terça-feira, 30 de março de 2010

O profissional de Sustentabilidade

Por Christie Bechara*

Ultimamente a palavra sustentabilidade tem sido empregada de modo corriqueiro e modista, relacionando qualquer negócio, serviço ou produto à ideia sustentável. Mas o que é a sustentabilidade afinal? Quem é o profissional de sustentabilidade que atua dentro de uma empresa / organização?

Sob a ótica empresarial, os conceitos que permeiam o tema devem ser abordados de maneira estratégica, pois é necessário redesenhar os negócios e mercados, sob a perspectiva do hoje para o amanhã, reavaliando os modelos de produção e considerando os impactos das atividades.

Então, para que uma organização transpareça a sustentabilidade de seu negócio é preciso que esta venha a adotar determinadas práticas e conceitos. É necessário também que conheça bem o assunto e esteja disposta a romper determinados paradigmas para alcançar um modelo inovador e responsável de gestão sustentável, que seja harmônico às ferramentas e considerações do triple bottom line - resultados de uma empresa medidos em termos sociais, ambientais e econômicos.

Mas isso nem sempre é tão simples como parece. Para uma empresa mudar sua estratégia de negócio é preciso realizar determinadas adaptações e alinhar sua missão, visão e valores ao conceito do desenvolvimento sustentável.

É aí que entra o profissional de sustentabilidade. É ele quem vai exercer o papel de agente de mudança. O perfil deste profissional deve ser de um líder capaz de criar e disseminar modelos inovadores, adepto a uma visão estratégica e integrada do negócio. Deve possuir habilidade de antecipar cenários, projetar o negócio no futuro e conciliar aspectos econômico-financeiros com sociais, ambientais e culturais. Além disso, é fundamental que saiba trabalhar com a diversidade e em equipes multidisciplinares, que tenha boa comunicação e relacionamento interpessoal, domine os indicadores de sustentabilidade (GRI, Ethos, ISE, DJSI) e conheça os parâmetros para o benchmarking.

O especialista em sustentabilidade deve influenciar as pessoas de maneira positiva, para que a empresa possa gerir e planejar seus negócios de forma sustentável, possibilitando assim a sua perenidade. Normalmente, o profissional responsável pela área está diretamente ligado à alta gestão da companhia, reportando-se aos diretores.

Conhecer profundamente um ou outro assunto da matriz sustentável de um determinado negócio ou setor, nem sempre é o suficiente para avaliar a gestão sustentável de maneira holística. Pelo contrário, isso pode vir a ser um fator negativo por engessar ou mesmo delimitar o campo.

Quem tem interesse em atuar na área de sustentabilidade deve procurar por uma instituição que ofereça um curso reconhecido pelo MEC e que atenda às necessidades de capacitação e atualização, ou seja, que promova constantes debates sobre a importância do assunto na nova lógica empresarial. Isso é indispensável para fortalecer as ações de conscientização e embasamento técnico necessários para o crescimento responsável do profissional.

*Christie Bechara é especialista em Sustentabilidade com MBA em Gestão de Sustentabilidade pela Fundação Getúlio Vargas.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Sustentabilidade energética começará nos transportes, diz Goldemberg

Fábio Reynol - Agência Fapesp - 24/03/2010

Carros e biocombustíveis

As pesquisas voltadas ao aprimoramento de veículos automotores deverão comandar as mudanças das matrizes energéticas de outros setores rumo à utilização de fontes renováveis.

A afirmação, de José Goldemberg, do Instituto de Eletrotécnica e Energia (IEE) da Universidade de São Paulo (USP), foi feita na Convenção Latino-Americana do Global Sustainable Bioenergy Project (GSB), que se realiza até amanhã na sede da FAPESP.

O físico Goldemberg, ex-reitor da USP e ex-ministro da Educação, ministrou a palestra "Como os biocombustíveis podem ajudar o mundo a cumprir as metas de redução de emissões de gases de efeito estufa?".

Onde o mundo gasta energia

Com dados de participação de fontes primárias de energia do ano de 2008, Goldemberg destacou que petróleo, gás natural e carvão - combustíveis emissores de gases de efeito estufa - respondem por cerca de 80% da energia consumida no planeta. "Cada ser humano consome o equivalente a 1,5 tonelada de carvão por ano", disse.

Segundo ele, para substituir esses combustíveis é fundamental saber em que áreas são empregados atualmente. "A destinação da energia mundial está basicamente dividida entre três setores: transportes, indústria e edifícios. E cada uma delas responde por cerca de um terço do consumo", disse.

A renovação de indústrias e edifícios seria muito mais demorada e onerosa. "Um prédio tem uma vida útil entre 50 e 100 anos. Por isso, renovar edifícios é trabalho para dezenas de anos", afirmou.

Por conta disso, para Goldemberg as mudanças das matrizes energéticas devem começar pelos veículos, que têm vida curta e podem ser transformados com uma rapidez muito maior. "Por esse motivo, se preocupar com transporte é um dos caminhos mais seguros para investir na sustentabilidade", destacou.

Importância do automóvel

Nesse sentido, segundo ele, a substituição da gasolina e de derivados de petróleo por biocombustíveis seria o primeiro passo para que os países comecem a reduzir emissões do principal gás de efeito estufa, o dióxido de carbono.

Goldemberg apontou que o petróleo move 30% dos veículos nos Estados Unidos. No restante do planeta, essa fonte é empregada em cerca de 13% dos sistemas de transporte e, no Brasil, sua participação é ainda maior. "Isso é porque o transporte aqui é basicamente rodoviário", disse.

Por meio de gráficos sobre o aumento de emissões de gases estufa em vários lugares, Goldemberg mostrou que os países em desenvolvimento têm aumentado a sua participação. Isso se deve, segundo ele, à industrialização acelerada de países como Índia e China.

De acordo com Goldemberg, os países têm mostrado um crescimento exponencial na frota de seus veículos, o que pode culminar com números semelhantes à da frota norte-americana, a maior do planeta, com quase um veículo por habitante.

"O automóvel ocupou um lugar na população do século 20 sem precedentes na história. E é algo de que elas dificilmente vão abrir mão", disse. O que torna, segundo ele, ainda mais necessárias as pesquisas em biocombustíveis.

Para Goldemberg, somente a biomassa e a eletricidade se mostraram ser fontes viáveis de substituição de petróleo em um futuro próximo. E só a biomassa teria a capacidade de substituir integralmente o combustível fóssil.

Veículos Híbridos e Elétricos

A eletricidade, segundo apontou o professor, tem sido empregada com êxito para melhorar o desempenho de automóveis a gasolina. Alguns exemplos de veículos híbridos bem-sucedidos nos Estados Unidos conseguem aumentar a autonomia de um carro em até dez vezes, mas ainda são modelos muito caros para competir com os convencionais a gasolina.

Por outro lado, Goldemberg não vê viabilidade na aplicação a curto prazo de veículos 100% movidos a eletricidade. "Essa tecnologia ainda está na infância. Estudos norte-americanos mostram que o carro elétrico assumirá um papel importante por volta de 2030, isso porque as nossas baterias atuais não são muito mais eficientes do que aquelas que nossos avós usavam no século 19", provocou.

O hidrogênio, uma das esperanças atuais para combustíveis limpos, também foi descartado por Goldemberg para a utilização no curto prazo. "O hidrogênio obtido hoje deriva principalmente do metano, um combustível fóssil", disse.

Energia solar líquida

Ao encerrar, o professor mostrou um gráfico das emissões de dióxido de carbono registradas no Estado de São Paulo que têm apresentado uma ligeira queda desde 1998. Goldemberg atribuiu esse resultado a uma recuperação da área verde do Estado e, principalmente, ao aumento gradual da utilização de etanol pela frota paulista. Estima-se que hoje metade dos veículos em São Paulo esteja rodando com etanol.

"Os biocombustíveis são a verdadeira energia solar encapsulada, convertida em líquido que substitui a gasolina. Portanto, a biomassa é uma área em que vale a pena investir em pesquisas para que seja sustentável e não uma fonte de destruição de ecossistemas", disse.

terça-feira, 23 de março de 2010

Sustentabilidade: tarefa para os líderes de mercado

Sérgio Abranches

A sustentabilidade não pode ser a busca solitária de um pequeno número de empresas dotadas de valores nobres. É resultado da ação coletiva dentro e entre as principais cadeias de suprimento da economia. No entanto, a liderança das maiores empresas é condição necessária para que se obtenha progresso real nessa busca.


Neste texto, Sérgio Abranches expõe sopre a importância da avaliação da cadeia de suprimentos para a sustentabilidade corporativa. De onde veem as matérias- primas? Sob quais condições de trabalho e ambientais?

Leia o artigo completo, clicando sobre o título (link).

E um texto complementar sobre cadeia de suprimentos "verde" em:
http://www.ecopolitica.com.br/2010/03/16/perigo-real-e-presente/#more-876

Abs,
Domenico Machado.

AUDIO: Participação da energia renovável nos investimentos subiu em 2009 (BRASIL MAIS UMA VEZ FICA PARA TRÁS)

CLIQUE NO TÍTULO - LINK (abertura do site da CBN)

Entrevista dada por Sérgio Abranches à rádio CBN.

"China: 500 bilhões de dólares; Estados Unidos 100 bilhões de dólares; e Coréia 84 bilhões de dólares em energias renováveis". Ou seja, a China ultrapassou os Estados Unidos.

"China: 13 mil MW (megawatt) em energia eólica" (equivale a uma Itaipu).

"Energias Renováveis: Cresceu na Europa, cresceu na Ásia e cresceu nos Estados Unidos...Não cresceu na América Latina, não cresceu na América dos Sul e não creceu no BRASIL".

"A gente vai bem no etanol, pelas vantagens que temos da cana (imagino que seja pelo clima, território extenso, mão de obra barata e pelo domínio da tecnologia). Do resto, a gente vai mal devido à uma política energética ultrapassada" (adaptação, José Goldemberg).

NÃO COLOCAREI O LINK DIRETO, POIS O SOM LIGA DIRETO AO ENTRAR NO BLOG.

Como criar emprego e renda e produzir riquezas sem gerar degradação ambiental?

Entrevista dada à CBN pelo jornalista André Trigueiro, apresentador do programa "Cidades e Soluções" da GloboNews. AUDIO ABAIXO:



Esta entrevista contribui para refletirmos sobre os candidatos à presidência e em quem votarmos. Imparcial, André aponta algumas características que devemos levar em conta quando fomos escolher nosso(a) futuro(a) presidente(a).
Eu já escolhi (presidente, senador, governador e dep. federal), e você?
Domenico Machado

Obras da usina solar neste mês

Até o fim deste mês (março de 2010), devem ser iniciadas as obras de construção da primeira usina solar comercial do Brasil, a ser instalada em Tauá, interior cearense. O empreendimento será tocado pela MPX, empresa do grupo EBX, de Eike Batista. A empresa, que anunciara a usina ainda em 2008, resolveu começar a instalação do projeto somente agora porque esperava pela aprovação de instrumentos estaduais de incentivo à produção da nova fonte de energia.
"A data ainda está indefinida, mas será ainda neste mês. E a previsão é de que, até o meio do ano, esta primeira fase da usina já esteja concluída", informa o presidente da Agência de Desenvolvimento Econômico do Estado (Adece), Antônio Balhmann. O presidente da MPX Energia, Eduardo Karrer, já havia informado na imprensa que a usina deverá iniciar com apenas 1 megawatt (MW) em sua primeira fase, o que envolverá investimentos de R$ 10 milhões (à 12 milhões), com apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Após isso, será ampliada até alcançar 5 MW, já autorizados pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Segundo Balhmann, essa ampliação da usina dependerá da capacidade de financiamento do Fundo de Investimento em Energia Solar (Fies), aprovado em 2009 e pioneiro no Brasil. O fundo, entre outras determinações, pagaria ao investidor a diferença entre tarifa de referência normal e a da solar, que ainda é mais cara. "A energia solar ainda é comercialmente inviável, e só se torna possível com este instrumento. A cada ano, com o Fies avançando, nós podemos ir ampliando a capacidade de produção da usina", esclarece Balhmann.
Quando anunciada, a MPX previa uma usina solar de 50 MW, custando US$ 250 milhões. O valor, posteriormente, como mostrou o Diário do Nordeste na edição de 15/04/2009, foi considerado caro pelos investidores, que buscavam barateamento dos equipamentos.
(Redação com Agências - Agência IN)

Cesio 137 - 20 anos de descaso (link aqui)

As vítimas da tragédia ocorrida em setembro de 1987 em Goiânia, depois que uma cápsula de Césio-137 foi inexplicavelmente “abandonada” nos escombros do Instituto Goiano de Radioterapia, carregada para uma oficina de sucatas e desmontada, e teve os fragmentos do material radiativo distribuídos entre dezenas de pessoas, inclusive crianças, estão, aos poucos, caindo no esquecimento.

Mas este não é um esquecimento qualquer: é, sim, o esquecimento da dignidade, do senso comum de justiça e da verdadeira história que as autoridades brasileiras encobriram a respeito das dimensões e responsabilidades pelo ocorrido.


http://www.agirazul.com.br/fsm4/_fsm/0000007e.htm

Audio: As consequências ambientais da construção da usina Belo Monte (André Trigueiro)

Clique no título! (link direto)
Entrevista dada à CBN pelo jornalista André Trigueiro, apresentador do programa "Cidades e Soluções" da GloboNews.

domingo, 21 de março de 2010

Brasil na contra-mão - Usina de Belo Monte - PA

Por Leonardo Boff

O Governo Lula possui méritos inegáveis na questão social. Mas na questão ambiental é de uma inconsciência e de um atraso palmar. Ao analisar o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) temos a impressão de sermos devolvidos ao século XIX. É a mesma mentalidade que vê a natureza como mera reserva de recursos, base para alavancar projetos faraônicos, levados avante a ferro e fogo, dentro de um modelo de crescimento ultrapassado que favorece as grandes empresas à custa da depredação da natureza e da criação de muita pobreza. Este modelo está sendo questionado no mundo inteiro por desestabilizar o planeta Terra como um todo e mesmo assim é assumido pelo PAC sem qualquer escrúpulo. A discussão com as populações afetadas e com a sociedade foi pífia.
Impera a lógica autoritária; primeiro decide-se depois se convoca a audiência pública. Pois é exatamente isto que está ocorrendo com o projeto da construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte no rio Xingu no Estado do Pará.

Tudo está sendo levado aos trambolhões, atropelando processos, ocultando o importante parecer 114/09 de dezembro de 2009, emitido pelo IBAMA (órgão que cuida das questões ambientais) contrário à construção da usina, a opinião da maioria dos ambientalistas nacionais e internacionais que dizem ser este projeto um grave equívoco com consequências ambientais imprevisíveis.

O Ministério Público Federal que encaminhou processos de embargo, eventualmente levando a questão a foros internacionais, sofreu coação da Advocacia Geral da União (AGU), com o apoio público do Presidente, de processar os procuradores e promotores destas ações por abuso de poder.

Esse projeto vem da ditadura militar dos anos 70. Sob pressão dos indígenas apoiados pelo cantor Sting em parceria com o cacique Raoni foi engavetado em 1989. Agora, com a licença prévia concedida no dia 1º de fevereiro, o projeto da ditadura pôde voltar triunfalmente, apresentado pelo Governo como a maior obra do PAC.

Neste projeto tudo é megalômano: inundação de 51.600 ha de floresta, com um espelho d'água de 516 km2, desvio do rio com a construção de dois canais de 500m de largura e 30 km de comprimento, deixando 100 km de leito seco, submergindo a parte mais bela do Xingu, a Volta Grande e um terço de Altamira, com um custo entre 17 e 30 bilhões de reais, desalojando cerca de 20 mil pessoas e atraindo para as obras cerca de 80 mil trabalhadores para produzir 11.233 MW de energia no tempo das cheias (4 meses) e somente 4 mil MW no resto do ano, para por fim, transportá-la até 5 mil km de distância.

Esse gigantismo, típico de mentes tecnocráticas, beira a insensatez, pois, dada a crise ambiental global, todos recomendam obras menores, valorizando matrizes energéticas alternativas, baseadas na água, no vento, no sol e na biomassa. E tudo isso nós temos em abundância. Considerando as opiniões dos especialistas podemos dizer: a usina hidrelétrica de Monte Belo é tecnicamente desaconselhável, exageradamente cara, ecologicamente desastrosa, socialmente perversa, perturbadora da floresta amazônica e uma grave agressão ao sistema-Terra.

Este projeto se caracteriza pelo desrespeito: às dezenas de etnias indígenas que lá vivem há milhares de anos e que sequer foram ouvidas; desrespeito à floresta amazônica cuja vocação não é produzir energia elétrica mas bens e serviços naturais de grande valor econômico; desrespeito aos técnicos do IBAMA e a outras autoridades científicas contrárias a esse empreendimento; desrespeito à consciência ecológica que devido às ameaças que pesam sobre o sistema da vida, pedem extremo cuidado com as florestas; desrespeito ao Bem Comum da Terra e da Humanidade, a nova centralidade das políticas mundiais.

Se houvesse um Tribunal Mundial de Crimes contra a Terra, como está sendo projetado por um grupo altamente qualificado que estuda a reinvenção da ONU sob a coordenação de Miguel d'Escoto, ex-Presidente da Assembléia (2008-2009) seguramente os promotores da hidrelétrica Monte Santo estariam na mira deste tribunal.

Ainda há tempo de frear a construção desta monstruosidade, porque há alternativas melhores. Não queremos que se realizem as palavras do bispo Dom Erwin Kräutler, defensor dos indígenas e contra Belo Monte: "Lula entrará na história como o grande depredador da Amazônia e o coveiro dos povos indígenas e ribeirinhos do Xingu".

Leonardo Boff é representante e co-redator da Carta da Terra.

http://www.ecoagencia.com.br/index.php?open=artigo&id===AUUF0dZhFaWJFbaNVTWJVU

BID quer elevar a 80% recursos para energia renovável

Cancún - O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) espera que, dentro de três anos, 80% de seus empréstimos a projetos de energia desenvolvidos pelo setor privado na América Latina e no Caribe sejam destinados a fontes energéticas renováveis. A expectativa foi manifestada por Hans Schulz, gerente-geral do Departamento de Financiamento Estruturado e Corporativo do BID, no primeiro dia da 51ª Reunião Anual de Governadores do banco regional de fomento em Cancún, no México.
De acordo com ele, medidas regulatórias mais adequadas acompanhadas de uma queda no preço de equipamentos estão aumentando a demanda do setor privado da região por investimentos em energia renovável.
"Diversos países da região desejam diversificar suas fontes de energia e já mudaram o marco regulatório para atrair mais investimentos em energia limpa", afirmou Schulz, segundo nota divulgada pelo BID nesta sexta-feira. Esse tipo de investimento "está em alta na região", prosseguiu ele.
Em 2009, o BID aprovou US$ 1,2 bilhão para projetos de energia elaborados por companhias privadas. Desse montante, 30% destinam-se a fontes renováveis, como eólica, geotérmica, biomassa, solar e hidrelétrica.


Fonte: Portal Exame

quinta-feira, 18 de março de 2010

Sustentabilidade energética

Estão programadas cinco convenções internacionais do Global Sustainable Bioenergy Project (GSB). A terceira delas será no Brasil, entre os dias 23 e 25 de março, em São Paulo, na sede da Fapesp. O objetivo é compor uma espécie de painel global sobre sustentabilidade energética nos mesmos moldes dos já existentes painéis sobre mudanças climáticas e biodiversidade.
Idealizado e coordenado pelo norte-americano Lee Rybeck Lynd, pesquisador do Dartmouth College e pioneiro no estudo e utilização da biomassa para a produção energética, o GSB reúne cientistas do mundo todo, preocupados com o enorme desafio de obter energia renovável e relativamente limpa sem comprometer a produção de alimentos e com o mínimo de impacto sobre o meio ambiente.
Com base em estudos preliminares, Lynd e outros especialistas acreditam que a biomassa (como a da cana-de-açúcar e de outras espécies vegetais) poderá suprir 25% da demanda internacional de energia nos próximos 50 anos. (Envolverde)

quarta-feira, 17 de março de 2010

Definição da matriz energética brasileira exige políticas públicas adequadas

O que falta para o Brasil definir sua matriz energética e consolidar a natureza limpa, renovável e diversificada das fontes utilizadas no país, são políticas públicas adequadas. A opinião é de um dos mais respeitados especialistas em energia do país, o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires. Em texto publicado em seu blog no dia 17/02/2009, Pires defende políticas que criem impostos sobre emissões e mercados de direito de emitir, imponha cotas de energias renováveis na geração elétrica e premie os consumidores mais eficientes e que utilizem energias renováveis.

De acordo com Pires, a crise econômica atual dá a chance de pensar a questão energética no Brasil de modo mais estrutural, e não conjuntural, com tem sido a prática usual dos governos. “Ao invés de pensar numa política de investimentos voltada para o estabelecimento de uma matriz energética sustentável, o governo anuncia o PDE-2017 e a Petrobras, a construção de quatro refinarias e o Comperj no Rio de Janeiro. Essas medidas são o atraso do atraso”, escreve Pires em seu blog.

O Brasil conta hoje com uma das matrizes mais limpas do planeta, com 46% de sua energia finda de fontes renováveis. Para o presidente da UNICA, Marcos Jank, políticas que incentivem o crescimento da porcentagem dos renováveis, como etanol, biomassa de cana-de-açúcar, biodiesel, energia eólica e solar, podem reduzir ainda mais as emissões de gases de efeito estufa.

“O Brasil tem tudo para se posicionar como líder nas discussões globais e cada vez mais intensas em torno das mudanças climáticas, pois é neste país que está o projeto mais bem sucedido do mundo para produção e utilização em escala comercial de um biocombustível – o etanol. Nosso projeto é um dos melhores exemplos do mundo de como efetivamente reduzir emissões, então nada mais justo do que definirmos com clareza, em nossa matriz energética, que é assim que o país deseja prosseguir”, afirma Jank.

Segundo Adriano Pires, o estímulo à produção e uso de energia limpa no Brasil pode ainda aumentar a segurança energética do País, ajudar no meio ambiente e gerar empregos. “É preciso que saibamos aproveitar nossa grande vantagem comparativa como produtores de energia renovável. Temos sol, terra e água em abundância, por isso podemos ser os maiores produtores de biocombustíveis”.

Uma definição interessante de Sustentabilidade

Colocando em termos simples, a sustentabilidade é prover o melhor para as pessoas e para o ambiente tanto agora como para um futuro indefinido. Segundo o Relatório de Brundtland (1987), sustentabilidade é: "suprir as necessidades da geração presente sem afetar a habilidade das gerações futuras de suprir as suas".

O termo original foi "desenvolvimento sustentável," um termo adaptado pela Agenda 21, programa das Nações Unidas. Algumas pessoas hoje, referem-se ao termo "desenvolvimento sustentável" como um termo amplo pois implica desenvolvimento continuado, e insistem que ele deve ser reservado somente para as atividades de desenvolvimento. "Sustentabilidade", então, é hoje em dia usado como um termo amplo para todas as atividades humanas.

Na economia, crescimento sustentado refere-se a um ciclo de crescimento econômico real do valor da produção (descontada a inflação), sendo portanto relativamente constante e duradouro, assentado em bases consideradas estáveis e seguras.

Desenvolvimento econômico sustentável dito de outra maneira é aquele em que a renda real cresce pelo crescimento dos fatores produtivos reais da economia e não em termos nominais. Isso seria um crescimento insustentável porque se estaria apenas jogando dinheiro na economia gerando uma riqueza momentânea que os agentes econômicos ao notarem que não há em contrapartida produção equivalente a esse ganho de renda artificial ajustam seus preços o que causa por sua vez inflação.

A Gestão Sustentável é uma capacidade para dirigir o curso de uma empresa, comunidade, ou país, por vias que valorizam, recuperam todas as formas de capital, humano, natural e financeiro de modo a gerar valor ao Stakeholders (LUCRO). A Gestão de processos deve ser vista sempre como um processo evolutivo de trabalho e gestão e não somente como um projeto com inicio, meio e fim. Se não for conduzida com esta visão, a tendência de se tornar um modismo dentro da empresa ou do país e logo ser esquecida ao sinal de um primeiro tropeço é grande. Muitos esforços e investimentos têm sido gastos sem o retorno esperado.

Se pensarmos que 10% de tudo o que é extraído do planeta pela indústria (em peso) é que se torna produto útil e que o restante é resíduo, torna-se urgente uma Gestão Sustentável que nos leve a um consumo sustentável, é urgente minimizar a utilização de recursos naturais e materiais tóxicos. O Desenvolvimento Sustentável não é ambientalismo nem apenas ambiente, mas sim um processo de equilíbrio entre os aspectos econômicos, financeiros, ambientais e sociais.

De olho no lucro, pequeno investidor ignora apelo à sustentabilidade das empresas

Na hora de montar sua carteira de ações, o investidor minoritário, aquele que tem até R$ 200 mil para aplicar em ações, só pensa em uma coisa: lucro. Eles estão errados? Claro que não. Mas a BM&FBovespa tenta provar que é preciso colocar outra peso nesta balança: a sustentabilidade.

Para isso, a Bolsa mantém há quase cinco anos o ISE, o Índice de Sustentabilidade Empresarial, que lista um total de até 40 empresas reconhecidamente engajadas com ações sustentáveis. O índice considera que essas empresas geram valor para o acionista no longo prazo, pois estão mais preparadas para enfrentar riscos econômicos, sociais e ambientais.

Essa demanda veio se fortalecendo ao longo do tempo no mercado internacional, e hoje é amplamente atendida por vários instrumentos financeiros. Por aqui, porém, o investimento não tem se mostrado tão atrativo quanto poderia.

“Por enquanto, poucos minoritários pensam em comprar ações de uma empresa sustentável. No máximo, eles querem saber se ela está no Novo Mercado”, diz o economista Clodoir Vieira, da corretora Souza Barros.

Vieira diz que há baixa procura por esse tipo de ação porque muitos desses investidores ainda são céticos. “Muita gente prefere ações da Sousa Cruz, por exemplo, porque quer empresas que cresçam, não importa como”, afirma.

O mesmo não acontece com os grandes investidores, como os fundos de pensão. Eles estão de olho, por exemplo, em como a companhia trata o meio ambiente. A Previ, fundo de previdência privada que pertence aos funcionários do Banco do Brasil, é um exemplo. “As ações de uma empresa que toma uma multa porque poluiu um rio podem 'desabar'. Se não estiver atento, um fundo grande como a Previ, que investe milhões de reais, pode perder muito dinheiro de uma hora para outra”, diz Vieira.

Para o diretor da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), Luiz Maia, investir em empresas com preocupação socioambiental tem mais uma vantagem. “Elas oferecem menos risco [econômico] do que uma empresa que não respeita o ambiente.”

Apesar da baixa procura, a direção da Bolsa acredita que uma hora este jogo vira. “Hoje os grandes investidores e os estrangeiros estão mais preocupados com a questão da sustentabilidade das empresas. Mas isso ainda vai chegar à pessoa física”, afirma a diretora de sustentabilidade da BM&FBovespa, Sonia Favaretto.

E, para isso, o melhor caminho talvez não seja o lucro. “O apelo para a adesão dos minoritários não precisa mais ser a lucratividade, porque as empresas sustentáveis já dão lucro. A atração tem de ser pelo tratamento que elas dão ao ambiente”, afirma Carolina Murphy, pesquisadora da Columbia University (EUA), onde fez mestrado em Desenvolvimento Econômico e Político.

Valorização
Mesmo em meio ao turbilhão da crise financeira mudial, a rentabilidade do ISE em 2009 foi de 66,4% em relação ao ano anterior. Já o Ibovespa subiu 82,6% no período. Desde que foi criado, no final de 2005, até julho de 2009, o índice havia acumulado valorização de 53,9%. No mesmo período, o Ibovespa registrou ganhos de 71,6%.

Perfil
De acordo com a Bolsa, o ISE é voltado para dois tipos de investidores. O primeiro é o pragmático, aquele que compra ações de empresas listadas em índices de sustentabilidade porque acredita que elas têm mais chances de permanecerem produtivas pelas próximas décadas e que sofrerão menos passivos judiciais.

O segundo é o engajado, que, por comprometimento pessoal, decide privilegiar as empresas que atuam com respeito a valores éticos, ambientais e sociais e não quer se envolver com empresas que poluem ou que têm problemas com direitos humanos.

Mudanças no ISE
A BM&FBovespa anunciou na sexta-feira (12/03/2010) mudanças na metodologia para a definição da próxima carteira teórica do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE).

O ISE é formado atualmente por um grupo de 34 empresas que tem como meta a responsabilidade social e preocupação com o ambiente. A carteira de ações é revista todos os anos. A que está em vigor até 30 de novembro reúne 43 ações. Os recursos não podem ser alavancados (investir em mercado futuro, com possibilidade de aumentar o retorno, com mais risco).

Entre as principais alterações, o convite para se candidatar ao índice passará a ser feito para as companhias detentoras das 200 ações mais líquidas da bolsa, não mais para as 150 mais negociadas, como anteriormente. Fora isso, o questionário que será enviado para as companhias contará com um grupo de questões envolvendo iniciativas relacionadas a mudanças climáticas.

Já a quarta mudança prevê que o conselho do ISE - composto por diversas entidades, incluindo a Bolsa - poderá dar, em casos extraordinários, uma explicação ao mercado sobre a retirada de alguma companhia da carteira.

Isso ajudará a evitar especulações, como ocorreu na saída da Petrobras do índice em 2008. Sem uma posição do conselho, a exclusão da estatal foi relacionada pelos agentes aos níveis de partículas de enxofre considerados elevados na produção de diesel.

A divulgação da nova carteira está prevista para 25 de novembro.

(Com informações do Valor Online)

terça-feira, 16 de março de 2010

O mundo é quente, plano e cheio

O país que conseguir criar uma energia limpa e barata liderará a próxima indústria global, diz Thomas Friedman
Por Época Negócios

Em 2005, o jornalista americano Thomas Friedman lançou uma obra que revelava como as novas tecnologias nivelaram o planeta e fizeram com que trabalhadores da China, da Índia e de outros emergentes passassem a competir em condições iguais com seus colegas dos países ricos. O best-seller O Mundo É Plano está até hoje na lista dos mais vendidos do The New York Times – jornal, aliás, no qual o autor trabalha. Em seu novo livro, Hot, Flat, and Crowded (“Quente, plano, e cheio”), ele aborda a economia global de uma nova perspectiva. O país que desenvolver uma energia limpa, barata e abundante comandará a próxima grande indústria global.

Friedman torce, é claro, para que os Estados Unidos assumam o desafio. Como chegar lá? “Nós precisamos de 100 mil pessoas em 100 mil garagens tentando 100 mil coisas diferentes”, afirma. Só assim poderão surgir cinco boas idéias, das quais uma ou duas serão capazes de criar um Google verde dos novos tempos. A bolha da energia só surgirá, na sua opinião, se o governo americano, as empresas e os consumidores se unirem nesse objetivo. De nada adiantará repetir a abordagem do Projeto Manhattan, que desenvolveu a bomba atômica durante a Segunda Guerra Mundial. “Doze pesquisadores em Los Alamos não conseguirão resolver o problema”, afirma. Uma iniciativa desse tipo obrigaria o país a se contentar com o “etanol de milho de Iowa”.

Apesar da lentidão demonstrada até agora, o pensamento de que os combustíveis são “baratos, perenes e inofensivos” foi substituído pela consciência de que são “caros, limitados e tóxicos” – uma mudança fundamental para enfrentar o problema. Ele reproduz uma frase do xeque Ahmed Zaki Yamani. “A Idade da Pedra não acabou porque o homem esgotou o estoque de pedras”, disse o ex-ministro saudita do petróleo. “Da mesma forma, a idade do petróleo não acabará por termos esgotado as reser-vas, mas sim pelo fato de as pessoas inventarem alternativas.”

Friedman lembra que a última inovação na produção de energia ocorreu há mais de 50 anos, com a criação das usinas nucleares. “Você sabe de alguma outra indústria nesse país cujo principal progresso ocorreu em 1955?” De acordo com o livro, no ano passado as companhias de ração para bichos de estimação investiram mais em pesquisas do que as geradoras americanas de energia.

O jornalista acredita que, se a abordagem dos Estados Unidos não mudar, a China acabará dando conta da tarefa, até porque é o país que mais precisa encontrar uma tecnologia para produzir energia limpa e barata. Friedman vê o surgimento de consciência ambiental naquele país asiático. Os chineses já conseguem ver o potencial econômico das soluções verdes, como prova o surgimento de companhias que exploram a energia eólica e solar. Apenas a tecnologia verde será capaz de enfrentar os cinco grandes problemas do planeta: a demanda de energia, a distribuição dessa energia para toda a população, o aquecimento global, a redução da biodiversidade e as ditaduras financiadas pelos petrodólares.



É preciso taxar carbono para ter economia verde

16/03/10 - O jornalista americano Thomas Friedman, um dos principais colunistas do "New York Times", afirma que os EUA podem "voltar aos trilhos" e recuperar sua liderança global com investimentos maciços em tecnologias de energia limpas, o que só será possível com uma estrutura tributária que preveja, por exemplo, taxação sobre o preço do carbono.

Essa é a ideia central de "Quente, Plano e Lotado" (ed. Objetiva, 605 págs.), que chega às livrarias brasileiras na quarta-feira, 24. O livro é um aprofundamento do best-seller "O Mundo é Plano" (ed. Objetiva), que desde 2005 vendeu 85 mil exemplares só no Brasil.

FOLHA - A ideia-chave de "Quente, Plano e Lotado" pode ser resumida na frase do presidente Barack Obama: "A nação que liderar a economia da energia limpa será a que irá liderar a economia global; e os EUA precisam ser essa nação". Que argumentos sustentam essa ideia?

THOMAS FRIEDMAN - Algumas pessoas não acreditam no "quente". Tudo bem, deixemos apenas o plano e o lotado. Plano é minha metáfora para mais e mais gente se juntando à classe média mundial e vivendo como americanos, quer estejam no Brasil, na Índia ou na China.
Lotado é porque há cada vez mais e mais pessoas. No mundo plano e lotado há cada vez mais gente com casas, carros e Big Macs do tamanho americano. É claro para mim que a próxima indústria global será a tecnologia energética (TE), que vai capacitar mais e mais gente a melhorar seu padrão de vida sem queimar e destruir o planeta. O país que detiver TE terá mais segurança energética, nacional e econômica, companhias inovadoras e respeito global. Claro, quero que esse país seja o meu, mas quero que todos aspirem a ser essa nação.
FOLHA - O sr. não crê em decisões tomadas em conferências globais.

FRIEDMAN - Exatamente. Alguém tem de me provar que funciona. Não sou contra o Protocolo de Kyoto ou o esforço de Copenhague, mas, se você conseguir fazer com que 193 países concordem, Deus te abençoe. Na falta disso, quero liberar meus inovadores e engenheiros para tentar o mesmo objetivo por meio da inovação.

FOLHA - O que deve ser feito para estimular esse tipo de iniciativa?

FRIEDMAN - Precisamos de políticas tributárias para incentivar, a longo prazo, a pesquisa e o desenvolvimento de tecnologia limpa. Houve um pouco no pacote de estímulo, mas é necessário muito mais. É preciso uma política de preços para o carbono. Sem isso, nada acontecerá. Sou um crente no mercado. Uma taxação de longo prazo, fixa e durável, estimularia 10 mil inovadores verdes em 10 mil garagens, tentando 10 mil coisas. Mil serão promissoras, cem serão realmente legais, e duas, os próximos Google e Microsoft limpos, que nos darão o que precisamos: elétrons confiáveis, limpos, baratos.

FOLHA - Uma pesquisa do Instituto Gallup mostrou que há mais céticos do aquecimento global hoje do que em 1997. Em que o discurso das mudanças climáticas está falhando?

FRIEDMAN - Infelizmente, a combinação tóxica de "climagate" [divulgação de e-mails de climatólogos, revelando tentativa de negar informação a céticos do clima], "relativamente pequenos" erros no IPCC [acusado de ter cometido erros em relatório] e recessão -e o fato de as pessoas mais do que nunca quererem energia barata- permitiu aos negacionistas confundir as pessoas e poluir o debate. Quem não queria acreditar ganhou razões para isso. E cientistas, políticos e membros do governo fizeram mau trabalho defendendo o caso.

FOLHA - Em ano de eleição, é possível algo favorável no Congresso?

FRIEDMAN - No momento, a estratégia está mudando. Pessoalmente, creio que o projeto "cap-and-trade" [comércio de permissões para emitir CO2] esteja morto. Agora, os senadores John Kerry, Lindsey Graham e Joe Lieberman estão trabalhando numa estratégia baseada em três princípios. O primeiro: nunca use a palavra "clima". Fale sobre "limpar o ar". "Clima" se tornou uma palavra suja. Segundo: dizemos que estamos fazendo isso para criar empregos; energia solar, baterias, eficiência energética, tudo isso rende muito emprego. E, terceiro, dizemos que estamos fazendo isso por segurança nacional, para ficarmos menos dependentes do petróleo do Oriente Médio. Esse é o novo consenso bipartidário, democratas e republicanos. Mas, se haverá senadores o suficiente para isso, não sei.


Natália Paiva
Fonte: Folha de S. Paulo

segunda-feira, 15 de março de 2010

Está chegando ao Brasil a ISO 26000

Está chegando ao país a ISO 26000. Formulada por mais de 400 especialistas de 100 países, incluindo o Brasil, a regulamentação cria parâmetros que permitirão ao cidadão validar e comparar quão socialmente responsável são as corporações. Estas, por sua vez, terão uma noção clara de como se comportar com responsabilidade.
Questões como práticas comerciais justas, proteção da saúde e da segurança do consumidor, consumo sustentável e acesso a serviços essenciais estão no núcleo da norma. O texto foi aprovado por mais de 80% dos participantes do grupo de trabalho, no último mês, e deve ser publicado até outubro.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Engenheiros da Unicamp criaram o primeiro conversor eletrônico brasileiro

Geradores alternativos: Unicamp cria conversor para ligar painéis solares à rede elétrica

Engenheiros da Unicamp criaram o primeiro conversor eletrônico brasileiro capaz de conectar painéis solares diretamente à rede elétrica, o que deverá inaugurar uma nova etapa no aproveitamento da energia solar no país.

O conversor eletrônico de potência trifásico tem um grau de eficiência de 85%. Os primeiros testes foram realizados entre dezembro e janeiro no Laboratório de Hidrogênio (LH2) da Unicamp, onde já funciona uma planta-piloto de geradores alternativos conectada à rede da CPFL Paulista.

De acordo com Ernesto Ruppert Filho, que desenvolveu o conversor juntamente com seu colega Marcelo Gradella Villalva, não se tem notícia até o momento de nenhum outro conversor eletrônico similar no Brasil.

Substituição de importações

O protótipo foi testado com êxito numa instalação de painéis solares com capacidade de 7,5 kW. "Este conversor substituiu plenamente, durante o período de testes, os três conversores eletrônicos monofásicos adquiridos da empresa alemã SMA, que estão atualmente ligados a esses painéis solares", afirmou o professor.

Diante dos resultados promissores, o próximo passo é buscar parceiros interessados na industrialização do conversor.

Ainda que o protótipo tenha consumido R$ 15 mil, os pesquisadores calculam que, em escala industrial de produção, o conversor poderá alcançar um custo final aproximado de R$ 10 mil.

"Existem alguns componentes que poderiam custar muito menos, caso já estivéssemos em escala industrial. Se compararmos o custo final de R$ 10 mil com o custo do conversor importado, isso significa uma redução de um terço. É realmente muito vantajoso nacionalizar essa tecnologia," assegurou o pesquisador.

Conversor de potência

Villalva explica que todas as fontes renováveis de energia necessitam de algum tipo de conversor eletrônico de potência para permitir o aproveitamento adequado da energia elétrica produzida.

Os painéis solares fotovoltaicos geram energia elétrica na forma de corrente contínua, diferente da rede elétrica, que possui corrente alternada. O papel do conversor é transformar a corrente da forma contínua para a alternada.

Não existem equipamentos nacionais com esta finalidade para uso com painéis fotovoltaicos, o que causa uma dependência de tecnologia importada, como é o caso dos conversores alemães instalados no LH2. "Por este motivo resolvemos desenvolver um equipamento nacional. Atingimos a eficiência de 85%, no entanto o objetivo agora é chegar aos 90% para alcançar a tecnologia alemã," diz Villalva.

Entraves para a energia solar

Além do elevado custo dos painéis solares fotovoltaicos, ainda não se criou no Brasil a cultura da geração distribuída de energia. "Isso não foi ainda devidamente regulamentado para pequenos produtores," afirma o pesquisador. Nos países mais avançados é possível ter em casa um painel solar e um conversor eletrônico gerando energia junto com a rede elétrica.

A tendência mundial aponta para o uso de geradores alternativos - sejam solares, a células de combustível ou mesmo biogás - em escala residencial. O eventual excesso de energia gerada, depois de suprida a demanda da própria residência, poderá ser comercializada com as concessionárias de energia.

O conversor agora fabricado na Unicamp oferece o suporte tecnológico para que essa realidade possa começar a ser construída no Brasil. "Se não tivermos um produto próprio com tecnologia nacional, vamos continuar importando dos Estados Unidos e da Alemanha. Portanto, o gargalo está na tecnologia cara dos painéis, na inexistência de um mercado que force o barateamento dessa tecnologia no país e, por último, a ausência de tecnologia nacional de conversores eletrônicos." garantiu Villalva.



Painéis solares já conectados à rede elétrica, instalados no Laboratório de Hidrogênio (LH2) da Unicamp.

Matriz energética limpa

Além disso, o pesquisador menciona a necessidade de uma política de incentivo às fontes alternativas de energia. Há diversos projetos de lei tramitando no Legislativo a esse respeito. Quando realmente aprovados, o Brasil terá condições de se tornar um país com uma matriz energética inteiramente à base de energia limpa.

"No estado atual, isso não existe. Existem pequenos projetos, porém isolados. Não há uma massificação da energia alternativa limpa e isso é uma coisa desejável porque dispomos de muito sol e vento", disse. A energia eólica no Brasil tampouco depende apenas do vento.

Em nível mundial, a líder em tecnologia na área de energia solar é a Alemanha, onde já estão instalados 6.500 MW de geração fotovoltaica, o que significa metade da energia produzida pela hidrelétrica de Itaipu. Com níveis de irradiação solar superiores aos da Alemanha, o Brasil ainda tem uma geração de energia solar praticamente desprezível em sua matriz energética.

O fato de ter energia hidráulica em abundância também tem contribuído muito para a falta de investimentos em usinas de geração solar e energia eólica. Em termos de meio ambiente, contudo, a energia solar é claramente superior. A hidroeletricidade, mesmo considerada limpa, inunda grandes áreas agricultáveis e tem forte impacto sobre as populações locais.

Geração distribuída de energia

Ruppert afirma que, na Europa e nos Estados Unidos, a utilização de geradores de energia elétrica conectados à rede secundária de distribuição por pequenos consumidores individuais já é uma realidade.

A tecnologia de pequenos conversores para painéis solares fotovoltaicos é amplamente empregada e divulgada nesses países. Consumidores são incentivados e subsidiados por agências governamentais para a instalação de sistemas de geração residenciais conectados à rede elétrica.

Painéis solares e conversores eletrônicos para a conexão com a rede são produtos facilmente encontrados no comércio e acessíveis ao grande público nos países desenvolvidos.

Além das vantagens para o usuário, que passa a gerar sua própria energia, módulos fotovoltaicos com pequenos conversores eletrônicos de potência descentralizam o processamento da energia, diminuem custos e reduzem o risco de todo o sistema elétrico.

Integração dos painéis solares nos edifícios

Pequenos conjuntos de geradores fotovoltaicos podem ser instalados em qualquer ambiente em que haja incidência de raios solares, sem demandar áreas específicas, podendo ocupar telhados ou paredes.

"A integração dos painéis solares com a arquitetura predial é hoje uma prática comum e que rende bons resultados estéticos, ambientais e econômicos, pela energia elétrica gerada e pela redução dos custos de construção. Os módulos fotovoltaicos podem ser utilizados como elementos de acabamento arquitetônico, tornando seu uso ainda mais interessante", disse Ruppert.

Esses módulos podem ser instalados em quaisquer tipos de construções, como residências, condomínios, escolas, creches, hospitais e outros locais públicos, uma vez que não há grandes restrições de espaço para instalação e não há emissão de ruídos, resíduos, ou qualquer tipo de poluição.

No caso brasileiro, o professor aponta que o melhor aproveitamento da energia solar depende basicamente de dois fatores. Primeiro, da regulamentação e da atitude do governo para abraçar a geração fotovoltaica. E, segundo, do interesse da iniciativa privada em fazer os investimentos.

Fonte: Jornal da Unicamp - 10/03/2010

Energia Eólica - R$ 1 bi no Rio Grande do Norte

CPFL fará aporte de R$ 1 bi no Rio Grande do Norte

Os investimentos contarão com sete parques eólicos com capacidade instalada de 188 megawatts (MW). A conclusão deve ser concretizada até o início de 2012.

A diretoria da empresa paulista de energia, presidida por Wilson Ferreira Júnior, reuniu-se ontem (5) com Iberê Ferreira de Souza, vice-governador do Rio Grande do Norte, e Jean Paul Prates, secretário de Energia e Assuntos Internacionais, para iniciar as tratativas relacionadas com a instalação do Parque Eólico Santa Clara, no município de Parazinho, e de uma usina térmica a biomassa em Baía Formosa (que usará cana-de-açúcar como matéria-prima).

Os investimentos devem ultrapassar R$ 1 bilhão, segundo o governo do estado. Durante a reunião, Paulo Cesar Tavares, vice-presidente de gestão eólica da CPFL, acrescentou que a empresa tem projetos em todo o país, mas o Rio Grande do Norte é hoje o estado que mais apoia e dá estrutura para viabilizar a implantação desses empreendimentos.

O projeto de energia eólica será constituído por sete parques eólicos com capacidade instalada de 188 megawatts (MW) e prazo de conclusão no início de 2012, com investimentos estimados em R$ 883 milhões.

Até abril, o termo de acordo assinado antes do leilão para a aquisição dos aerogeradores será convertido em contrato definitivo de compra. Ao todo, serão adquiridos 94 aerogeradores do modelo E82-2,0 MW da Wobben, subsidiária da multinacional alemã Enercon.

A usina de biomassa, que receberá recursos de R$ 127 milhões, será concluída em 2011 e adicionará 25 MW à potência instalada de geração do estado. Quando estiver operando, a previsão é de que a usina gere uma receita de aproximadamente R$ 24 milhões por ano.

O vice-governador Ferreira de Souza acredita que até 2012 o estado terá capacidade de gerar o dobro da energia que consome atualmente


Priscila Machado(pmachado@brasileconomico.com.br)

Fonte: www.brasileconomico.com.br

sábado, 6 de março de 2010

IEF diz que etanol de cana-de-açúcar é o único aceitável

O produto brasileiro seria o primeiro desse tipo de biocombustîvel a não representar problemas

Relatório produzido pelo Fórum Internacional de Energia (IEF, na sigla em inglês) classifica o etanol brasileiro, produzido a partir da cana-de-açúcar, como "o único biocombustível de primeira geração que não apresenta problemas". Segundo o documento, "para evitar erros em investimentos econômicos que também provoquem custos ambientais significativos, existe uma necessidade urgente de se rever as políticas existentes para biocombustíveis e suas metas em um contexto internacional".

O relatório alerta que fixar metas ambiciosas sem se assegurar da sustentabilidade de obtê-las, como foi o caso para a maioria dos biocombustíveis de primeira geração, pode gerar incertezas de abastecimento. O documento também examina o atual estado da produção de biocombustíveis e oferece recomendação aos legisladores sobre a melhor maneira de seguir em frente com a produção e distribuição de biocombustíveis.

Os autores do relatório reconhecem o papel potencial dos biocombustíveis na contribuição para a segurança e proteção ambiental e climática. Porém, eles são críticos em relação a maioria dos biocombustíveis de primeira geração. Com exceção do etanol de cana feito no Brasil, eles criticam a maioria dos biocombustíveis de primeira geração que oferecem "apenas benefícios marginais para a segurança energética e a redução das emissões de gases de efeito estufa além de promoverem insegurança alimentar".

Já sobre o etanol de cana do Brasil há um consenso de que é o único biocombustível aceitável à medida que sua expansão futura evitará áreas que poderão levantar questões sobre uso direto e indireto de terras.

O IEF é o mais abrangente fórum de ministérios de energia do mundo, incluindo não apenas países desenvolvidos e membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), mas também participantes como Brasil, China, Índia, México, Rússia e África do Sul.

Fonte: http://portalexame.abril.com.br/meio-ambiente-e-energia/noticias/ief-diz-etanol-cana-de-acucar-unico-aceitavel-538287.html

quinta-feira, 4 de março de 2010

Etanol - combustível verde

Quando ouvimos comentários ou lemos reportagens sobre o Etanol brasileiro, sempre há boas referências sobre sua eficiência energética e baixo impacto causado ao meio ambiente, principalmente pela baixa emissão de poluentes e gases do efeito estufa na sua combustão.

Tudo isso tornaria o etanol um combustível sustentável se não fosse pelo altos preços, o que o torna uma segunda opção atrás da gasolina.

Quando falamos em produtos ou serviços sustentáveis, partimos dos príncipios básicos da sustentabilidade: ambientalmente correto, socialmente justo e economicamente viável.

Vendo ultimante os altos preços do etanol para o consumidor, podemos afirmar que este tão admirado combustível não poderei ser sustentável. Para que isso se tornasse realidade, o produto deveria ser economicamente viável e justamente acessível aos consumidores (não somente "barato" na sua produção), através de políticas as quais difiniriam estoques reguladores e/ou controlariam diretamente a produção açúcar/álcool de acordo com os investimentos públicos (BNDES) no setor sucroalcooleiro. Neste ponto, o governo deveria exigir uma produção mínima de álcool proporcional a porcentagem de investimento que o usineiro recebeu do BNDES, permitindo uma oferta ideal do combustível ao mercador e consequentemente controlando seu preço. Isto não permitiria, por exemplo, uma grande produção de açúcar para atender mercado externo. Priorizaria o nosso mercado e o preço justo aos nossos consumidores.

Enquanto não hover uma política séria que busque retorno sobre todo o investimento público no setor de açúcar e álcool, vamos continuar pagando o preço absurdo por este combustível que além de verde, deveria ser sustentável.

Domenico Machado

Resposta do Sr. Deputado Federal Antonio Carlos Mendes Thame

Prezado Sr. Domenico Machado,

Agradeço a manifestação de seu interesse e a colaboração contida em seu e-mail relativamente às sugestões sobre política de preços, de estoques mínimos reguladores e de contrapartida a financiamento do investimento na produção sucro-alcooleira.
Farei chegar à representação do setor empresarial suas sugestões, para avaliação das medidas possíveis de serem tomadas sob forma de políticas públicas. Também irei solicitar à Consultoria técnica da Câmara dos Deputados a análise dos temas abordados em seu e-mail, visando identificar medidas legislativas possíveis de encaminhamento no Legislativo.
Atenciosamente,

Antonio Carlos Mendes Thame
Deputado Federal
PSDB/SP

Sustentabilidade requer novos modelos de aprendizagem

Empresas buscam formas de criar ambientes favoráveis à cooperação e diversidade de idéias para gerar soluções inovadoras.

Apesar de bem aceita, a idéia de que a construção de negócios sustentáveis requer que os indivíduos sejam educados para se reconhecerem como parte do todo e orientem suas ações com base nos impactos para as gerações atuais e futuras ainda desafia os modelos institucionais.

Departamentalizadas por natureza, as empresas têm dificuldades em proporcionar uma experiência de construção coletiva do saber, essencial para a inovação e sustentabilidade. “Tudo está mudando muito rápido. Precisamos de novos tipos de aprendizado, redes sociais e modelos de liderança, pois não será mais possível achar que as pessoas no topo das companhias ou governos terão todas as respostas de que precisamos”, analisa Jane Nelson, diretora do Centro de Iniciativa para Responsabilidade Social Empresarial da Universidade de Harvard.

As companhias que conseguem, aos poucos, superar modelos de gestão excessivamente verticalizados e pouco participativos têm sabido identificar novas oportunidades de negócios.

Com o intuito de estimular a integração e possíveis sinergias, a DuPont, por exemplo, reúne funcionários das mais variadas áreas, níveis hierárquicos e países em encontros anuais para discussão de projetos. Segundo John Jansen, diretor de fluoroprodutos, de pesquisa e desenvolvimento para América Latina, além dos funcionários, o evento conta com a participação de convidados externos que, juntos, selecionam cerca de 100 idéias. As propostas são avaliadas com base nos benefícios gerados para a sociedade em termos ambientais e sociais, assim como nas necessidades do mercado. De cinco finalistas, um projeto é escolhido para ser adotado pela empresa.

Foi justamente da experiência de geração coletiva de idéias que surgiu uma das mais interessantes e recentes soluções de negócio da empresa. Trata-se da SoleCina, elaborada a partir da combinação da proteína vegetal da soja com diferentes tipos de carne. Segundo Jansen, o produto foi criado após a identificação de uma necessidade da população mexicana da base da pirâmide, para a qual os altos preços da proteína animal inviabilizavam o consumo desse item essencial na alimentação Além de ser até 40% mais barata do que a proteína animal, a SoleCina, fabricada em parceria com a Solae Company, possibilita o desenvolvimento de produtos com menos gordura, calorias e sem colesterol.

A Braskem, detentora da tecnologia para fabricação do polietileno verde, apostou na criação de um banco de idéias para receber sugestões de projetos. Criado em 2004, o Programa de Inovação Braskem (PIB) conta com um software para auxiliar na avaliação das propostas. Com base em informações técnicas e comerciais, o sistema calcula a possibilidade de a sugestão ser transformada em produtos e serviços para o mercado. Segundo Luiz Fernando Cassinelli, diretor de inovação da companhia, atualmente, há 75 projetos em andamento nascidos no PIB. Outras 250 idéias aguardam seu lugar nesse portifólio verde.

Novo perfil profissional

Ao contrário do passado, quando o universo das conexões corporativas era, a rigor, o seu próprio umbigo, as empresas de hoje orbitam em torno de uma rede de relacionamentos muito mais diversa. Até menos de duas décadas, os públicos de interesse de uma corporação podiam ser contados nos dedos de uma mão. Hoje, além de funcionários, fornecedores, e clientes, entraram no jogo comunidades, investidores, lideranças comunitárias, governos, organizações não-governamentais, formadores de opinião, grupos de pressão locais e nacionais e até mesmo indivíduos mais atentos e dispostos a disseminar suas eventuais insatisfações pela Internet.

Uma complexa rede de relacionamentos como esta pode ser regida de modo a estabelecer benefícios comuns. Mas não se trata de uma tarefa simples. Requer, além de uma nova forma de gestão, mais transparente e atenta, um time de profissionais preparados para escutar, filtrar e incorporar os pontos de vista das partes interessadas na maneira de pensar e fazer negócios.

Nos últimos dois anos, a Aracruz, recentemente adquirida pela Votorantim, tem centrado esforços no treinamento de funcionários para o relacionamento com a sociedade. “Como a Aracruz é uma empresa florestal com unidades distribuídas em mais de 120 municípios, os profissionais da empresa se relacionam com diferentes tipos de comunidade. Por isso, é importante que desenvolvam a habilidade de construir pontes entre a empresa e a sociedade em diferentes situações”, afirma Carlos Alberto Roxo, diretor de sustentabilidade.

A empresa também tem buscado profissionais com essa competência no mercado. Segundo Roxo, a formação não é o fator mais importante no processo de seleção, mas sim as experiências que o profissional acumulou ao longo de sua trajetória. Para exemplificar, ele conta um exemplo registrado em seu próprio departamento. “Demoramos seis meses para contratar um gerente de sustentabilidade. Só depois fui descobrir que era jornalista. A experiência que ele acumulou por meio de projetos realizados na Amazônia e junto a órgãos governamentais foi determinante para a sua contratação. Além de sólida formação, buscamos profissionais que não sejam apenas resolvedores de problemas, mas capazes de encontrar respostas a partir do relacionamento com diferentes públicos de interesse”, ressalta.

Entender a realidade do outro não é tarefa fácil e demanda, segundo Jansen da DuPont, a ruptura de paradigmas. “O profissional precisa ter a predisposição para entender a fundo a dinâmica das diferentes partes interessadas, além de iniciativa para vivenciar a realidade do outro. Não adiante ler um monte de coisas. É preciso estar lá, conversar e escutar”, explica.

Jansen destaca ainda o espírito empreendedor como competência essencial do profissional para fazer conexões entre as soluções criadas e as necessidades da sociedade. “É interessante observar que o tipo de profissional que se dá melhor nessa área, normalmente, desenvolveu a inteligência emocional, o lado direito do cérebro, área à qual as instituições de ensino não têm se dedicado muito”, completa.

Presidente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (FIEP), Rodrigo Rocha Loures reforça que a inovação social é uma competência a ser desenvolvida. “A inovação voltada para a sustentabilidade depende de habilidades pessoais, como, por exemplo, a de aprender a aprender, aprender a entender, a se relacionar, a fazer coisas em conjunto, conhecer a si próprio e ter a compreensão do contexto onde se situa. O desafio seguinte é transformar esses conhecimentos em produtos e serviços sustentáveis”, aposta.

A ponte entre a teoria e a prática

Outro caminho para o desenvolvimento de novas soluções se dá a partir de parcerias com universidades. Recentemente, a Braskem lançou o primeiro polietileno verde produzido com o uso da cana-de-açúcar em substituição à nafta, derivada do petróleo. A descoberta contou com o apoio de pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. “É preciso buscar o conhecimento onde ele está, principalmente nos casos em que são muito específicos. A open innovation oferece essa possibilidade de troca de informações não só com universidades, mas também com outras empresas que não concorrem no mesmo mercado. A principal vantagem é a divisão dos custos da pesquisa”, afirma Cassinelli. Este modelo de cooperação permite que empresas comprem ou licenciem processos de inovação (como patentes) de outras organizações.

Segundo Jansen, da DuPont, a inflexibilidade das universidades em relação a propriedade intelectual dificulta o avanço dessa modalidade de pesquisa no Brasil. “Hoje em dia a inovação fica cada vez mais cara. Normalmente, a cada mil idéias, 100 são efetivamente transformadas em projetos, 10 conseguem atingir a fase de testes e apenas uma chega ao mercado. A colaboração entre empresas e universidades dilui os riscos e aumenta as chances de sucesso da inovação. No entanto é preciso assegurar o retorno financeiro para as empresas. Os resultados da inovação que vingou precisam compensar todo o investimento destinado às outras 1000 idéias malsucedidas. As universidades brasileiras resistem em ceder a patente ainda que 100% do seu desenvolvimento tenha sido financiado pela empresa”, exemplifica Jansen.

A Embraco, por sua vez, mantém parceria com a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) desde 1982, por meio de convênios de pesquisa que se renovam periodicamente. A primeira grande conquista da mais longa união entre iniciativa privada e academia de que se tem notícia no País foi a fabricação, em 1987, do primeiro compressor com tecnologia 100% nacional.

De dentro pra fora

Pioneiro na capacitação de seu corpo de funcionários com a criação das “Oficinas de sustentabilidade” em 1991, o Banco ABN Anro Real também inovou ao levar a experiência obtida a partir da vivência desse conceito na empresa a clientes e parceiros de negócio.

O programa “Práticas em sustentabilidade” teve início em 2001 com a realização de workshops sobre o tema com fornecedores para troca de informações e experiências. Hoje, o banco também disponibiliza um endereço na internet para ampliar o alcance com o público externo. O blog Práticas disponibiliza o acesso a um banco de iniciativas de implementação da sustentabilidade, uma biblioteca com documentos de referência e cursos online.

O Real apostou na troca de experiências e informações para construção conjunta de conhecimentos, reconhecendo a importância da colaboração na economia contemporânea. “Os indivíduos têm que ser protagonistas, o que pressupõe olhar para o novo, reconhecendo que não sabemos tudo e temos muito a aprender. Podemos não ter todas as repostas, mas não temos medo das perguntas”, afirma Carla Bardaro, superintendente de desenvolvimento sustentável do Banco ABN Anro Real.

Desafios da educação voltada para a sustentabilidade

* Desenvolver ambientes de construção coletiva do saber

* Criar estruturas descentralizadas que proporcionem sinergias entre diferentes áreas do conhecimento

* Estabelecer relações de confiança

* Formar indivíduos integrais que pensam e ajam em um contexto global

* Proporcionar o autoconhecimento

* Valorizar a diferença


Por Juliana Lopes, da Revista Idéia Socioambiental
(Envolverde/Revista Idéia Socioambiental)

quarta-feira, 3 de março de 2010

Anemia verde

Brasil se atrasa em investimentos com vistas à economia de baixo carbono, mesmo partindo de uma posição invejável

ASSIM COMO se fala de "doença holandesa", o declínio industrial que pode suceder um surto de exportações propiciado por exploração de recursos da natureza, um dia o Brasil poderá figurar em compêndios de história econômica como exemplo do "mal do berço esplêndido". Acomodado na abundância desses recursos -terra fértil, sol, chuvas, florestas, minérios, potencial hidrelétrico-, o país não investe como deveria em inovação para extrair renda desse capital sem dilapidá-lo.
Em lugar de desenvolver-se como uma economia de base natural pujante, com olhos no futuro de baixo carbono, o Brasil atrasa-se na trilha do crescimento "verde". Foi o que mostrou domingo reportagem da Folha.
No pacote de estímulos fiscais do governo federal para contra-arrestar a crise financeira de 2008, apenas 5% dos recursos anticrise mobilizados o foram em benefício de setores "limpos", como o de veículos bicombustíveis. Na média de 17 grandes economias mundiais, o percentual ultrapassou 16%.
O Brasil é um país que já conta com uma matriz elétrica excepcionalmente renovável, graças ao uso intensivo de represas para produzir eletricidade. A média mundial fica em 18% de fontes renováveis, enquanto aqui o percentual atinge 87%.
Mas o planejamento oficial prevê um retrocesso, com o aumento relativo das usinas termelétricas a combustível fóssil -óleo, gás e carvão. A capacidade instalada deve aumentar 45% de 2010 a 2012, contra 18% da geração a partir de biomassa (bagaço de cana, por exemplo). Até 2017, a participação hidráulica na geração cairá de 80% para 71% e a de fontes não renováveis subirá para 19%.
O governo federal se escuda na lentidão do processo de licenciamento ambiental das grandes centrais hidrelétricas, mas faltam investimento em tecnologia e incentivo para modalidades renováveis. O programa de fomento a fontes alternativas (Proinfa) prossegue modesto. Mesmo triplicando a capacidade de usinas eólicas em dois anos, chegaremos a 3.000 megawatts (MW) instalados. É muito pouco para um país com potencial eólico -provavelmente subestimado- de 140 mil MW, o equivalente a dez hidrelétricas de Itaipu.
Até no caso do álcool o país pode ficar para trás. Basta que frutifique o investimento anual de US$ 1 bilhão dos EUA na tecnologia de álcool celulósico, o que pulverizaria a atual vantagem do etanol de cana sobre o de milho. Para comparação, toda a pesquisa nacional no setor recebe menos de US$ 95 milhões ao ano, segundo estimativas.
O governo Lula parece mesmerizado com o pré-sal, como sintetizou o físico José Goldemberg. Não se deu conta ainda de que o petróleo, embora possa e deva ser explorado, é o combustível do passado. É preciso mudar essa lógica, o que não se faz apenas com retórica.

Outro detalhe é a falta de regulação do preço do etanol, combustível que deveria ser considerado sustentável (ambientalmente limpo, economicamente viável) e que por vezes perde espaço à gasolina (maior rendimento em relação ao custo).