Pesquisa da KPMG International realizada em conjunto com a Economist Intelligence Unit (EIU) indicou que apesar dos principais motivos para as empresas adotarem estratégias de sustentabilidade ainda ser a pressão dos órgãos regulatórios e o potencial de dano à reputação, 60% dos respondentes indicaram maior apoio a métodos sustentáveis no terreno operacional e comercial, uma vez que os benefícios práticos foram obtidos.
O levantamento ‘A Review of Corporate Sustainability’, que foi realizado com 378 empresas de grande e médio porte de 61 países, mostrou que 62% dessas companhias já possuem um programa de sustentabilidade em vigor e que 11% delas já estão desenvolvendo algum projeto nessa área, atualmente.
Das empresas com programas ativos, 61% constataram que manter essa estratégia trouxe mais benefícios que inconvenientes, apesar do aumento de investimento. Esse número aumenta para 72% entre as grandes empresas, com receitas superiores a cinco bilhões de dólares. Uma companhia entrevistada reportou que obteve um retorno financeiro de US$1,50 a US$2,00 para cada dólar investido em um programa de sustentabilidade de longo prazo.
Os benefícios identificados incluem reduções significativas nos custos de energia, melhor relacionamento com clientes e fornecedores e uso mais eficiente dos recursos, especialmente da água. Alguns dos participantes também verificaram que o foco na sustentabilidade estimulou a inovação em suas empresas, estreando novas linhas de produtos e abrindo novos mercados.
“A demanda por processos sustentáveis está se tornando parte do ambiente de negócios. Inicialmente, as organizações podem reagir a isso da mesma maneira que iriam reagir a qualquer outro sinal de seus mercados, mas uma vez que começarem a analisar suas operações pelas lentes da sustentabilidade, a maioria vai constatar que os benefícios comerciais são óbvios e que a agenda de sustentabilidade ganha vida própria”, diz Sidney Ito, sócio-líder da área de Governança e Sustentabilidade da KPMG no Brasil e na América do Sul.
Um tópico importante entre as empresas que adotaram práticas sustentáveis, porém, é como mensurar sua eficácia e reportar o progresso às partes interessadas. No que tange à prestação de contas, o estudo revela que 38% dos respondentes não têm planos de reportar seu desempenho em sustentabilidade. Os motivos alegados incluem falta de dados e benchmarks confiáveis, além do ceticismo sobre a validade desses relatórios.
Além disso, apesar de 46% dos participantes considerarem que um acordo climático global irá aumentar a pressão regulatória e outros 41% afirmarem que isso também aumentaria seus custos operacionais, a principal ação que essas empresas cobram do poder público é justamente uma regulamentação mais rígida, preferivelmente em uma base internacional. Nesse contexto, mais de 66% das companhias enfatizaram que a regulamentação do segundo período de compromisso do Protocolo de Kyoto (2013 – 2020) é muito importante, por exemplo.
“A prestação de contas sobre sustentabilidade é o caminho para corporações mais eficientes e preocupadas com a boa gestão e governança.. Para eliminar totalmente o ceticismo que cerca as organizações em relação a isso, é preciso fornecer informações melhores, precisas e confiáveis, baseada em uma estrutura regulatória sólida”, conclui Ito.
FONTE: IDÉIA SUSTENTÁVEL
quinta-feira, 26 de maio de 2011
segunda-feira, 4 de abril de 2011
Microalga se alimenta de CO2 e produz biopetróleo
DA FRANCE PRESSE
Uma grande quantidade de tubos de oito metros de altura, perto de Alicante, no leste da Espanha, macera o que pode ser o combustível do amanhã: biopetróleo produzido com as microalgas que se alimentam do anídrido carbônico lançado por uma fábrica vizinha.
Cerca de 400 tubos de cor verde escura nos quais crescem milhões de microalgas estão localizados em uma planície dessa região espanhola, perto de um cemitério, que expele CO2 --um gás que é capturado e levado por meio de tubulações até a pequena fábrica de biopetróleo.
Pesquisadores franceses e espanhóis da pequena empresa Bio Fuel Systems (BFS) desenvolvem há cinco anos este projeto, ainda experimental.
Em um momento em que os industriais buscam soluções criativas como alternativas para o petróleo, a ideia é reproduzir e acelerar um processo que durou milhões de anos e permitiu a produção de petróleo fóssil.
"Tentamos simular as condições que havia há milhões de anos, quando o fitoplâncton transformou-se em petróleo. Dessa forma, obtivemos um petróleo equivalente ao petróleo atual", explica o engenheiro Eloy Chapuli.
As microalgas, procedentes de uma dezena de cepas mantidas em segredo, foram recolhidas do mar Mediterrâneo e do oceano Atlântico.
Nos tubos, reproduzem-se em grande velocidade, desdobrando-se diariamente por fotossíntese e graças ao CO2 emitido pelo cemitério.
Todos os dias, uma parte desse líquido muito concentrado é extraída e filtrada, permitindo a obtenção de uma biomassa que produzirá petróleo. A água restante volta a ser introduzida nos tubos.
Para seus inventores, a outra grande vantagem desse sistema é que ajuda a acabar com a contaminação: absorve CO2 que, de outra forma acabaria na atmosfera.
"É um petróleo ecológico", assegura o presidente e fundador da BFS, o engenheiro francês Bernard Stroïazzo-Mougin, que trabalhou em campos petrolíferos no Oriente Médio antes de se instalar na Espanha.
A fábrica de Alicante ainda tem mais de laboratório do que de fábrica. "Ainda precisaremos de cinco a dez anos mais para passar a uma produção industrial", assegura Stroïazzo-Mougin, que espera poder desenvolver no curto prazo um primeiro projeto em grande escala no sul da Espanha e outro na ilha portuguesa de Madeira.
"Uma unidade de cerca de 50 km por 50 km, o que não é algo muito grande nas zonas desérticas do sul da Espanha, poderia produzir em torno de 1,25 milhão de barris diários", ou seja, quase tanto como as exportações cotidianas de petróleo iraquiano, afirma o engenheiro.
A BFS, uma empresa de capital privado, busca agora negociar com "vários países para que patrocinem a instalação de campos petrolíferos artificiais", explica seu presidente.
A empresa assegura que poderá vender seus barris a um preço competitivo, apoiando-se na venda de produtos derivados, como ácidos graxos do tipo ômega 3 obtidos a partir da biomassa.
Outros projetos semelhantes estão sendo estudados em outras regiões do mundo.
Na Alemanha, o grupo estatal sueco de energia Vattenfall lançou em 2010 um projeto de absorção por meio de algas do dióxido de carbono emitido pelas centrais que funcionam com carvão.
O gigante americano do petróleo ExxonMobil previu um investimento de até US$ 600 milhões em pesquisas destinadas a produzir petróleo a partir de algas.
Os industriais, particularmente no âmbito aeronáutico, estão interessados nessas pesquisas, nas quais esperam encontrar soluções para substituir o petróleo clássico, cada vez mais escasso e cujos preços são variáveis.
Uma grande quantidade de tubos de oito metros de altura, perto de Alicante, no leste da Espanha, macera o que pode ser o combustível do amanhã: biopetróleo produzido com as microalgas que se alimentam do anídrido carbônico lançado por uma fábrica vizinha.
Cerca de 400 tubos de cor verde escura nos quais crescem milhões de microalgas estão localizados em uma planície dessa região espanhola, perto de um cemitério, que expele CO2 --um gás que é capturado e levado por meio de tubulações até a pequena fábrica de biopetróleo.
Pesquisadores franceses e espanhóis da pequena empresa Bio Fuel Systems (BFS) desenvolvem há cinco anos este projeto, ainda experimental.
Em um momento em que os industriais buscam soluções criativas como alternativas para o petróleo, a ideia é reproduzir e acelerar um processo que durou milhões de anos e permitiu a produção de petróleo fóssil.
"Tentamos simular as condições que havia há milhões de anos, quando o fitoplâncton transformou-se em petróleo. Dessa forma, obtivemos um petróleo equivalente ao petróleo atual", explica o engenheiro Eloy Chapuli.
As microalgas, procedentes de uma dezena de cepas mantidas em segredo, foram recolhidas do mar Mediterrâneo e do oceano Atlântico.
Nos tubos, reproduzem-se em grande velocidade, desdobrando-se diariamente por fotossíntese e graças ao CO2 emitido pelo cemitério.
Todos os dias, uma parte desse líquido muito concentrado é extraída e filtrada, permitindo a obtenção de uma biomassa que produzirá petróleo. A água restante volta a ser introduzida nos tubos.
Para seus inventores, a outra grande vantagem desse sistema é que ajuda a acabar com a contaminação: absorve CO2 que, de outra forma acabaria na atmosfera.
"É um petróleo ecológico", assegura o presidente e fundador da BFS, o engenheiro francês Bernard Stroïazzo-Mougin, que trabalhou em campos petrolíferos no Oriente Médio antes de se instalar na Espanha.
A fábrica de Alicante ainda tem mais de laboratório do que de fábrica. "Ainda precisaremos de cinco a dez anos mais para passar a uma produção industrial", assegura Stroïazzo-Mougin, que espera poder desenvolver no curto prazo um primeiro projeto em grande escala no sul da Espanha e outro na ilha portuguesa de Madeira.
"Uma unidade de cerca de 50 km por 50 km, o que não é algo muito grande nas zonas desérticas do sul da Espanha, poderia produzir em torno de 1,25 milhão de barris diários", ou seja, quase tanto como as exportações cotidianas de petróleo iraquiano, afirma o engenheiro.
A BFS, uma empresa de capital privado, busca agora negociar com "vários países para que patrocinem a instalação de campos petrolíferos artificiais", explica seu presidente.
A empresa assegura que poderá vender seus barris a um preço competitivo, apoiando-se na venda de produtos derivados, como ácidos graxos do tipo ômega 3 obtidos a partir da biomassa.
Outros projetos semelhantes estão sendo estudados em outras regiões do mundo.
Na Alemanha, o grupo estatal sueco de energia Vattenfall lançou em 2010 um projeto de absorção por meio de algas do dióxido de carbono emitido pelas centrais que funcionam com carvão.
O gigante americano do petróleo ExxonMobil previu um investimento de até US$ 600 milhões em pesquisas destinadas a produzir petróleo a partir de algas.
Os industriais, particularmente no âmbito aeronáutico, estão interessados nessas pesquisas, nas quais esperam encontrar soluções para substituir o petróleo clássico, cada vez mais escasso e cujos preços são variáveis.
domingo, 13 de março de 2011
Sustainability
Após analisarmos os fatores que nortearão a competitividade das empresas nos próximos anos, percebemos que sobreviver corporativamente hoje e no futuro passa por entender que qualquer organização empresarial faz parte de um todo, que deve ser sustentável. Portanto, para que as empresas consigam ter sucesso, seu ambiente, seu todo, formado pelo conjunto de seus stakeholders diretos e indiretos, deve ter sucesso e deve prosperar, o que torna a empresa co-responsável por este processo, juntamente com governos, Academia, ONGs e os próprios cidadãos.
Ultimamente, Sustentabilidade Corporativa passou a ser mais que um conceito importante. De fato, passou a ser um vetor determinante no sucesso das empresas, seja por estimular sua capacidade de interagir com seus stakeholders gerando ganhos para ambas as partes, seja por sua preponderância de construção de reputação e credibilidade a partir de questões como transparência, ética, cidadania corporativa e responsabilidade social empresarial.Portanto, o conceito de Sustentabilidade Corporativa, embasado no chamado "triple bottom line" (ou tripé resultado econômico-financeiro x resultado social e x resultado ambiental) é cada vez mais valorizado por acionistas e clientes, tornando-se um imperativo para o sucesso das corporações.
Antes de tudo, Sustentabilidade Corporativa se refere a uma postura, uma forma de conduzir as atividades empresariais. Ser, pensar, decidir e agir de forma sustentável requer um processo de entendimento, negociação e integração construtiva entre todos os agentes de relacionamento de uma empresa ao olhar os princípios e valores da própria organização e de sua ética.
A forma como a empresa se relaciona com seus acionistas, clientes, sociedade, fornecedores, Estado, meio-ambiente ou com os seus funcionários deve refletir esses valores e essa postura ética e deve ser questionada e medida sistematicamente, uma vez que todos esses stakeholders (ou seja, sua cadeia de valor e interesses) são co-responsáveis pelo crescimento sustentado e equilibrado do todo.
Mas, como tudo em tendências corporativas, há quem não goste do modismo do tema.
E com razão.
O americano Milton Friedman, um dos mais destacados economistas do século XX, influente teórico do liberalismo econômico, conselheiro de Nixon, Ford e Reagan, era um crítico da idéia de responsabilidade social nas empresas.
Prêmio Nobel de Economia de 1976 por suas realizações nos campos da análise do consumo, da teoria e demonstração da complexidade da política de estabilização, Friedman defendia que "A empresa pertence aos acionistas. Sua missão é gerar a maior quantidade possível de lucros para eles, respeitando as leis de cada país.". Para ele, o conceito de responsabilidade social era ''fundamentalmente subversivo''.
O fato é que por muitos anos esse tipo de mentalidade influenciou a visão das empresas americanas. Apenas recentemente, com exemplos vindos dos mais diversos países, empresas e do terceiro setor, é que a maioria das empresas daquele país começou a perceber que as regras do jogo mudaram e caso não incorporassem as práticas de Sustentabilidade seriam boicotadas e preteridas pelos consumidores globais, com poder e atuação em rede, fora possíveis liabilities a que seriam submetidas, principalmente no campo ambiental e social.
De certa forma, é difícil discordar integralmente de Friedman. De certo, as empresas têm como premissa primeira atingir sua missão, gerando o máximo lucro possível aos acionistas. Ou seja, a missão da empresa vem em primeiro lugar e é seu norte central.
Portanto, pensar no lucro é premissa de existência de uma empresa; mas não sua finalidade única. O lucro empresarial é imperativo e deve ser exigido das empresas (como forma de mensuração de seu direito de existir como agente econômico de transformação); porém, deve ser entendido como meio, energia, combustível que permite à empresa atingir seus objetivos, sua missão.
Para tal, a organização está sujeita a condicionantes-meio fundamentais, como respeito às leis e regulamentações de cada país, desenvolvimento da sociedade e preservação do meio-ambiente. Ou seja, a Sustentabilidade é meio – e não fim – para as empresas.
Particularmente, evitar a extinção dos ursos panda ou ajudar aos necessitados do Haiti é prerrogativa primeira organizações construídas com tal missão, ou seja, ONGs, ou órgãos dos governos e mesmo empresas, mas a partir de seus institutos, fundações e apoios filantrópicas e assistencialistas... o que difere radicalmente em conceito e convocatória do tema Sustentabilidade.
Se até algum tempo atrás, a relação do consumidor com as empresas se estabelecia basicamente em torno do produto/serviço fornecido, hoje a sociedade, na figura de suas ONGs, dos órgãos governamentais, da imprensa e na própria figura do indivíduo-cidadão (como eleitor, consumidor e acionista/investidor) passa a exigir das empresas, principalmente das de capital aberto, que adotem a prática da transparência nos seus processos de governança corporativa e distribuição de riquezas, obrigando-as a mostrar a quem de direito que estão devolvendo à sociedade (em diferentes formas) os recursos que utilizam para produzirem essa riqueza. Mais que intenção, Sustentabilidade "triple bottom line" é resultado aparente e transparente
domingo, 20 de fevereiro de 2011
Brasil precisa de investimento em energia limpa, diz Ipea
A meta de consolidar uma matriz de energia "limpa" no Brasil a partir dos avanços em biocombustíveis e outras fontes alternativas requer um maior investimento para os próximos anos, apontou um estudo do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).

No caso dos biocombustíveis, para competir com os derivados do petróleo, o estudo sugere estímulos como os subsídios e até as isenções fiscais por parte do governo.
O estudo revela que o Brasil consome anualmente 25 bilhões de litros de etanol, segundo dados de 2009, e que essa demanda pode chegar aos 60 bilhões de litros em 2017.
Mais de 90% dos veículos automotores novos no Brasil estão dotados com a tecnologia flex, que permite a combustão com gasolina, etanol ou a mistura de ambos.
Apesar do crescimento da demanda de biocombustíveis no Brasil, o estudo mostrou também uma tendência ao aumento do consumo de combustíveis fósseis no país até 2030.
As mesmas projeções apontam que a energia eólica e a gerada a partir de resíduos sólidos também devem crescer no Brasil.
Fonte: Folha on line
terça-feira, 8 de fevereiro de 2011
O pré-sal e o etanol
Rogério Cézar de Cerqueira Leite
O pré-sal e o etanol
A despeito da inquestionável competência da Petrobras, é imensa a vantagem do etanol sobre o petróleo do pré-sal quanto à sustentabilidade
De acordo com as últimas avaliações da Petrobras, a reserva total do pré-sal soma cerca de 13 bilhões de barris, o que corresponde a aproximadamente 1% das reservas restantes mundiais e que nada significaria para a humanidade quanto ao deslocamento do pico de produção.
Admitindo um tempo de vida de 80 anos para as reservas dos campos do pré-sal, calculamos que sua contribuição será, em média, de aproximadamente 20% acima da atual produção nacional.
Por outro lado, com o barril de petróleo a preços superiores a US$ 90, até as avaliações menos otimistas de custos de produção do barril de petróleo do pré-sal talvez justificassem o investimento.
Para a comparação de vantagens financeiras entre combustíveis são essenciais duas variáveis: os custos de produção da unidade de energia e os custos de investimento por unidade de energia por dia.
Pois bem, dentro dos limites tecnológicos atuais, o melhor que se pode esperar para o pré-sal é um custo de produção de pelo menos o dobro daquele da produção de etanol. Quanto aos custos de investimento, tudo parece indicar que a situação é ainda pior para o pré-sal.
Um terceiro fator a ser considerado é o risco financeiro.
Em primeiro lugar, há a questão de um mercado cujos governos encontram sucessivos sofismas para retardar a penetração do etanol brasileiro. Por outro lado, os riscos de produção do etanol são ínfimos em comparação com os do petróleo do pré-sal, cuja tecnologia de extração ainda não está desenvolvida.
Consideremos agora a questão da sustentabilidade e, sob esse aspecto, do aquecimento global. Enquanto o petróleo é o problema, o etanol de cana-de-açúcar é a solução. Mas não é apenas sob esse importante ângulo de sustentabilidade que a imensa superioridade do etanol sobre o petróleo do pré-sal deve ser considerada.
Risco de vazamento a grandes profundidades e sob altas pressões são imprevisíveis. Portanto, a despeito da inquestionável competência técnica da Petrobras, é imensa a vantagem do etanol sobre o petróleo do pré-sal sob qualquer aspecto de sustentabilidade.
Enquanto a produção de etanol é intensiva em mão de obra, a de petróleo o é em capital, o que é uma desvantagem para um país em desenvolvimento, em que o crescimento populacional exige a criação de empregos em vários níveis de especialização. Portanto, também sob o ponto de vista social, o etanol é preferível ao petróleo do pré-sal.
Com apenas 8% dos 200 milhões de hectares de pastagem, seria possível substituir por etanol 5% da gasolina consumida no planeta. Ou seja, a opção pelo etanol nessa medida, bastante conservadora, proporcionaria uma produção de combustível líquido entre três e quatro vezes maior que todo o petróleo do pré-sal até hoje confirmado, e não apenas por 60 ou 80 anos, mas indefinidamente.
Se tudo o que foi dito aqui é verdade, ou pelo menos verossímil, então como se explica a opção pelo pré-sal? Ou é um grande equívoco ou é uma revelação. A imensa intuição do presidente Lula deve ter percebido que o Brasil, nesse estado juvenil de desenvolvimento em que se encontra, precisa de um projeto nacional, pioneiro. Precisa de seu "homem na Lua".
Enquanto o etanol seria só um pouco mais da mesmice prosaica do século passado, o pré-sal, com seus imensos desafios tecnológicos e financeiros, seria a bandeira do desenvolvimentismo ousado, para não dizer agressivo, que deveria propelir o país no século 21. O Brasil chegaria, assim, mais fundo, aonde nenhum outro país teria ousado ir.
Artigo publicado originalmente no jornal Folha de S. Paulo, edição de 08 de fevereiro de 2011.
Rogério Cézar de Cerqueira Leite é físico e professor emérito da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), presidente do Conselho de Administração da ABTLuS (Associação Brasileira de Tecnologia de Luz Síncrotron) e membro do Conselho Editorial do jornal Folha de S. Paulo.
O pré-sal e o etanol
A despeito da inquestionável competência da Petrobras, é imensa a vantagem do etanol sobre o petróleo do pré-sal quanto à sustentabilidade
De acordo com as últimas avaliações da Petrobras, a reserva total do pré-sal soma cerca de 13 bilhões de barris, o que corresponde a aproximadamente 1% das reservas restantes mundiais e que nada significaria para a humanidade quanto ao deslocamento do pico de produção.
Admitindo um tempo de vida de 80 anos para as reservas dos campos do pré-sal, calculamos que sua contribuição será, em média, de aproximadamente 20% acima da atual produção nacional.
Por outro lado, com o barril de petróleo a preços superiores a US$ 90, até as avaliações menos otimistas de custos de produção do barril de petróleo do pré-sal talvez justificassem o investimento.
Para a comparação de vantagens financeiras entre combustíveis são essenciais duas variáveis: os custos de produção da unidade de energia e os custos de investimento por unidade de energia por dia.
Pois bem, dentro dos limites tecnológicos atuais, o melhor que se pode esperar para o pré-sal é um custo de produção de pelo menos o dobro daquele da produção de etanol. Quanto aos custos de investimento, tudo parece indicar que a situação é ainda pior para o pré-sal.
Um terceiro fator a ser considerado é o risco financeiro.
Em primeiro lugar, há a questão de um mercado cujos governos encontram sucessivos sofismas para retardar a penetração do etanol brasileiro. Por outro lado, os riscos de produção do etanol são ínfimos em comparação com os do petróleo do pré-sal, cuja tecnologia de extração ainda não está desenvolvida.
Consideremos agora a questão da sustentabilidade e, sob esse aspecto, do aquecimento global. Enquanto o petróleo é o problema, o etanol de cana-de-açúcar é a solução. Mas não é apenas sob esse importante ângulo de sustentabilidade que a imensa superioridade do etanol sobre o petróleo do pré-sal deve ser considerada.
Risco de vazamento a grandes profundidades e sob altas pressões são imprevisíveis. Portanto, a despeito da inquestionável competência técnica da Petrobras, é imensa a vantagem do etanol sobre o petróleo do pré-sal sob qualquer aspecto de sustentabilidade.
Enquanto a produção de etanol é intensiva em mão de obra, a de petróleo o é em capital, o que é uma desvantagem para um país em desenvolvimento, em que o crescimento populacional exige a criação de empregos em vários níveis de especialização. Portanto, também sob o ponto de vista social, o etanol é preferível ao petróleo do pré-sal.
Com apenas 8% dos 200 milhões de hectares de pastagem, seria possível substituir por etanol 5% da gasolina consumida no planeta. Ou seja, a opção pelo etanol nessa medida, bastante conservadora, proporcionaria uma produção de combustível líquido entre três e quatro vezes maior que todo o petróleo do pré-sal até hoje confirmado, e não apenas por 60 ou 80 anos, mas indefinidamente.
Se tudo o que foi dito aqui é verdade, ou pelo menos verossímil, então como se explica a opção pelo pré-sal? Ou é um grande equívoco ou é uma revelação. A imensa intuição do presidente Lula deve ter percebido que o Brasil, nesse estado juvenil de desenvolvimento em que se encontra, precisa de um projeto nacional, pioneiro. Precisa de seu "homem na Lua".
Enquanto o etanol seria só um pouco mais da mesmice prosaica do século passado, o pré-sal, com seus imensos desafios tecnológicos e financeiros, seria a bandeira do desenvolvimentismo ousado, para não dizer agressivo, que deveria propelir o país no século 21. O Brasil chegaria, assim, mais fundo, aonde nenhum outro país teria ousado ir.
Artigo publicado originalmente no jornal Folha de S. Paulo, edição de 08 de fevereiro de 2011.
Rogério Cézar de Cerqueira Leite é físico e professor emérito da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), presidente do Conselho de Administração da ABTLuS (Associação Brasileira de Tecnologia de Luz Síncrotron) e membro do Conselho Editorial do jornal Folha de S. Paulo.
segunda-feira, 3 de janeiro de 2011
Ministérios se unem para incentivar energia solar
Embora a matriz energética brasileira já seja predominantemente baseada em energias renováveis e o Brasil tenha elevado potencial de irradiação, a participação da energia solar ainda é incipiente no País.
Reportagem recente da revista Photon (importante publicação de energia solar fotovoltaica em âmbito internacional) intitula o Brasil como "o gigante que está dormindo embaixo do sol".
Mas talvez este cenário possa começar a mudar a partir de 2011.
A reboque das iniciativas do setor privado, voltadas sobretudo para o uso da energia solar térmica para o aquecimento de água residencial, o governo federal deu os primeiros passos para uma política pública mais sólida para o setor da energia solar no Brasil.
Energia heliotérmica
Foi assinado nesta semana, em Brasília, um Acordo de Cooperação Técnica entre os ministérios da Ciência e Tecnologia (MCT) e de Minas e Energia (MME) com o objetivo de fomentar o desenvolvimento científico e tecnológico para o aproveitamento da energia solar no Brasil.
O foco dos esforços será a energia heliotérmica, que usa concentradores solares para aquecer fluidos e gerar eletricidade.
O princípio de funcionamento de uma usina heliotérmica é similar ao de uma termelétrica, com a diferença que o calor que alimenta as turbinas é gerado pela luz do Sol. Atualmente existem três tecnologias principais na área: cilindros parabólicos, torre central e disco parabólico.
O acordo entre os Ministérios prevê o acompanhamento conjunto de atividades, compartilhamento de informações, fomento para a elaboração de projetos-piloto, de pesquisa e demonstrações, de capacitação técnica e de acordos nacionais e internacionais, além da criação um Comitê Gestor.
Heliotérmica em Pernambuco
De acordo com o Coordenador de Energia e Inovação de Tecnologia do MCT, Eduardo Soriano, "o acordo vai alavancar a implantação da Planta Piloto de Geração Heliotérmica no Semiárido", em Pernambuco, com aporte inicial de R$ 23 milhões, sendo R$ 18 milhões do Fundo Setorial de Energia (CT-Energ) e R$ 5 milhões da Secretaria de Ciência Tecnologia e Meio Ambiente do estado (Sectma).
A Plataforma de Pesquisa Experimental abrange tecnologias de diversos tipos de sistemas, nos moldes de plataformas de pesquisa existentes no exterior, como a de Almeira (na Espanha). A primeira tecnologia a ser implantada será a de cilindros parabólicos.
O projeto conta com parceiros como a Faculdade de Ciências Aplicadas e Sociais de Petrolina , o Centro de Pesquisas de Energia Elétrica (Cepel), a Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf), a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), o Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste (Cetene), dentre outras instituições em fase de negociação.
Tecnologia solar no Brasil
Na avaliação do ministro de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, o documento é um marco do desenvolvimento da tecnologia solar no Brasil e, para isso, é essencial que o País elabore mecanismos que estimulem a produção de pesquisas e tecnologia nacional.
"É importante o Brasil não somente ir lá fora e comprar uma central solar, mas trazer a comunidade acadêmica, centros de pesquisa e também, numa outra etapa, as empresas que pretendem participar de todo o processo", afirmou Zimmermann.
inocaçãotecnologica.com.br
Reportagem recente da revista Photon (importante publicação de energia solar fotovoltaica em âmbito internacional) intitula o Brasil como "o gigante que está dormindo embaixo do sol".
Mas talvez este cenário possa começar a mudar a partir de 2011.
A reboque das iniciativas do setor privado, voltadas sobretudo para o uso da energia solar térmica para o aquecimento de água residencial, o governo federal deu os primeiros passos para uma política pública mais sólida para o setor da energia solar no Brasil.
Energia heliotérmica
Foi assinado nesta semana, em Brasília, um Acordo de Cooperação Técnica entre os ministérios da Ciência e Tecnologia (MCT) e de Minas e Energia (MME) com o objetivo de fomentar o desenvolvimento científico e tecnológico para o aproveitamento da energia solar no Brasil.
O foco dos esforços será a energia heliotérmica, que usa concentradores solares para aquecer fluidos e gerar eletricidade.
O princípio de funcionamento de uma usina heliotérmica é similar ao de uma termelétrica, com a diferença que o calor que alimenta as turbinas é gerado pela luz do Sol. Atualmente existem três tecnologias principais na área: cilindros parabólicos, torre central e disco parabólico.
O acordo entre os Ministérios prevê o acompanhamento conjunto de atividades, compartilhamento de informações, fomento para a elaboração de projetos-piloto, de pesquisa e demonstrações, de capacitação técnica e de acordos nacionais e internacionais, além da criação um Comitê Gestor.
Heliotérmica em Pernambuco
De acordo com o Coordenador de Energia e Inovação de Tecnologia do MCT, Eduardo Soriano, "o acordo vai alavancar a implantação da Planta Piloto de Geração Heliotérmica no Semiárido", em Pernambuco, com aporte inicial de R$ 23 milhões, sendo R$ 18 milhões do Fundo Setorial de Energia (CT-Energ) e R$ 5 milhões da Secretaria de Ciência Tecnologia e Meio Ambiente do estado (Sectma).
A Plataforma de Pesquisa Experimental abrange tecnologias de diversos tipos de sistemas, nos moldes de plataformas de pesquisa existentes no exterior, como a de Almeira (na Espanha). A primeira tecnologia a ser implantada será a de cilindros parabólicos.
O projeto conta com parceiros como a Faculdade de Ciências Aplicadas e Sociais de Petrolina , o Centro de Pesquisas de Energia Elétrica (Cepel), a Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf), a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), o Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste (Cetene), dentre outras instituições em fase de negociação.
Tecnologia solar no Brasil
Na avaliação do ministro de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, o documento é um marco do desenvolvimento da tecnologia solar no Brasil e, para isso, é essencial que o País elabore mecanismos que estimulem a produção de pesquisas e tecnologia nacional.
"É importante o Brasil não somente ir lá fora e comprar uma central solar, mas trazer a comunidade acadêmica, centros de pesquisa e também, numa outra etapa, as empresas que pretendem participar de todo o processo", afirmou Zimmermann.
inocaçãotecnologica.com.br
domingo, 2 de janeiro de 2011
Accenture mostra os resultados da maior pesquisa com CEOs sobre Sustentabilidade Empresarial
Chefes executivos acreditam que a sustentabilidade tornou-se fundamental para seu sucesso, e poderia ser plenamente integrada na Core Business Dentro de dez anos.
(Nova York, 2010) – Apesar da recente recessão econômica, uma esmagadora maioria dos CEOs das empresas – 93% – dizem que a sustentabilidade será fundamental para o sucesso futuro de suas empresas. Além disso, os CEOs acreditam que, dentro de uma década, um ponto de inflexão que pode ser alcançado, em que sustentabilidade se atrele com o core business – em suas capacidades, processos e sistemas, e toda a cadeia de abastecimento global e filiais.
Estas são algumas das principais conclusões de uma pesquisa com 766 CEOs em todo o mundo – o maior estudo com executivo já realizado sobre o tema da sustentabilidade – divulgado hoje pela United Nations Global Compact e Accenture (NYSE: ACN). Além de uma pesquisa on-line, o estudo incluiu entrevistas em profundidade com 50 dos principais CEOs do mundo.
Segundo a pesquisa, A New Era of Sustainability: UN Global Compact-Accenture CEO Study 2010, a crise econômica mundial fez pouco para abafar o compromisso das empresas com a sustentabilidade. Na verdade, parece ter feito o contrário: 80 por cento dos CEOs dizem que a crise elevou a importância da sustentabilidade. Enquanto as empresas recorrem aos desafios da crise financeira, a sustentabilidade está sendo reconhecida como uma fonte de ganhos de eficiência e crescimento das receitas. Além disso, muitas empresas visualizam a sustentabilidade como um elemento fundamental na condução do crescimento em novos mercados quando olham para a recuperação econômica.
Os resultados da pesquisa indicam que as empresas estão levando a sustentabilidade mais a sério. Em uma pesquisa similar realizada em 2007, 50 por cento dos CEOs entrevistados disseram que as questões de sustentabilidade tornaram-se parte da estratégia e operações da empresa. No levantamento de 2010, esse número saltou para 81 por cento.
Embora reconhecendo a dimensão e a complexidade dos desafios globais, muitos CEOs dizem que houve progressos ao longo dos últimos três anos no processo de transição do desenvolvimento de uma estratégia de sustentabilidade para sua execução.
CEOs citaram várias barreiras para alcançar seus objetivos de sustentabilidade, incluindo:
•A complexidade na implementação da estratégia em todas as áreas da empresa (citado por 49 por cento)
•Prioridades estratégicas competitivas (48 por cento)
•Falta de reconhecimento dos mercados financeiros (34 por cento)
CEOs acreditam também que algumas condições devem ser satisfeitas antes da sustentabilidade ser completamente integrada ao core business, e que as empresas precisam assumir um papel de liderança ao tratar disso. A ação das empresas será necessária em cinco áreas chave:
•Configurar o gosto do consumidor, a fim de construir um forte mercado de produtos sustentáveis. • Treinar a gerência (gestão), os funcionários e a próxima geração de líderes para lidar com questões de sustentabilidade.
•Comunicar-se com investidores para criar uma melhor compreensão do impacto da sustentabilidade.
•Mensurar o desempenho em sustentabilidade – e explicar o valor das empresas na sociedade.
•Trabalhar com os governos para definir uma clara regulação e criar condições de concorrência equitativas.
Sobre a questão da criação de um ambiente investidor mais amigável para a sustentabilidade dos negócios, menos de 50 por cento dos executivos entrevistados indicou que a sustentabilidade pauta suas discussões com os analistas financeiros. Ainda que os CEOs acreditem, em sua maioria, que as suas atividades de sustentabilidade têm um impacto positivo na valorização da sua empresa – em termos de crescimento de receita, redução de custos, redução dos riscos e a reputação de marca – quantificar esse valor com métricas tradicionais como redução de custos e crescimento da receita foi ilusório.
“Alcançar uma sustentabilidade social e ambiental leva tempo, esforço e um comprometimento sincero de liderança”, disse Georg Kell, diretor executivo do Pacto Global das Nações Unidas. “Dois terços dos CEOs entrevistados estão olhando para o Pacto Global como um fórum para a partilha de boas práticas e ideias emergentes em matéria de sustentabilidade, e estamos ansiosos para ajudar a orientar os seus esforços para desenvolver políticas e práticas eficazes e tangíveis.”
Warming investors to the notion that sustainability is good for the bottom line and regaining trust of all stakeholders in the wake of the global financial crisis are other critical issues CEOs face, according to the survey.
Alertar os investidores que a sustentabilidade é boa para a questão central e para a retomada de confiança dos stakeholders (públicos interessados) no rastro da crise financeira é outro problema fundamental que CEOs enfrentam, de acordo com a pesquisa.
“Os CEOs nos disseram que têm a necessidade de se retrair durante a recessão, mas que sentem que agora é a hora de começar com o alinhamento da sustentabilidade com a estratégia de negócios e execução”, disse Mark Foster, chefe executivo do grupo Accenture. “Os empresários reconhecem que vão ter de assumir uma liderança real, por exemplo, mantendo a linha de sustentabilidade em seus modelos de negócios, a luta contra os obstáculos com diligência no duro de roer áreas como a cadeia de suprimentos e gestão de desempenho e trabalho duro para responder a forma e as exigências dos clientes que se transformam em uma oportunidade de sustentabilidade para o crescimento e inovação”.
Segundo as conclusões da pesquisa, três atributos corporativos foram considerados as primeiras – a marca, confiança e reputação – eram de longe as primeiras considerações dos CEOs, mencionadas para agir sobre a sustentabilidade. Eles foram identificados como 72% dos inquiridos como um dos seus maiores motivadores, seguido por: potencial de crescimento de receita e redução de custos (citado por 44%), motivação pessoal (42%), dos consumidores e necessidades dos clientes (39%) e engajamento de funcionários e de retenção (31%).
Além disso:
•83 por cento disse que a crise econômica elevou o papel da sustentabilidade e ética na construção da confiança nos negócios
•80 por cento disse que levantou a importância da sustentabilidade como uma questão de liderança para gestão
•77 por cento disse que os levou a ter uma visão de longo prazo dos negócios e do papel da sustentabilidade.
Entre os resultados adicionais da pesquisa:
•Educação e mudança climática foram apontados pelos entrevistados como as “grandes questões” que enfrentam, com a escassez de recursos e de saúde começam a aparecer no horizonte. Educação foi identificada em 72% dos inquiridos como a questão de desenvolvimento mais importante para o sucesso de seus negócios, seguido pela mudança climática, em 66%.
•91% dos CEOs disseram que suas empresas empregariam novas tecnologias para resolver problemas de sustentabilidade ao longo dos próximos cinco anos, como o desenvolvimento de energias renováveis e a criação de uma maior eficiência energética.
•78% dos inquiridos acreditam que as empresas deveriam empenhar-se em colaboração com uma variedade de partes interessadas para tratar de questões de sustentabilidade. Exemplos de potenciais parcerias incluem fornecedores, ONGs e governos.
“Fica evidente, a partir dos resultados da pesquisa, que a empresa global tem seu trabalho cortado para a construção de programas de sustentabilidade, que se tornam elementos essenciais do core business de uma empresa”, disse Peter Lacy, que liderou o estudo. “Se a sustentabilidade se torna plenamente integrada a empresas globais na próxima década, a regulação, tecnologia, investimentos e mudanças de consumo necessários serão surpreendentes, criando vencedores e perdedores significativos entre as empresas e indústrias. “Ainda assim, é ótimo ver que algum progresso está sendo feito, e que o movimento em direção a uma economia mais sustentável e no contexto dos negócios esta claramente ganhando ímpeto.”
Fonte: Pacto Global Rede Brasileira
(Nova York, 2010) – Apesar da recente recessão econômica, uma esmagadora maioria dos CEOs das empresas – 93% – dizem que a sustentabilidade será fundamental para o sucesso futuro de suas empresas. Além disso, os CEOs acreditam que, dentro de uma década, um ponto de inflexão que pode ser alcançado, em que sustentabilidade se atrele com o core business – em suas capacidades, processos e sistemas, e toda a cadeia de abastecimento global e filiais.
Estas são algumas das principais conclusões de uma pesquisa com 766 CEOs em todo o mundo – o maior estudo com executivo já realizado sobre o tema da sustentabilidade – divulgado hoje pela United Nations Global Compact e Accenture (NYSE: ACN). Além de uma pesquisa on-line, o estudo incluiu entrevistas em profundidade com 50 dos principais CEOs do mundo.
Segundo a pesquisa, A New Era of Sustainability: UN Global Compact-Accenture CEO Study 2010, a crise econômica mundial fez pouco para abafar o compromisso das empresas com a sustentabilidade. Na verdade, parece ter feito o contrário: 80 por cento dos CEOs dizem que a crise elevou a importância da sustentabilidade. Enquanto as empresas recorrem aos desafios da crise financeira, a sustentabilidade está sendo reconhecida como uma fonte de ganhos de eficiência e crescimento das receitas. Além disso, muitas empresas visualizam a sustentabilidade como um elemento fundamental na condução do crescimento em novos mercados quando olham para a recuperação econômica.
Os resultados da pesquisa indicam que as empresas estão levando a sustentabilidade mais a sério. Em uma pesquisa similar realizada em 2007, 50 por cento dos CEOs entrevistados disseram que as questões de sustentabilidade tornaram-se parte da estratégia e operações da empresa. No levantamento de 2010, esse número saltou para 81 por cento.
Embora reconhecendo a dimensão e a complexidade dos desafios globais, muitos CEOs dizem que houve progressos ao longo dos últimos três anos no processo de transição do desenvolvimento de uma estratégia de sustentabilidade para sua execução.
CEOs citaram várias barreiras para alcançar seus objetivos de sustentabilidade, incluindo:
•A complexidade na implementação da estratégia em todas as áreas da empresa (citado por 49 por cento)
•Prioridades estratégicas competitivas (48 por cento)
•Falta de reconhecimento dos mercados financeiros (34 por cento)
CEOs acreditam também que algumas condições devem ser satisfeitas antes da sustentabilidade ser completamente integrada ao core business, e que as empresas precisam assumir um papel de liderança ao tratar disso. A ação das empresas será necessária em cinco áreas chave:
•Configurar o gosto do consumidor, a fim de construir um forte mercado de produtos sustentáveis. • Treinar a gerência (gestão), os funcionários e a próxima geração de líderes para lidar com questões de sustentabilidade.
•Comunicar-se com investidores para criar uma melhor compreensão do impacto da sustentabilidade.
•Mensurar o desempenho em sustentabilidade – e explicar o valor das empresas na sociedade.
•Trabalhar com os governos para definir uma clara regulação e criar condições de concorrência equitativas.
Sobre a questão da criação de um ambiente investidor mais amigável para a sustentabilidade dos negócios, menos de 50 por cento dos executivos entrevistados indicou que a sustentabilidade pauta suas discussões com os analistas financeiros. Ainda que os CEOs acreditem, em sua maioria, que as suas atividades de sustentabilidade têm um impacto positivo na valorização da sua empresa – em termos de crescimento de receita, redução de custos, redução dos riscos e a reputação de marca – quantificar esse valor com métricas tradicionais como redução de custos e crescimento da receita foi ilusório.
“Alcançar uma sustentabilidade social e ambiental leva tempo, esforço e um comprometimento sincero de liderança”, disse Georg Kell, diretor executivo do Pacto Global das Nações Unidas. “Dois terços dos CEOs entrevistados estão olhando para o Pacto Global como um fórum para a partilha de boas práticas e ideias emergentes em matéria de sustentabilidade, e estamos ansiosos para ajudar a orientar os seus esforços para desenvolver políticas e práticas eficazes e tangíveis.”
Warming investors to the notion that sustainability is good for the bottom line and regaining trust of all stakeholders in the wake of the global financial crisis are other critical issues CEOs face, according to the survey.
Alertar os investidores que a sustentabilidade é boa para a questão central e para a retomada de confiança dos stakeholders (públicos interessados) no rastro da crise financeira é outro problema fundamental que CEOs enfrentam, de acordo com a pesquisa.
“Os CEOs nos disseram que têm a necessidade de se retrair durante a recessão, mas que sentem que agora é a hora de começar com o alinhamento da sustentabilidade com a estratégia de negócios e execução”, disse Mark Foster, chefe executivo do grupo Accenture. “Os empresários reconhecem que vão ter de assumir uma liderança real, por exemplo, mantendo a linha de sustentabilidade em seus modelos de negócios, a luta contra os obstáculos com diligência no duro de roer áreas como a cadeia de suprimentos e gestão de desempenho e trabalho duro para responder a forma e as exigências dos clientes que se transformam em uma oportunidade de sustentabilidade para o crescimento e inovação”.
Segundo as conclusões da pesquisa, três atributos corporativos foram considerados as primeiras – a marca, confiança e reputação – eram de longe as primeiras considerações dos CEOs, mencionadas para agir sobre a sustentabilidade. Eles foram identificados como 72% dos inquiridos como um dos seus maiores motivadores, seguido por: potencial de crescimento de receita e redução de custos (citado por 44%), motivação pessoal (42%), dos consumidores e necessidades dos clientes (39%) e engajamento de funcionários e de retenção (31%).
Além disso:
•83 por cento disse que a crise econômica elevou o papel da sustentabilidade e ética na construção da confiança nos negócios
•80 por cento disse que levantou a importância da sustentabilidade como uma questão de liderança para gestão
•77 por cento disse que os levou a ter uma visão de longo prazo dos negócios e do papel da sustentabilidade.
Entre os resultados adicionais da pesquisa:
•Educação e mudança climática foram apontados pelos entrevistados como as “grandes questões” que enfrentam, com a escassez de recursos e de saúde começam a aparecer no horizonte. Educação foi identificada em 72% dos inquiridos como a questão de desenvolvimento mais importante para o sucesso de seus negócios, seguido pela mudança climática, em 66%.
•91% dos CEOs disseram que suas empresas empregariam novas tecnologias para resolver problemas de sustentabilidade ao longo dos próximos cinco anos, como o desenvolvimento de energias renováveis e a criação de uma maior eficiência energética.
•78% dos inquiridos acreditam que as empresas deveriam empenhar-se em colaboração com uma variedade de partes interessadas para tratar de questões de sustentabilidade. Exemplos de potenciais parcerias incluem fornecedores, ONGs e governos.
“Fica evidente, a partir dos resultados da pesquisa, que a empresa global tem seu trabalho cortado para a construção de programas de sustentabilidade, que se tornam elementos essenciais do core business de uma empresa”, disse Peter Lacy, que liderou o estudo. “Se a sustentabilidade se torna plenamente integrada a empresas globais na próxima década, a regulação, tecnologia, investimentos e mudanças de consumo necessários serão surpreendentes, criando vencedores e perdedores significativos entre as empresas e indústrias. “Ainda assim, é ótimo ver que algum progresso está sendo feito, e que o movimento em direção a uma economia mais sustentável e no contexto dos negócios esta claramente ganhando ímpeto.”
Fonte: Pacto Global Rede Brasileira
quarta-feira, 17 de novembro de 2010
86% da matriz mundial dependerá do petróleo em 2030
Por Lilian Milena
Duas décadas de estudos e pesquisas não serão suficientes para eliminar a dependência humana das fontes de origem fóssil. O petróleo continuará sendo a principal matriz energética em 2030, segundo a Agência Internacional de Energia (AIE).
Em 2007, 87% da matriz mundial era composta por petróleo, gás natural e carvão mineral, restando às fontes renováveis a participação de 13% sobre a oferta. Em 2030, o consumo será o dobro do atual, sendo 86% da matriz formada por fontes fósseis e apenas 14% pelos demais insumos.
A questão foi um dos temas centrais do 3º Fórum de Debates Brasilianas.org, que tratou da Sustentabilidade. Luis Cesar Stano, gerente de Desenvolvimento em SMS e Eficiência Energética da Petrobras, destacou que no Brasil não será diferente. Em 2030, o consumo energético do país será duas vezes maior, e a participação das fontes renováveis (hidroeletricidade, biocombustíveis e outros) se manterá em 46% da matriz.
Surge desse cenário duas preocupações: a primeira, relacionada a redução dos gases de efeito-estufa, já que existe consenso de que a ciência não será capaz de criar um insumo sustentável com qualidade equivalente ao petróleo a ponto de tornar a humanidade menos dependente de fontes fósseis, pelo menos nos próximos vinte anos. A segunda, é o forte declínio da produção de petróleo previsto pela AIE.
Em duas décadas, a demanda global por petróleo deverá atingir 107 milhões de barris por dia (MM bpd), ante cerca de 84 MM bpd produzidos em 2010. Em 2030 as reservas mundiais disponíveis serão equivalentes a 32% das necessidades. (Agora, pensem na questão do PRE-SAL... aquele mundo de petroleo de alta qualidade em costas brasileiras... querem ver algo interessante? Sugiro que se informem sobre o "Plano Nacional de Defesa"...)
O aumento da eficiência energética é apontado por Stano como uma das saídas mais estudadas no mundo que, conjugada ao uso de novas fontes, ajudará a atender as demandas. A Europa conseguiu reduzir seu consumo em 50% nos últimos 30 anos a partir da eficiência energética, que pode ser conseguida tanto nos processos de produção e transmissão quanto no uso final da matriz – opção de lâmpadas incandescentes, eletrodomésticos com tecnologia de consumo menor de energia elétrica.
Comparação Internacional
Nos Estados Unidos a eficiência energética é de aproximadamente 39%, na China, de 31%, e na Índia 29% - ou seja, mais de 50% da energia queimada nesses países não chega a ser utilizada efetivamente, tendo em vista que a principal matriz de energia elétrica deles é o carvão mineral.
Marco Aurélio Carvalho, diretor do Instituto Nacional de Eficiência Energética (INEE), explica que os números no Brasil não são muito diferentes. O total de perdas na matriz energética atinge 63%, logo o aproveitamento brasileiro é de 37%. "Isso, dentro do conceito que chamamos 'do poço a roda'. Ou seja, que vem desde o processo de produção, transmissão, até durante o uso pelo consumidor", completa.
O porta-voz do INEE explica que já existem processos capazes de reduzir substancialmente os desperdícios com o uso de cogeração, modalidade que permite a geração de energia com rejeitos de outros processos produtivos, como biogás e térmicas de bagaço de cana-de-açúcar.
Veículos
Usando como exemplo o caso dos veículos, Carvalho explica que o rendimento energético dos motores movidos a gasolina, e até mesmo os flex, é de apenas 30%. Boa parte dos 70% restantes é perdida na forma de calor. Mas, se o combustível usado para mover o motor fosse à energia elétrica, o aproveitamento dobraria.
O diretor do INEE diz que, em se tratando de eficiência energética, os modelos híbridos (carros que são carregados eletricamente a combustão interna do motor, movido por gasolina) compensam menos que os 100% elétricos. Em contrapartida, quando se trata de custo/benefício, os híbridos são melhores, pois os totalmente elétricos ainda precisam ser melhorados tecnologicamente para saírem das fábricas como produto competitivo – as baterias são pesadas, resultando na queda de velocidade, e o tempo para recarregá-las é muito elevado (8 horas em média).
Segundo Cardozo, já existem modelos de híbridos com desempenho de 40 a 100 quilômetros por litro de gasolina maior comparado aos modelos convencionais, testados na Europa e Estados Unidos.
Eficiência
O porta-voz da INEE destaca que há espaço para expandir significativamente a eficiência energética em vários setores, a exemplo das usinas de etanol. "Existem contingentes de caldeiras de baixa pressão, do nível de 22 BAR (unidade de pressão energética) em funcionamento nas usinas, sendo que já são fabricadas caldeiras operando a 90 BAR, portanto muito mais eficientes".
A produção de etanol no Brasil já é considerada eficiente pelo fato de aproveitar o bagaço da cana de açúcar – dispensável para produção do etanol de primeira geração – como combustível das caldeiras que produzem o biocombustível. O excedente energético dessa operação é vendido às redes de linha de transmissão de energia elétrica ou utilizado pela própria usina.
A Empresa de Pesquisa Energética (EPE), no Plano Decenal de Energia (PDE) 2010-2019, estima que o país poderá aumentar a eficiência em 12,5% no consumo atual de petróleo – 50% dessa economia se dará no setor industrial e 41% no setor de transporte.
Propostas
O Conselho Mundial de Energia, no relatório "Energy Efficiency: A Recipe for Success" (2010), verificou que 30% dos 90 países pesquisados realizam atualmente a redução de impostos sobre equipamentos de eficiência energética ou investimentos para minimizar os desperdícios.
O uso de lâmpada florescente compacta é a ação mais incentivada fora da OCDE. Alguns países europeus optaram pela redução do IVA (imposto sobre valor acrescido ou agregado), dos produtos de melhor eficiência energética. Outra prática bastante difundida é o incentivo fiscal as empresas que assumem compromissos de reduzir o consumo de energia, logo, suas emissões de CO2.
Dentre as medidas brasileiras está a identificação do nível de eficiência de eletrodomésticos pelo selo Procel (Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica). Houve também, durante o período de isenção do IPI a eletrodomésticos, redução maior de impostos para produtos com melhor eficiência energética.
Por outro lado, Cardozo critica a falta de incentivos fiscais à produção de veículos elétricos. "Atualmente os impostos que incidem sobre a produção de um carro movido a energia elétrica prejudicam significativamente a competitividade desses modelos no mercado", avalia.
O estudo "Lighting the way: Toward a Sustainable Energy Future", publicado em 2007, e coordenado por José Goldemberg, cientista físico e ex-secretário do Ministério do Meio Ambiente, junto com o prêmio Nobel Steven Chu, aponta que o crescimento mundial/ano da quantidade de energia produzida por fontes renováveis é de aproximadamente 6%, ao passo que o aumento do consumo de energia de combustíveis fósseis é de apenas 2% ao ano.
Mesmo assim, o trabalho, elaborado por 15 cientistas da InterAcademy Cauncil, reitera que as energias renováveis só vão passar a contribuir efetivamente para a matriz mundial em trinta anos.
O etanol brasileiro é colocado como uma opção sustentável para a frota de veículos. Em três décadas o país conseguiu aumentar de três mil para 6 mil litros por hectare a produção do biocombustível.
A obtenção do biocombustível da cana-de-açúcar que consiste na fermentação do caldo extraído da planta, recebeu o nome de etanol da primeira geração, e está próxima do aproveitamento máximo de produtividade.
Pesquisas do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) calculam para um rendimento médio de 91% nas usinas que deve chegar a praticamente 100%, nos próximos anos, com a melhora do processo fermentativo – estágio onde mais ocorrem perdas.
A segunda geração de etanol está em processo de aprimoramento. Trata-se de produzir combustível a partir de resíduos vegetais, ricos em celulose, como o bagaço da cana-de-açúcar. Estima-se que uma destilaria que produz cerca de 1 milhão de litros de etanol por dia, com o caldo da cana, pode gerar mais 150 mil litros de etanol a partir do bagaço.
O cientista norte-americano Lee Lynd coordena estudos de uma técnica que possibilita a produção de etanol desses resíduos em uma única fase, e não em quatro, como usualmente. O processo, chamado de bioprocessamento consolidado (CBP, na sigla em inglês) é feito por microorganismos geneticamente modificados que produzem anaerobicamente substâncias enzimáticas com potencial mais avançado que as enzimas aplicadas em outros processos.
O pesquisador estima que a partir da segunda geração o mundo terá condições de atender até 25% da frota de veículos. "A cana, francamente, tem mais mérito em relação a outras culturas. E a biomassa celulósica é uma matéria prima bastante promissora", diz.
A cultura do Brasil se destaca por ser mais sustentável em relação às espécies plantadas com a mesma finalidade pelo mundo – têm baixas emissões de gases estufa, elevada produção de combustível por hectares e menores impactos sobre a poluição da água.
Duas décadas de estudos e pesquisas não serão suficientes para eliminar a dependência humana das fontes de origem fóssil. O petróleo continuará sendo a principal matriz energética em 2030, segundo a Agência Internacional de Energia (AIE).
Em 2007, 87% da matriz mundial era composta por petróleo, gás natural e carvão mineral, restando às fontes renováveis a participação de 13% sobre a oferta. Em 2030, o consumo será o dobro do atual, sendo 86% da matriz formada por fontes fósseis e apenas 14% pelos demais insumos.
A questão foi um dos temas centrais do 3º Fórum de Debates Brasilianas.org, que tratou da Sustentabilidade. Luis Cesar Stano, gerente de Desenvolvimento em SMS e Eficiência Energética da Petrobras, destacou que no Brasil não será diferente. Em 2030, o consumo energético do país será duas vezes maior, e a participação das fontes renováveis (hidroeletricidade, biocombustíveis e outros) se manterá em 46% da matriz.
Surge desse cenário duas preocupações: a primeira, relacionada a redução dos gases de efeito-estufa, já que existe consenso de que a ciência não será capaz de criar um insumo sustentável com qualidade equivalente ao petróleo a ponto de tornar a humanidade menos dependente de fontes fósseis, pelo menos nos próximos vinte anos. A segunda, é o forte declínio da produção de petróleo previsto pela AIE.
Em duas décadas, a demanda global por petróleo deverá atingir 107 milhões de barris por dia (MM bpd), ante cerca de 84 MM bpd produzidos em 2010. Em 2030 as reservas mundiais disponíveis serão equivalentes a 32% das necessidades. (Agora, pensem na questão do PRE-SAL... aquele mundo de petroleo de alta qualidade em costas brasileiras... querem ver algo interessante? Sugiro que se informem sobre o "Plano Nacional de Defesa"...)
O aumento da eficiência energética é apontado por Stano como uma das saídas mais estudadas no mundo que, conjugada ao uso de novas fontes, ajudará a atender as demandas. A Europa conseguiu reduzir seu consumo em 50% nos últimos 30 anos a partir da eficiência energética, que pode ser conseguida tanto nos processos de produção e transmissão quanto no uso final da matriz – opção de lâmpadas incandescentes, eletrodomésticos com tecnologia de consumo menor de energia elétrica.
Comparação Internacional
Nos Estados Unidos a eficiência energética é de aproximadamente 39%, na China, de 31%, e na Índia 29% - ou seja, mais de 50% da energia queimada nesses países não chega a ser utilizada efetivamente, tendo em vista que a principal matriz de energia elétrica deles é o carvão mineral.
Marco Aurélio Carvalho, diretor do Instituto Nacional de Eficiência Energética (INEE), explica que os números no Brasil não são muito diferentes. O total de perdas na matriz energética atinge 63%, logo o aproveitamento brasileiro é de 37%. "Isso, dentro do conceito que chamamos 'do poço a roda'. Ou seja, que vem desde o processo de produção, transmissão, até durante o uso pelo consumidor", completa.
O porta-voz do INEE explica que já existem processos capazes de reduzir substancialmente os desperdícios com o uso de cogeração, modalidade que permite a geração de energia com rejeitos de outros processos produtivos, como biogás e térmicas de bagaço de cana-de-açúcar.
Veículos
Usando como exemplo o caso dos veículos, Carvalho explica que o rendimento energético dos motores movidos a gasolina, e até mesmo os flex, é de apenas 30%. Boa parte dos 70% restantes é perdida na forma de calor. Mas, se o combustível usado para mover o motor fosse à energia elétrica, o aproveitamento dobraria.
O diretor do INEE diz que, em se tratando de eficiência energética, os modelos híbridos (carros que são carregados eletricamente a combustão interna do motor, movido por gasolina) compensam menos que os 100% elétricos. Em contrapartida, quando se trata de custo/benefício, os híbridos são melhores, pois os totalmente elétricos ainda precisam ser melhorados tecnologicamente para saírem das fábricas como produto competitivo – as baterias são pesadas, resultando na queda de velocidade, e o tempo para recarregá-las é muito elevado (8 horas em média).
Segundo Cardozo, já existem modelos de híbridos com desempenho de 40 a 100 quilômetros por litro de gasolina maior comparado aos modelos convencionais, testados na Europa e Estados Unidos.
Eficiência
O porta-voz da INEE destaca que há espaço para expandir significativamente a eficiência energética em vários setores, a exemplo das usinas de etanol. "Existem contingentes de caldeiras de baixa pressão, do nível de 22 BAR (unidade de pressão energética) em funcionamento nas usinas, sendo que já são fabricadas caldeiras operando a 90 BAR, portanto muito mais eficientes".
A produção de etanol no Brasil já é considerada eficiente pelo fato de aproveitar o bagaço da cana de açúcar – dispensável para produção do etanol de primeira geração – como combustível das caldeiras que produzem o biocombustível. O excedente energético dessa operação é vendido às redes de linha de transmissão de energia elétrica ou utilizado pela própria usina.
A Empresa de Pesquisa Energética (EPE), no Plano Decenal de Energia (PDE) 2010-2019, estima que o país poderá aumentar a eficiência em 12,5% no consumo atual de petróleo – 50% dessa economia se dará no setor industrial e 41% no setor de transporte.
Propostas
O Conselho Mundial de Energia, no relatório "Energy Efficiency: A Recipe for Success" (2010), verificou que 30% dos 90 países pesquisados realizam atualmente a redução de impostos sobre equipamentos de eficiência energética ou investimentos para minimizar os desperdícios.
O uso de lâmpada florescente compacta é a ação mais incentivada fora da OCDE. Alguns países europeus optaram pela redução do IVA (imposto sobre valor acrescido ou agregado), dos produtos de melhor eficiência energética. Outra prática bastante difundida é o incentivo fiscal as empresas que assumem compromissos de reduzir o consumo de energia, logo, suas emissões de CO2.
Dentre as medidas brasileiras está a identificação do nível de eficiência de eletrodomésticos pelo selo Procel (Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica). Houve também, durante o período de isenção do IPI a eletrodomésticos, redução maior de impostos para produtos com melhor eficiência energética.
Por outro lado, Cardozo critica a falta de incentivos fiscais à produção de veículos elétricos. "Atualmente os impostos que incidem sobre a produção de um carro movido a energia elétrica prejudicam significativamente a competitividade desses modelos no mercado", avalia.
O estudo "Lighting the way: Toward a Sustainable Energy Future", publicado em 2007, e coordenado por José Goldemberg, cientista físico e ex-secretário do Ministério do Meio Ambiente, junto com o prêmio Nobel Steven Chu, aponta que o crescimento mundial/ano da quantidade de energia produzida por fontes renováveis é de aproximadamente 6%, ao passo que o aumento do consumo de energia de combustíveis fósseis é de apenas 2% ao ano.
Mesmo assim, o trabalho, elaborado por 15 cientistas da InterAcademy Cauncil, reitera que as energias renováveis só vão passar a contribuir efetivamente para a matriz mundial em trinta anos.
O etanol brasileiro é colocado como uma opção sustentável para a frota de veículos. Em três décadas o país conseguiu aumentar de três mil para 6 mil litros por hectare a produção do biocombustível.
A obtenção do biocombustível da cana-de-açúcar que consiste na fermentação do caldo extraído da planta, recebeu o nome de etanol da primeira geração, e está próxima do aproveitamento máximo de produtividade.
Pesquisas do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) calculam para um rendimento médio de 91% nas usinas que deve chegar a praticamente 100%, nos próximos anos, com a melhora do processo fermentativo – estágio onde mais ocorrem perdas.
A segunda geração de etanol está em processo de aprimoramento. Trata-se de produzir combustível a partir de resíduos vegetais, ricos em celulose, como o bagaço da cana-de-açúcar. Estima-se que uma destilaria que produz cerca de 1 milhão de litros de etanol por dia, com o caldo da cana, pode gerar mais 150 mil litros de etanol a partir do bagaço.
O cientista norte-americano Lee Lynd coordena estudos de uma técnica que possibilita a produção de etanol desses resíduos em uma única fase, e não em quatro, como usualmente. O processo, chamado de bioprocessamento consolidado (CBP, na sigla em inglês) é feito por microorganismos geneticamente modificados que produzem anaerobicamente substâncias enzimáticas com potencial mais avançado que as enzimas aplicadas em outros processos.
O pesquisador estima que a partir da segunda geração o mundo terá condições de atender até 25% da frota de veículos. "A cana, francamente, tem mais mérito em relação a outras culturas. E a biomassa celulósica é uma matéria prima bastante promissora", diz.
A cultura do Brasil se destaca por ser mais sustentável em relação às espécies plantadas com a mesma finalidade pelo mundo – têm baixas emissões de gases estufa, elevada produção de combustível por hectares e menores impactos sobre a poluição da água.
terça-feira, 19 de outubro de 2010
O economista chileno Manfred Max-Neef contrapõe crescimento econômico e qualidade de vida
O economista e ecologista chileno Manfred Max-Neef é considerado uma personalidade polêmica por andar na contramão da economia ortodoxa, por acreditar que o modelo atual de globalização é desastroso para o meio ambiente e, principalmente, por considerar que o crescimento econômico, depois de um determinado ponto, pode gerar queda na qualidade de vida das pessoas. Defensor do desenvolvimento local, ele sugere a criação de um sistema fiscal que tribute os gastos de energia e que fortaleça os pequenos negócios.
Max-Neef também ficou conhecido por suas idéias sobre as necessidades humanas, com base no ser, no ter, no estar e no fazer, e em necessidades como: subsistência, afeto, proteção, entendimento, participação, ócio, criação, identificação e liberdade. Para ele, as necessidades das pessoas são sempre as mesmas, independentemente de época e costumes. A diferença está no fator "satisfação". "As necessidades de um monge e de uma pessoa consumista são as mesmas. A diferença é a forma como eles satisfazem suas necessidades", afirma. Esse seu pensamento inspirou a exposição de artes sobre o tema "All We Need", que vai acontecer este ano em Luxemburgo, apontada como capital cultural da União Européia, em 2007.
Max-Neef deu aulas na Universidade da Califórnia, em Berkeley, e atuou como professor convidado em diversos locais dos Estados Unidos e da América Latina. Dedicou sua carreira aos problemas dos países em desenvolvimento da América Latina e registrou as principais experiências no livro From the Outside Looking In: Experiences in Barefoot Economics, ainda não publicado no Brasil. Por seus trabalhos, recebeu diversos prêmios, entre os quais o Right Livelihood Award, conhecido como "Prêmio Nobel alternativo", em 1983, o Premio Nacional por la Promoción y Defensa de los Derechos Humanos, do Chile, em 1987, e o University Award of Highest Honour, pela Soka University, do Japão, em 1997.
Durante o 15º. Seminário Internacional em Busca da Excelência, da Fundação Nacional da Qualidade (FNQ), que ocorreu entre os dias 11 e 13 de abril de 2007, Max-Neef esteve no Brasil. Em entrevista coletiva, falou aos jornalistas sobre suas principais teorias. A seguir, leia os trechos mais importantes.
Instituto Ethos: O senhor acredita que o crescimento econômico, após atingir um determinado ponto, tem efeito negativo para a sociedade?
Manfred Max-Neef: Segundo a Teoria do Umbral, que criei com meus colegas há 15 anos, o crescimento econômico está alinhado à qualidade de vida de uma sociedade somente até certo ponto. Depois disso, a tendência é que ele se torne maligno ao bem-estar das pessoas. Essa teoria foi comprovada em todos os países onde realizamos o estudo, como Estados Unidos, Inglaterra, Holanda, Suécia, Áustria, Dinamarca, Chile e Tailândia. Todos eles tiveram um grande período de crescimento econômico e desenvolvimento até o ano de 1970. Após essa data, o nível de qualidade de vida da população começou a cair. Para obter esse resultado, comparamos a curva de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) com a de outro índice, o Genuine Progress Indicator (GPI), que mede a qualidade de vida. Por meio de gráficos, percebemos que o crescimento econômico continuou aumentando, enquanto o GPI apresentou queda. Para mim, o PIB é um indicador muito curioso, no qual tudo pode ser somado sem levar em conta o que é bom ou o que é ruim. Por exemplo, os acidentes de carro, o aumento do consumo de serviços médicos e as epidemias são fantásticos para o PIB. No GPI o método é outro. Soma-se tudo aquilo que tem impacto positivo para a sociedade e deixam-se de lado os aspectos negativos, como os custos de poluição e de degradação do solo. O GPI também soma exterioridades que não são consideradas pelo PIB, como o trabalho doméstico e o trabalho voluntário. O PIB é um índice machista, pois para ele a parcela de mulheres no mundo que trabalha em casa (80%) não é considerada. O trabalho de uma pessoa que caminha quilômetros a fim de buscar água para sua família também não é acatado. Ou seja, o PIB não reflete o desenvolvimento da sociedade. Se o PIB de São Paulo for examinado durante 20 anos, vamos perceber que grande parte do investimento é destinado a corrigir problemas gerais decorrentes do crescimento excessivo da cidade. Essa verba poderia ter sido aplicada em outro projeto de maior utilidade para a sociedade. O crescimento após determinado momento se torna antropofágico.
Instituto Ethos: O senhor costuma dizer que as empresas estão amarradas num modelo do século passado. Como seria a empresa ideal para o momento em que estamos?
MM-N: Eu fiquei muito impressionado com uma indústria brasileira que visitei num desses dias, que é a Natura. Tive a percepção de que lá tudo está concentrado nas pessoas. A água consumida é reciclada. O que a empresa produz não afeta a natureza. Ela consegue explorar os recursos do próprio país. Todos os aspectos são coerentes com os princípios sustentáveis e com uma economia humanizada. Para muitas outras empresas, o mais importante é o lucro. A custo de quê? De explorar o trabalhador e destruir a natureza. Para mim, a empresa deste momento é aquela que coloca a economia a serviço das pessoas, e não o contrário.
Agência Sebrae: O senhor comentou sobre uma grande empresa. Mas como os pequenos negócios podem se adequar a esses padrões sustentáveis?
MM-N: Sozinhos não podem fazer grandes mudanças. É preciso uma política de Estado que estimule as boas práticas. A grande empresa pode fazer muitas coisas sem a permissão de ninguém, mas o pequeno precisa ser visto dentro de um contexto global. Uma das condições fundamentais para se ter uma boa economia e uma sociedade sustentável é modificar drasticamente o sistema tributário. Defendo que os impostos devam ser tributados de acordo com a energia que a empresa consome e não com o que ela ganha. Por que querem castigar alguém por trabalhar? Esse castigo deveria ser para quem consome muita energia ou para quem tem muitos automóveis. Se isso fosse feito, todas as empresas iriam descobrir formas de consumir menos energia. Já com o sistema tributário corrente não há nenhum estímulo nesse sentido. As empresas procuram o contador apenas para descobrir o que podem fazer para pagar menos impostos. Se as empresas fossem tributadas a partir do que elas gastam com energia, haveria uma grande mudança no sistema de comércio atual, que eu considero absurdo em termos ambientais. Qual o sentido de o Brasil exportar e importar sabão ao mesmo tempo para um mesmo país? A região em que vivo, no Chile, é uma grande produtora de leite, e mesmo assim você encontra no mercado local manteiga fabricada na Nova Zelândia. É um absurdo a quantidade de CO2 gerado sem necessidade para trazer esse produto de tão longe. Acredito que os processos econômicos devam ser analisados a partir da perspectiva dos gastos energéticos. A globalização acontece porque gera crescimento para o PIB, mas é um agressão à biosfera.
Instituto Ethos: É por isso que o senhor é contra o Acordo de Livre Comércio das Américas (Alca)?
MM-N: Não é só por isso. Os tratados de livre comércio não são livres. Os grandes sócios acabam tendo direitos com os quais os pequenos não são contemplados. Os Estados Unidos, por exemplo, não enfrentam problemas por subsidiar seus produtos agrícolas, enquanto os governos mexicano e chileno sofreriam retaliações se o fizessem. As conseqüências dessa forma de comércio são devastadoras. O milho no México, por exemplo, não é apenas um produto econômico. Esse grão faz parte da cultura mexicana, de seus mitos e de seus deuses. Mas, hoje, 40% do milho consumido no México é importado dos Estados Unidos, onde foi subsidiado. Muito desse milho é transgênico e já está contaminando as plantações nativas mexicanas, por meio da polinização. Isso é um tratado que se pode chamar de livre comércio?
Instituto Ethos: Para que a sustentabilidade seja vista como um bom negócio, é preciso alterar o modo de pensar da sociedade. Como conseguir essa mudança de paradigma?
MM-N: Isso se faz por meio de um grande contrato social entre empresários, governo e trabalhadores, os quais decidem aquilo que querem para o país. Isso aconteceu na Suécia. O país se preparou durante dez anos para uma mudança no sistema tributário. Embora pague o imposto mais alto do mundo, cada cidadão está garantido por toda a vida. E o salário do presidente de uma empresa é apenas cinco vezes maior do que o do faxineiro. No Chile, essa diferença é de pelo menos 200 vezes. O maior crime que o homem pode cometer na Suécia é ser machista e não pagar impostos. Esse é o grau de consciência deles.
FNQ: O controle populacional é um aspecto importante da sustentabilidade?
MM-N: Há um erro muito grande nesse pensamento, porque para a demografia toda pessoa é igual. E isso não é verdade. Não estou falando em relação a raça ou gênero. Eu me refiro ao peso de cada pessoa para a biosfera. Um bebê que nasce nos EUA equivale a 20 bebês nascidos em Serra Leoa. Os EUA têm um grande peso mesmo em relação a países mais populosos. Os 300 milhões de cidadãos americanos consomem três vezes mais do que a China, com seu 1,3 bilhão de habitantes, e nove vezes mais do que a Índia, que tem 1 bilhão.
Instituto Ethos: Qual é o papel das universidades nesse contexto, que exige mudanças de comportamento da sociedade?
MM-N: A universidade não está cumprindo o papel que deveria. Ela deixou de ser uma instituição orientadora, que fazia críticas à sociedade, para se converter numa máquina a serviço do mercado. A universidade é cúmplice de um mundo que ela não aprova. Considero um escândalo o modo como a economia vem sendo ensinada dentro das escolas e como ela é aplicada na prática. Estou profundamente decepcionado com o que aconteceu com essa disciplina. Como é possível educar um economista hoje com livros clássicos que não contêm palavras como ecossistema e natureza? Como é possível aceitar que a economia se considere um sistema fechado, sem nenhuma relação com outros sistemas? Um economista não pode ignorar o funcionamento do ecossistema. Se isso ocorre, a responsabilidade é da universidade. Para ensinar aos alunos temas relacionados ao meio ambiente, o professor precisa fazê-lo por fora, como subversivo.
FNQ: O senhor se considera um otimista ou um pessimista?
MM-N: O pessimista acredita que já não há mais nada a fazer, enquanto o otimista não faz nada porque acha que o mundo está ótimo. Eu me considero um pessimista ativo. Creio que as coisas não estão bem e que precisamos nos adaptar a isso da melhor forma possível. É preciso surgir neste século a filosofia da solidariedade. Estamos todos na mesma situação. Se não formos solidários, não estaremos preparados para as condições desse novo planeta. Não ser solidário é estúpido e um mau negócio.
Instituto Ethos: Na opinião do senhor, de que forma as mudanças climáticas afetarão os povos da América Latina?
MM-N: Calcula-se que pelo menos 2 milhões de pessoas terão grave carência de água, porque o aquecimento global vai afetar as neves eternas dos Andes e a grande maioria das cidades localizadas nessa região é abastecida por águas de degelo. Isso vai provocar uma migração sem precedentes. E para onde irão essas pessoas? Quem vai abrir as portas para tanta gente? Enfrentaremos um problema de solidariedade muito forte. Mas a tendência é que se levantem muros. É muito brutal que essa filosofia de cobiça e acumulação continue existindo.
Instituto Ethos: Por que o senhor costuma dizer que acredita mais nos empresários do que nos políticos?
MM-N: Há 30 anos eu fiz parte de um setor que acreditava que os empresários eram os maus da história e nós é que éramos os bons. Somente quando comecei a me abrir para o diálogo com as empresas é que percebi que estava completamente equivocado. Descobri que a grande maioria dos empresários quer dialogar e está sempre aberto a mudanças. Usando argumentos concretos, é possível convencê-los do melhor caminho a seguir. Já com os políticos é diferente. Eles estão sempre pensando no próximo ano e nos números que lhes interessam.
FNQ: E por que, mesmo sabendo disso, o senhor foi candidato à presidência do Chile, em 1993?
MM-N: A primeira coisa que eu disse quando me candidatei à presidência de meu país foi que eu não tinha nenhum interesse em assumir o cargo. Minha candidatura foi uma desculpa para colocar em pauta assuntos que não faziam parte das discussões políticas. Apenas quis ser o candidato dos temas ausentes.
Instituto Ethos: O senhor acredita que os governos na América Latina estejam incluindo a sustentabilidade em suas pautas?
MM-N: Acredito que poucos têm consciência do que está acontecendo. A Costa Rica, por exemplo, é um lugar que já despertou para o problema. O país tem muitas iniciativas que visam a sustentabilidade e melhor uso dos recursos ambientais. Mas ainda é muito pouco. Deveria haver muito mais. O Brasil é um caso extraordinário. Vocês têm uma responsabilidade histórica descomunal, porque são donos da maior biodiversidade do planeta. E o que estão fazendo? A Amazônia continua sendo destruída, porque a obsessão pelo crescimento econômico é muito maior.
Fonte: www.ethos.org.br - Notícias da Semana
Max-Neef também ficou conhecido por suas idéias sobre as necessidades humanas, com base no ser, no ter, no estar e no fazer, e em necessidades como: subsistência, afeto, proteção, entendimento, participação, ócio, criação, identificação e liberdade. Para ele, as necessidades das pessoas são sempre as mesmas, independentemente de época e costumes. A diferença está no fator "satisfação". "As necessidades de um monge e de uma pessoa consumista são as mesmas. A diferença é a forma como eles satisfazem suas necessidades", afirma. Esse seu pensamento inspirou a exposição de artes sobre o tema "All We Need", que vai acontecer este ano em Luxemburgo, apontada como capital cultural da União Européia, em 2007.
Max-Neef deu aulas na Universidade da Califórnia, em Berkeley, e atuou como professor convidado em diversos locais dos Estados Unidos e da América Latina. Dedicou sua carreira aos problemas dos países em desenvolvimento da América Latina e registrou as principais experiências no livro From the Outside Looking In: Experiences in Barefoot Economics, ainda não publicado no Brasil. Por seus trabalhos, recebeu diversos prêmios, entre os quais o Right Livelihood Award, conhecido como "Prêmio Nobel alternativo", em 1983, o Premio Nacional por la Promoción y Defensa de los Derechos Humanos, do Chile, em 1987, e o University Award of Highest Honour, pela Soka University, do Japão, em 1997.
Durante o 15º. Seminário Internacional em Busca da Excelência, da Fundação Nacional da Qualidade (FNQ), que ocorreu entre os dias 11 e 13 de abril de 2007, Max-Neef esteve no Brasil. Em entrevista coletiva, falou aos jornalistas sobre suas principais teorias. A seguir, leia os trechos mais importantes.
Instituto Ethos: O senhor acredita que o crescimento econômico, após atingir um determinado ponto, tem efeito negativo para a sociedade?
Manfred Max-Neef: Segundo a Teoria do Umbral, que criei com meus colegas há 15 anos, o crescimento econômico está alinhado à qualidade de vida de uma sociedade somente até certo ponto. Depois disso, a tendência é que ele se torne maligno ao bem-estar das pessoas. Essa teoria foi comprovada em todos os países onde realizamos o estudo, como Estados Unidos, Inglaterra, Holanda, Suécia, Áustria, Dinamarca, Chile e Tailândia. Todos eles tiveram um grande período de crescimento econômico e desenvolvimento até o ano de 1970. Após essa data, o nível de qualidade de vida da população começou a cair. Para obter esse resultado, comparamos a curva de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) com a de outro índice, o Genuine Progress Indicator (GPI), que mede a qualidade de vida. Por meio de gráficos, percebemos que o crescimento econômico continuou aumentando, enquanto o GPI apresentou queda. Para mim, o PIB é um indicador muito curioso, no qual tudo pode ser somado sem levar em conta o que é bom ou o que é ruim. Por exemplo, os acidentes de carro, o aumento do consumo de serviços médicos e as epidemias são fantásticos para o PIB. No GPI o método é outro. Soma-se tudo aquilo que tem impacto positivo para a sociedade e deixam-se de lado os aspectos negativos, como os custos de poluição e de degradação do solo. O GPI também soma exterioridades que não são consideradas pelo PIB, como o trabalho doméstico e o trabalho voluntário. O PIB é um índice machista, pois para ele a parcela de mulheres no mundo que trabalha em casa (80%) não é considerada. O trabalho de uma pessoa que caminha quilômetros a fim de buscar água para sua família também não é acatado. Ou seja, o PIB não reflete o desenvolvimento da sociedade. Se o PIB de São Paulo for examinado durante 20 anos, vamos perceber que grande parte do investimento é destinado a corrigir problemas gerais decorrentes do crescimento excessivo da cidade. Essa verba poderia ter sido aplicada em outro projeto de maior utilidade para a sociedade. O crescimento após determinado momento se torna antropofágico.
Instituto Ethos: O senhor costuma dizer que as empresas estão amarradas num modelo do século passado. Como seria a empresa ideal para o momento em que estamos?
MM-N: Eu fiquei muito impressionado com uma indústria brasileira que visitei num desses dias, que é a Natura. Tive a percepção de que lá tudo está concentrado nas pessoas. A água consumida é reciclada. O que a empresa produz não afeta a natureza. Ela consegue explorar os recursos do próprio país. Todos os aspectos são coerentes com os princípios sustentáveis e com uma economia humanizada. Para muitas outras empresas, o mais importante é o lucro. A custo de quê? De explorar o trabalhador e destruir a natureza. Para mim, a empresa deste momento é aquela que coloca a economia a serviço das pessoas, e não o contrário.
Agência Sebrae: O senhor comentou sobre uma grande empresa. Mas como os pequenos negócios podem se adequar a esses padrões sustentáveis?
MM-N: Sozinhos não podem fazer grandes mudanças. É preciso uma política de Estado que estimule as boas práticas. A grande empresa pode fazer muitas coisas sem a permissão de ninguém, mas o pequeno precisa ser visto dentro de um contexto global. Uma das condições fundamentais para se ter uma boa economia e uma sociedade sustentável é modificar drasticamente o sistema tributário. Defendo que os impostos devam ser tributados de acordo com a energia que a empresa consome e não com o que ela ganha. Por que querem castigar alguém por trabalhar? Esse castigo deveria ser para quem consome muita energia ou para quem tem muitos automóveis. Se isso fosse feito, todas as empresas iriam descobrir formas de consumir menos energia. Já com o sistema tributário corrente não há nenhum estímulo nesse sentido. As empresas procuram o contador apenas para descobrir o que podem fazer para pagar menos impostos. Se as empresas fossem tributadas a partir do que elas gastam com energia, haveria uma grande mudança no sistema de comércio atual, que eu considero absurdo em termos ambientais. Qual o sentido de o Brasil exportar e importar sabão ao mesmo tempo para um mesmo país? A região em que vivo, no Chile, é uma grande produtora de leite, e mesmo assim você encontra no mercado local manteiga fabricada na Nova Zelândia. É um absurdo a quantidade de CO2 gerado sem necessidade para trazer esse produto de tão longe. Acredito que os processos econômicos devam ser analisados a partir da perspectiva dos gastos energéticos. A globalização acontece porque gera crescimento para o PIB, mas é um agressão à biosfera.
Instituto Ethos: É por isso que o senhor é contra o Acordo de Livre Comércio das Américas (Alca)?
MM-N: Não é só por isso. Os tratados de livre comércio não são livres. Os grandes sócios acabam tendo direitos com os quais os pequenos não são contemplados. Os Estados Unidos, por exemplo, não enfrentam problemas por subsidiar seus produtos agrícolas, enquanto os governos mexicano e chileno sofreriam retaliações se o fizessem. As conseqüências dessa forma de comércio são devastadoras. O milho no México, por exemplo, não é apenas um produto econômico. Esse grão faz parte da cultura mexicana, de seus mitos e de seus deuses. Mas, hoje, 40% do milho consumido no México é importado dos Estados Unidos, onde foi subsidiado. Muito desse milho é transgênico e já está contaminando as plantações nativas mexicanas, por meio da polinização. Isso é um tratado que se pode chamar de livre comércio?
Instituto Ethos: Para que a sustentabilidade seja vista como um bom negócio, é preciso alterar o modo de pensar da sociedade. Como conseguir essa mudança de paradigma?
MM-N: Isso se faz por meio de um grande contrato social entre empresários, governo e trabalhadores, os quais decidem aquilo que querem para o país. Isso aconteceu na Suécia. O país se preparou durante dez anos para uma mudança no sistema tributário. Embora pague o imposto mais alto do mundo, cada cidadão está garantido por toda a vida. E o salário do presidente de uma empresa é apenas cinco vezes maior do que o do faxineiro. No Chile, essa diferença é de pelo menos 200 vezes. O maior crime que o homem pode cometer na Suécia é ser machista e não pagar impostos. Esse é o grau de consciência deles.
FNQ: O controle populacional é um aspecto importante da sustentabilidade?
MM-N: Há um erro muito grande nesse pensamento, porque para a demografia toda pessoa é igual. E isso não é verdade. Não estou falando em relação a raça ou gênero. Eu me refiro ao peso de cada pessoa para a biosfera. Um bebê que nasce nos EUA equivale a 20 bebês nascidos em Serra Leoa. Os EUA têm um grande peso mesmo em relação a países mais populosos. Os 300 milhões de cidadãos americanos consomem três vezes mais do que a China, com seu 1,3 bilhão de habitantes, e nove vezes mais do que a Índia, que tem 1 bilhão.
Instituto Ethos: Qual é o papel das universidades nesse contexto, que exige mudanças de comportamento da sociedade?
MM-N: A universidade não está cumprindo o papel que deveria. Ela deixou de ser uma instituição orientadora, que fazia críticas à sociedade, para se converter numa máquina a serviço do mercado. A universidade é cúmplice de um mundo que ela não aprova. Considero um escândalo o modo como a economia vem sendo ensinada dentro das escolas e como ela é aplicada na prática. Estou profundamente decepcionado com o que aconteceu com essa disciplina. Como é possível educar um economista hoje com livros clássicos que não contêm palavras como ecossistema e natureza? Como é possível aceitar que a economia se considere um sistema fechado, sem nenhuma relação com outros sistemas? Um economista não pode ignorar o funcionamento do ecossistema. Se isso ocorre, a responsabilidade é da universidade. Para ensinar aos alunos temas relacionados ao meio ambiente, o professor precisa fazê-lo por fora, como subversivo.
FNQ: O senhor se considera um otimista ou um pessimista?
MM-N: O pessimista acredita que já não há mais nada a fazer, enquanto o otimista não faz nada porque acha que o mundo está ótimo. Eu me considero um pessimista ativo. Creio que as coisas não estão bem e que precisamos nos adaptar a isso da melhor forma possível. É preciso surgir neste século a filosofia da solidariedade. Estamos todos na mesma situação. Se não formos solidários, não estaremos preparados para as condições desse novo planeta. Não ser solidário é estúpido e um mau negócio.
Instituto Ethos: Na opinião do senhor, de que forma as mudanças climáticas afetarão os povos da América Latina?
MM-N: Calcula-se que pelo menos 2 milhões de pessoas terão grave carência de água, porque o aquecimento global vai afetar as neves eternas dos Andes e a grande maioria das cidades localizadas nessa região é abastecida por águas de degelo. Isso vai provocar uma migração sem precedentes. E para onde irão essas pessoas? Quem vai abrir as portas para tanta gente? Enfrentaremos um problema de solidariedade muito forte. Mas a tendência é que se levantem muros. É muito brutal que essa filosofia de cobiça e acumulação continue existindo.
Instituto Ethos: Por que o senhor costuma dizer que acredita mais nos empresários do que nos políticos?
MM-N: Há 30 anos eu fiz parte de um setor que acreditava que os empresários eram os maus da história e nós é que éramos os bons. Somente quando comecei a me abrir para o diálogo com as empresas é que percebi que estava completamente equivocado. Descobri que a grande maioria dos empresários quer dialogar e está sempre aberto a mudanças. Usando argumentos concretos, é possível convencê-los do melhor caminho a seguir. Já com os políticos é diferente. Eles estão sempre pensando no próximo ano e nos números que lhes interessam.
FNQ: E por que, mesmo sabendo disso, o senhor foi candidato à presidência do Chile, em 1993?
MM-N: A primeira coisa que eu disse quando me candidatei à presidência de meu país foi que eu não tinha nenhum interesse em assumir o cargo. Minha candidatura foi uma desculpa para colocar em pauta assuntos que não faziam parte das discussões políticas. Apenas quis ser o candidato dos temas ausentes.
Instituto Ethos: O senhor acredita que os governos na América Latina estejam incluindo a sustentabilidade em suas pautas?
MM-N: Acredito que poucos têm consciência do que está acontecendo. A Costa Rica, por exemplo, é um lugar que já despertou para o problema. O país tem muitas iniciativas que visam a sustentabilidade e melhor uso dos recursos ambientais. Mas ainda é muito pouco. Deveria haver muito mais. O Brasil é um caso extraordinário. Vocês têm uma responsabilidade histórica descomunal, porque são donos da maior biodiversidade do planeta. E o que estão fazendo? A Amazônia continua sendo destruída, porque a obsessão pelo crescimento econômico é muito maior.
Fonte: www.ethos.org.br - Notícias da Semana
domingo, 10 de outubro de 2010
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