a distribuidora foi além dos objetivos principais para a melhoria da distribuição de energia elétrica na sua área de atuação no interior do estado paulista, o que resultou neste importante reconhecimento.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

EDP Renováveis Brasil constrói novo parque eólico no Rio Grande do Sul

A EDP Renováveis Brasil, empresa do Grupo EDP, lançou em março, em Tramandaí, Rio Grande do Sul, a "primeira pedra" para construção do seu terceiro parque eólico no país.
Segundo o comunicado da EDP Renováveis Brasil, o novo parque eólico vai ampliar os 70 MegaWatts (MW) que tem atualmente, para quase 84 MW a capacidade da empresa gerar energia a partir do vento.

O Parque Eólico Tramandaí reforça a aposta do Grupo EDP em energia eólica, aliada à energia hídrica e térmica.

A EDP Renováveis Brasil: 55% EDP Renováveis e 45% EDP - Energias do Brasil

Jornal de Negócios - Portugal

Uso de energia renovável bate recorde no País

Uma das fontes de energia renováveis, a cana-de-açúcar teve aumento de mais de 10% no seu consumo, em 2009

terça-feira, 27 de abril de 2010

Leilão de energia alternativa tem 478 interessados

A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) recebeu o cadastramento de 478 empreendimentos interessados em participar do leilão de energia de reserva, que acontecerá no primeiro semestre de 2010, com foco em fontes renováveis. As usinas inscritas somam 14.529 megawatts (MW) de potência instalada, gerando energia elétrica a partir de centrais eólicas, termelétricas movidas a biomassa (bagaço de cana-de-açúcar, resíduos de madeira e capim elefante) e pequenas centrais hidrelétricas (PCHs).


A geração eólica foi a que recebeu o maior número de projetos cadastrados na EPE, num total de 10.569 MW de potência instalada. As térmicas a biomassa totalizaram 61 empreendimentos com 3.706 MW de capacidade instalada. Destes, a maior parte utiliza como fonte o bagaço da cana-de-açúcar. As pequenas centrais hidrelétricas, que se caracterizam por ter a potência limitada a 30 MW, representaram 18 usinas no cadastramento para o leilão, equivalentes a 255 MW.

O presidente da EPE, Mauricio Tolmasquim, diz em nota à imprensa que, juntamente com o leilão da hidrelétrica de Belo Monte, o leilão de reservas permitirá que o país tenha maior confiabilidade em seu sistema elétrico.

Na análise do resultado final do cadastramento pelas unidades da federação, o Rio Grande do Norte foi o maior número de projetos cadastrados, com 133 centrais eólicas (3.869 MW) e uma térmica a biomassa (48 MW). Outro estado com grande número de inscritos é o Ceará, com 106 parques eólicos (2.348 MW).

Segundo a EPE, o leilão contará com três produtos para negociação de térmicas à biomassa, sendo um para entrega a partir de 2011, outro para início em 2012 e outro para 2013. Os produtos de negociação de centrais eólicas e PCHs terão o início de fornecimento em 2013. A contratação de energia de reserva para o Sistema Interligado Nacional (SIN) tem o objetivo principal de aumentar a segurança e a garantia de fornecimento de energia elétrica ao País.

Após a fase de cadastramento, a EPE analisará o projeto e a documentação entregue pelos empreendedores, à luz das normas técnicas e legais vigentes, e concederá a habilitação técnica aos empreendimentos que atendam aos critérios estabelecidos A habilitação técnica da EPE é um dos requisitos necessários à participação no leilão.

Fonte: EXAME