quarta-feira, 18 de novembro de 2009

COP 15 - Energia


Mais energia limpa, menos carbono

Taxação do petróleo e seus derivados, incentivos para o uso de fontes renováveis de energia e até para a geração de fontes antes desconhecidas, como o bagaço de cana e o lixo urbano, são assuntos que farão parte das discussões da 15ª Conferência das Partes, da ONU, em Copenhague, e que podem mudar o cenário energético do mundo


Energia será o assunto mais comentado na 15ª Conferência das Partes, em Copenhague. Especialmente porque, na maioria dos países, a energia elétrica ainda é proveniente da queima de combustíveis fósseis.

O Brasil se vangloria por ser o país com a matriz energética mais limpa do mundo. Atualmente, a hidroeletricidade corresponde a 69,5% da capacidade instalada total de energia do país. No entanto, mais do que contarmos vantagens sobre esse aspecto na COP-15, devemos desejar que o acordo climático seja exigente com a redução de emissões.

Isso porque, caso os países não reduzam seus níveis de emissões de carbono, as mudanças climáticas tendem a se agravar, aumentando o número de eventos extremos e impactando, diretamente, o regime de chuvas. Como dependemos do volume dos rios para a geração de energia, uma alteração na quantidade de chuvas poderia levar a um apagão, cujos efeitos os brasileiros já sentiram na pele.

Para evitar que falte energia no país, pode ser que o governo adote algum mecanismo em que quem gaste mais energia tenha que compensar suas emissões de alguma maneira, nem que seja pelo pagamento de uma taxa extra na própria conta de luz.

O presidente do Instituto Ethos, Ricardo Young, diz que a opinião pública internacional não só prega a taxação de todas as atividades econômicas e indivíduos que emitam gases de efeito estufa, como propõe a criação de um fundo internacional que receba a receita da taxação de tudo o que utiliza petróleo e seus derivados. Isso quer dizer que construir termelétricas no Brasil – tendência que tem se fortalecido ultimamente – pode se tornar um mau negócio num futuro não tão distante assim.

Para os casos em que o carvão é necessário como fonte de energia, Tasso Azevedo, assessor especial do Ministério do Meio Ambiente, diz que poderíamos deixar de importar o carvão mineral da Austrália e ter algum tipo de incentivo para o uso do carvão vegetal nacional, a partir de florestas plantadas. “Além de gerar emprego para os brasileiros, aumentaríamos nossa cobertura florestal, diminuindo o impacto das chuvas sobre morros e encostas e ganharíamos em estoque de carbono”.

Construções autossuficientes
O ramo das energias alternativas – ou complementares, como dizem alguns especialistas – também vem ganhando espaço nas pesquisas em todo o mundo, inclusive no Brasil. Daqui para frente, será cada vez mais comum ver casas com placas solares, por exemplo, mesmo entre a população de baixa renda. “Os bancos podem desenvolver linhas de financiamento que facilitem a aquisição desses equipamentos”, diz João Talochi, representante do Greenpeace. “O governo também pode criar tarifas diferenciadas que permitam que o investimento em energia solar traga retorno para quem o faz. Na Alemanha ou na Espanha, por exemplo, quando as residências não estão consumindo a energia gerada pelas placas solares, ela retorna para o sistema público de energia e o proprietário ganha por isso”, conta.

Conhecido como geração descentralizada de energia, o mecanismo garante maior segurança energética para a população. “As pessoas vêm o investimento em placas solares como uma caderneta de poupança, pois economizam na conta de luz e até ganham mais do que gastam”, observa Talochi.

A tecnologia de células fotovoltaicas em vidros também já é uma realidade. Imagine quanta energia poderia ser produzida pela enorme quantidade de prédios que existem nos grandes centros urbanos. Poderíamos até falar em prédios autossuficientes ou, em muitos casos, em edifícios geradores de energia.

Lixo e cana: de vilões a fontes energéticas
Outra fonte energética pode ser o lixo urbano. Além de evitar a emissão de metano, que também tem efeito estufa e é quatro vezes pior do que o gás carbônico, pequenas comunidades podem gerar a própria energia a partir do lixo que, inevitavelmente, produzem. Se pensarmos que, atualmente, cada pessoa produz, por dia, cerca de um quilo de lixo, está aí uma boa maneira de dar um destino melhor aos resíduos acumulados nos lixões e aterros sanitários.

Uma das promessas de geração de energia para o Brasil é o bagaço de cana, que antes era considerado apenas um resíduo da produção sucroalcooleira e, portanto, um problema a ser resolvido, e hoje pode representar 15% da produção de energia do país, o que corresponde à capacidade de duas Itaipus.

“Estão surgindo muitas tecnologias de ponta no setor de energia”, observa Ricardo Young. “A tendência é que, em vez de grandes usinas produtoras de energia e linhas de produção elétrica intermináveis, teremos várias fontes renováveis e remotas de energia ligadas a grandes centrais elétricas. É uma revolução incrível”, diz.

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